Preços menores aos moradores locais em atrativos turísticos: inclusão ou exclusão?

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Locais tendem (em média e com desvio padrão muito baixo) a dar menos valor ao que é local, o que é até natural

por Eduardo Mielke*
Muita, mas muita gente acha que cobrar mais barato dos moradores locais, é uma estratégia de encoraja-los a valorização daquilo que é local. E mais gente ainda, carregando a bandeira jupiteriana da “justiça social”, defende a ideia que o Turista,  deve pagar mais, por poder pagar mais. Mas, será que isso é explorar o turismo ou é turismo de exploração? A diferença é justificável?
Para ambientar… Os preços em Petra, Jordânia, por exemplo estão na proporção de 12/1, ou seja, o Turista paga 12 vezes a mais para o mesmo serviço. O mesmo ocorre para entrar no Parque das Aves, em Foz em Iguaçu a proporção é de 4/1. Há inúmeros outros casos em todo lugar…
O Gestão & Política de Turismo no Município é totalmente contra esta prática. E aqui vão os argumentos:
PRIMEIRO. A diferença de preços causa uma divisão entre “nós e eles”. A sensação de desvantagem, cria um ambiente de desconforto. Se existe uma diferença, deve haver um benefício. Caso contrário, a experiência, para o turista, já começa com o pé esquerdo.
SEGUNDO. Locais tendem (em média e com desvio padrão muito baixo) a dar menos valor ao que é local, o que é até natural. O fato de cobrar menos não fará com que eles passem a visitar mais ou dar mais valor, àquilo que eles já tem. Esta relação não é verdadeira. Ela não se comprova como estratégia de promoção turística.
TERCEIRO. Este pensamento potencializa a cultura do extrativismo, ferindo tudo aquilo que chamamos de responsável ou inteligente, já que estamos na era dos Destinos Inteligentes ou Responsáveis. Contribui para aquele jargão “..ali é caro, pois é lugar de turista”, que em outras palavras, traduz-se no pior impacto possível que a Sociologia do Turismo prega desde os anos 70.
QUARTO. O dano causado pelo tarifado diferenciado multiplica-se , e é muito maior do que você possa imaginar. É um processo que contamina outros negócios tanto diretamente, onde há casos onde há cardápios com preços diferenciados. Mas, também indiretamente, quando há uma pressão por aumento de preço, como por exemplo do transporte. Na realidade, isto impacta até para o próprio local, que na maioria das vezes, nada tem a ver com a atividade turística.
Veja. Esta diferença que de nada tem de justa, passa a ser percebida pelos comerciantes do entorno como um aval moral. Algo como uma permissão em ver o turista, como uma fonte mais rápida de ganhar dinheiro (OBS: lê-se aqui “ganhar dinheiro” da forma mais horrorosa do mundo). Porém, não pense que as pessoas não percebem aquele olhar de cifrão… Quem já passou por isso, sabe bem o que é, não é mesmo? Pense nisso.
Portanto, se quer unir o último ao bem agradável, faça direito!! Combine com os principais envolvidos e eleja um determinado dia(s) do mês ou semana, que seja 100% gratuito para moradores. Simples assim. Organize o fluxo turístico, bem como seu destino. Trata-se um movimento que faz com este desconforto seja mitigado/minimizado.
Discuta este assunto no COMTUR. Essa é a Arena de Acordos para este tipo de acordo. Nunca decida sozinho. Além de não  funcionar, criará o efeito inverso. Uma dica: se você é Secretário de Turismo e me lê, ouça o mercado, sobretudo os Guias e as Agências/Operadoras de Receptivo. E se você é do mercado proponha isso, afinal de contas você também é um local.
Dúvidas, sugestões ou esclarecimentos? Escreva! Se gostou curta a fanpage e compartilhe.
Obrigado e até próxima quinzena.
*Eduardo Mielke é doutor em Turismo pela Universidade de Málaga (Esp), e escreve sobre Gestão e Política de Turismo no Município.
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