Realizar muitos eventos ajuda ou atrapalha?

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O sucesso de eventos profissionais, como feiras de negócios, congressos e encontros “business-to-business” (B2B), depende da harmonia de três elementos: criar um ambiente ideal para conexão de pessoas, capacitação técnica, e a realização de bons negócios. Quando este equilíbrio não ocorre, o que seria oportunidade vira só estorvo.

Isto é particularmente verdadeiro na indústria de viagens e turismo. Pela atividade exigir completa dedicação e foco no cliente da direção e profissionais, afastá-los da operação para participar em eventos de validade duvidosa não é apenas perda de tempo, mas despesa inútil.

À primeira vista, a multiplicidade e quantidade de encontros de turismo que ocorrem no Brasil pode impressionar. No entanto, a julgar pelos baixos índices de crescimento de viajantes domésticos e internacionais nos últimos anos, gasta-se vela demais com o defunto.

Como explicar a disfuncionalidade de incontáveis eventos de turismo em tantos segmentos, principalmente agentes de viagens e hotelaria, alguns até em duplicidade por setor, e em inúmeros lugares, numa insana corrida por verbas e patrocínios?

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Há pelo menos três causas. A primeira é que realizar evento se tornou demonstração de poder e status dos organizadores, talvez uma forma obtusa de algumas lideranças mostrarem um serviço inexistente.

A segunda explicação é que alguns segmentos do turismo resolveram transformar eventos em “vaca leiteira”. Ou seja, virou uma forma de fazer caixa para sua combalida associação de classe. Como quem lida com turismo não entende patavina de organização de exposições, estas realizações acabam se tornando pesadelos capengas e sem brilho, em um evidente desvio de finalidade. É tão absurdo como uma livraria deficitária começar a vender galinhas e pneus para melhorar os ganhos.

Finalmente, a fragmentação destes eventos de viagens e turismo sob tamanhos e formas diversos é causada pela falta de visão global do setor, que, ao não perceber a interdependência entre as partes, defende só o seu quintal, como se fosse possível isolar-se da própria cadeia econômica.

O turismo brasileiro estaria então condenado a viver esta situação? De jeito nenhum. Há claros sinais de que os ventos estão mudando, e o bom senso começa a prevalecer.

Muitos empresários já perceberam que a estratégia atual é inadequada. Ao mesmo tempo que abandonam encontros de turismo que não levem a resultados concretos, investem em reuniões próprias para funcionários, clientes e fornecedores. Aliás, esta é fórmula não chega a ser novidade, pois está consagrada em setores mais bem-sucedidos da economia. Há ainda associações que perceberam que a “desunião faz a fraqueza”. Por isto, ou cancelaram realizações individuais, ou se juntaram às melhores.

Cresce assim no setor espaço para encontros feitos por profissionais. Um bom exemplo é a World Trade Market (WTM), em sua versão para a América Latina. Não se trata de qualquer empresa. É uma unidade de negócios da inglesa Reed Travel Exhibitions, principal organizadora de eventos no mundo, que acumula mais de 500 realizações em 30 países. O poder de fogo da WTM também é incontestável: facilita negócios da indústria de turismo global equivalentes a $7 bilhões anuais.

No Brasil, com apenas cinco edições a WTM já mostrou a que veio. A exposição de 2017 recebeu quase 10 mil participantes do setor de viagens e turismo – entre profissionais, autoridades e jornalistas – um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Mais de mil compradores interagiram em 12 mil reuniões com destinos, prestadores de serviços e expositores, gerando negócios estimados em US$ 370 milhões.

Ao profissionalizar a realização de eventos por quem realmente entende e tem experiência no ramo, o turismo nacional conseguiria enfim acesso ao melhor expertise e oportunidades de negócios internacionais. Além disso, poderia liberar executivos e profissionais para cuidar do seu real “core business”, e evitar desgastantes disputas por verbas tanto da iniciativa privada quanto governamentais. Concentrados, estes escassos recursos poderiam ser melhor investidos em uma única e poderosa iniciativa em prol do interesse comum, que é o incremento do turismo brasileiro.

*Fabio Steinberg é jornalista
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