Edgar J. Oliveira: o mineirinho que foi buscar ouro negro no velho sudeste

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Por Paulo Atzingen*

Ele chegou a São Paulo no dia 2 de julho de 1985 e se hospedou em um hotel de quinta categoria na Vila Buarque, pagando 30 cruzeiros a pernoite. Foi acordado por policiais que colocaram abaixo a porta do cubículo no qual dormia. Descobriu que havia se hospedado em uma boca de fumo. Mostrou sua passagem de ônibus aos meganhas e foi liberado. Este retirante acabava de chegar de Santo Antonio do Monte – Centro Oeste de Minas, uma cidadezinha de 30 mil habitantes e trazia toda a esperança e inocência da vida das serras mineiras.   A terra da garoa sempre parece hostil à primeira vista.

Trocou de hotel, arrumou emprego como datilógrafo de crachás, fez amigos mineiros (uma espécie de Clube da Esquina na Paulicéia) e entrou no grupo Votorantim ficando de 1987 a 1991. Pingou de um emprego a outro passando pela área publicitária, redator de rádio e editor de revistas de bairro. Sem parente e aderente, conseguiu estudar  jornalismo.

“Se ficasse lá em Santo Antonio do Monte trabalharia em lavoura ou em alguma fábrica de rojões, já que minha cidade natal é onde ficam as principais indústrias de fogos artifícios do Brasil”, fala Edgar com seu mineirismo dialetal.

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Sem capital de giro

Hoje, Edgar J. Oliveira comemora 15 anos de sua Revista Hotéis. Com periodicidade regular e com tiragem impressa de primeira linha, o publisher lançou-se na indústria gráfica da maior capital do país com a cara e a coragem de poucos brasileiros. “Não tinha capital de giro, nem linhas de financiamento. Apenas 60 cruzeiros no bolso”, lembra o publisher. Edgar chega a esta linha divisória de carreira – período em que a maturidade de um negócio se estabelece – concomitantemente a um estio econômico e com um mercado medroso, espantado e abatido com a crise.

Mas não é que o Edgar – bem ao estilo desbravador norteamericano  – vai furar buraco no velho oeste e encontra vestígios de ouro negro? De dois anos para cá organiza Fóruns de discussão de assuntos relacionados à hotelaria reunindo grandes debatedores e agregando valor ao seu trabalho e ao seu projeto editorial. E nota-se, que faz esses encontros com o prazer de um desbravador, de um profissional que gosta de desafios, que é sonhador, longe daquele perfil megalomaníaco empresarial que quer faturar com esse negócio de fazer eventos, sem cara (caráter) e sem assinatura.

Com uma equipe enxuta e com o braço e cabeça da esposa Helena Ota, Edgar divide seu tempo escrevendo, acompanhando a paginação e impressão da revista, vendendo anúncios e agora, promovendo encontros entre hoteleiros.

Furador de pedra

Acredito que tenha sido essa simplicidade de mineirinho com seu sotaque beirando os causos de Rolando Boldrin (o senhor Brasil) a pedra de toque para o sucesso do Edgar.  Sua capacidade de convencer um  investidor ou patrocinador de seus projetos contém um grau de franqueza e simplicidade raros na grande maioria daqueles que tentam – com todas as suas sofisticações – e por excesso, fracassam.

É bom termos no mercado do turismo e da hotelaria esses perfis furadores de pedra, que buscam ouro negro e encontram pelo caminho todos os tipos de dificuldade – muitas vezes imposta por aqueles que sempre pregaram prego em bananeira.

Ao Edgar, remanescente da estirpe das terras de Minas Gerais, explorador, datilógrafo, gráfico, furador de pedra, publisher, organizador de eventos, a minha admiração e respeito. O Brasil precisa de gente assim. Aos que pregam prego em bananeira e nela penduram quadros de honra ao seu próprio mérito, a minha deferência orgânica verde e amarela.

*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO E DIÁRIO DOS HOTÉIS

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