Leia discurso do presidente do BID, Luis A. Moreno, durante Brazil Investment Forum

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REDAÇÃO DO DIÁRIO

O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, durante o Brazil Investment Forum que acontece nesta terça-feira (30), em São Paulo proferiu um discurso de alento à sociedade brasileira. De nacionalidade colombiana, Moreno analisa o pessimismo reinante no Brasil, no entanto, faz uma breve comparação ao seu país, a Colômbia, que esteve durante décadas entregue ao narcotráfico: “Tínhamos duas opções: ou lutávamos contra os violentos ou nos resignávamos a ser um estado falido. E optamos por recuperar nosso país, o que nos custou mais de uma década de sangue, suor e lágrimas, mas conseguimos”. Ao final de seu discurso cita as ações judiciais que estão sendo feitas e de que há esperança: “Um país que tem tudo para triunfar”.  Leia na íntegra:

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Quero agradecer a todos, que vieram de longe e de perto, para nos acompanhar hoje.

Nossa intenção era reunir a líderes dos setores público e privado do Brasil e a potenciais investidores estrangeiros para analisar a nova realidade da maior economia da América Latina.

Muitos de vocês não vivem no Brasil. Sua visão deste grande país está influenciada pela cobertura da imprensa internacional, que tem uma atenção esporádica e prioriza muitas vezes as más notícias. Eu sei porque em outro tempo de minha vida fui produtor executivo de um telejornal.

Muitos de vocês, sim, vivem aqui e levam anos sob um bombardeio diário de pessimismo. Como uma frase que li dias atrás em uma coluna: “no Brasil, o fundo do poço é só uma etapa”. Este pessimismo é compreensível porque todos sabemos que o Brasil atravessa um momento muito difícil. Mas hoje quero oferecer a vocês uma perspectiva diferente.

Vou falar como cidadão da Colômbia, um país que há menos de duas décadas, muitos davam por perdido. Meu país passou anos sob ataques de exércitos guerrilheiros, comandos paramilitares e narcotraficantes que não pensavam duas vezes antes de corromper, aterrorizar ou matar a quem atravessasse o caminho.

Pouco a pouco, o governo foi perdendo controle de grande parte do território nacional. E muitos cidadãos perderam toda a confiança no país e em suas instituições. A Colômbia realmente chegou ao fundo.

Nessa encruzilhada, tínhamos duas opções: ou lutávamos contra os violentos ou nos resignávamos a ser um estado falido. E optamos por recuperar nosso país, o que nos custou mais de uma década de sangue, suor e lágrimas, mas conseguimos.

Não chegou nenhum líder providencial para nos salvar. Fomos adiante graças ao compromisso de milhões de cidadãos com as mesmas fortalezas e fragilidades que todos os seres humanos possuem.

E por isso me pergunto: se conseguimos na Colômbia, como o Brasil, que tem tudo, não vai seguir adiante? Como não se recuperaria o Brasil, que sempre encontrou respostas com respeito à democracia, e com respeito à sua constituição?

Agora, falando como presidente de um banco de desenvolvimento, deixem-me contar porque estou convencido de que este é o momento de apostar no futuro do Brasil. Meu trabalho me leva a correr o mundo em busca de soluções para os problemas do desenvolvimento. Conheci países bem-sucedidos y países marcados pelo fracasso.

Os países que não avançam são os que se aferram a modelos que não funcionam, os que não se animam a mudar, e os que não chegam a grandes consensos sobre reformas fundamentais. O Brasil não está nessa categoria.

Hoje em plena crise, o Brasil está levando adiante grandes reformas para se modernizar. Reformas que nem os países ricos se atrevem a encarar. É quase impossível não exagerar a importância do que está passando.

Por um lado, o Brasil propõe reformar um sistema público de aposentadorias extremamente caro e socialmente injusto. Para aqueles que vem dos Estados Unidos, é como reformar o Social Security – algo que nenhum presidente se atreve a tocar porque os riscos políticos são muito grandes.

Simultaneamente, o Brasil está avançando para flexibilizar suas leis trabalhistas, para fortalecer a competitividade de suas empresas. Para aqueles que vêm da Europa, imaginem se a Espanha, França ou Itália tentam fazer o mesmo.

Pois isso é o que o Brasil tem feito durante o último ano: está levando adiante duas grandes reformas ao mesmo tempo em que lida com uma das maiores crises políticas de sua história.

Para alguns, esta crise é um sinal de alerta, mas aqui também tenho uma perspectiva diferente. Eu acredito que este é um ponto de inflexão não apenas para o Brasil, mas para toda a América Latina.

A sociedade brasileira está passando por um processo similar a outros países onde os cidadãos decidiram exigir transparência e probidade de seus governos.

Estes processos podem ser lentos e dolorosos, e quase sempre são fruto de uma ruptura com modelos esgotados. O historiador Francis Fukuyama lembra que os Estados Unidos levaram mais de cem anos para começar a combater a corrupção em seu governo federal. E hoje ainda é uma preocupação constante.

Os cidadãos brasileiros compartilham essa mesma preocupação, e apesar dos custos, querem que as investigações cheguem até as últimas consequências. E como nunca antes na história de nossa região, os responsáveis estão prestando contas.

Eu não sei quando esse processo será concluído. Mas tenho certeza de que o Brasil sairá fortalecido dessa grande prova. Os brasileiros vão recuperar a confiança em suas instituições e em seu país

Posso assegurar a vocês que os olhos de toda a América Latina estão sobre o que acontece hoje no Brasil. Este país sempre foi uma referência para nossa região. Mas hoje está às vésperas de criar um novo paradigma de probidade e respeito pela lei. Algo pelo qual nossa gente vem reclamando por muito tempo.

Eu não sei quando esse processo será concluído. Mas tenho certeza de que o Brasil sairá fortalecido dessa grande prova. Os brasileiros vão recuperar a confiança em suas instituições e em seu país. E voltarão a ver o potencial que reconhecemos todos os estrangeiros que estamos hoje nessa sala.

Um país que, mesmo com dois anos de recessão, segue como a nona economia do mundo, com um PIB maior que o da Austrália, Canadá ou Rússia. Um país que voltará a crescer. Um país que diminuiu a inflação a um dígito. Um país capaz de alimentar a boa parte do planeta. Um país com uma enorme base industrial e um sofisticado setor de serviços.

Um país com as melhores universidades da região e uma comprovada capacidade para inovar. Um país com a maior classe média da América Latina. Um país onde não há um dia em que não se anuncie um novo investimento estrangeiro. Um país que tem tudo para triunfar.

Disso, não tenho dúvida.

Obrigado.

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