Executivo da GOL defende transição energética, mas faz ressalvas

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Como mídia convidada, o DIÁRIO participou nesta segunda-feira (14), do webinar “Os desafios dos segmentos de difícil descarbonização”, que teve a participação dos executivos Pedro Rodrigo Scorza, Assessor de Projetos Ambientais (ESG) da Gol Linhas Aéreas, Claudia Sender – integrante do Conselho de Administração da Embraer e da Gerdau e Roberto Schaeffer – professor Titular do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ.

REDAÇÃO DO DIÁRIO


O webinar fez parte do Programa de Transição Energética, iniciativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e teve como moderadores Rafaela Guedes – senior Fellow do CEBRI, Economista Chefe da Petrobrás e Gregório Araújo – gerente Setorial de Estratégia e Planejamento da Petrobras.

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Após o evento, o DIÁRIO entrevistou Pedro Rodrigo Scorza, que abordou as estratégias da Companhia por ações que diminuam o impacto ambiental, na chamada transição energética. A GOL anunciou na última semana seu compromisso com o balanço zero de carbono até 2050.

DIÁRIO: Pedro, em sua apresentação você fala que a “Indústria da Aviação está segura dos caminhos que deve seguir para a transição energética”, e cita ganhos de eficiência, aeronaves novas que são repostas de 10 a 15 anos, novas malhas etc, mas que isso não será suficiente para a reduzir as emissões. Pode detalhar mais?

Trabalhamos com uma cesta de medidas que vão proporcionar ganhos de eficiência e uma transição de fontes de energia (combustíveis), nos conduzindo até no mínimo 2050 (ou além, dependendo da maturidade das tecnologias) à descarbonização de nossas operações, algo que é respaldado pela IATA (International Air Transport Association) e ICAO (International Civil Aviation Organization).

A cesta é composta de melhorias tecnológicas, relacionadas a aeronaves mais modernas e econômicas, com motores mais eficientes. Em geral, a frota total de aeronaves leva cerca de 10 a 15 anos para ser trocada, ou seja, nesse período podemos conseguir uma eficiência média de 15%. Melhorias na infraestrutura (ex: aeroportos menos congestionados) e espaço aéreo (voos mais diretos) também ajudam, porque podem representar menos tempo de operação e, consequentemente, menores emissões. Estas ações, juntas, em um cenário de crescimento da indústria pré-Covid, seria capaz de neutralizar este crescimento, mas não efetivamente reduzir as emissões. Por isso citamos não serem suficientes.

Outro item da cesta é a substituição do combustível fóssil, o querosene de aviação, por combustíveis sustentáveis de aviação, que a gente chama aqui (Brasil) de bioquerosene, mas não limitado a isso. O uso dos biocombustíveis é a grande chave da redução efetiva das emissões na indústria da aviação, que é uma grande consumidora de energia. Hoje, essas reduções de emissões chegam a ser 80% menores que o combustível fóssil.

DIÁRIO: Quando você fala sobre o crédito de carbono: “Terá que ser um movimento da indústria (das companhias aéreas), caso contrário é jogar lixo no quintal do vizinho”. Por quê?

O crédito de carbono é visto pela GOL como uma excelente solução imediata para reduzir as emissões através do balanço do que se emite (débito de carbono) e a redução em si, comprando carbono fixado ou não emitido (projetos de créditos de carbono). E vamos fazer uso dos créditos para proporcionar uma experiência ao nosso Cliente com pegada de carbono neutra ou para atingir metas futuras.

Mas comprar créditos não faz a GOL, ou qualquer empresa, emitir menos. Continuamos emitindo a mesma quantidade de CO2, e assim não achamos a solução real. O que a GOL investe e busca para o futuro são soluções para descarbonizar, se não a totalidade de suas emissões, grande parte delas. A real redução das emissões vem por meio das medidas adotadas (acima) da cesta de medidas.

Créditos de carbono são transitórios (e um importante ativo de transição). Ganhos de eficiência e transição energética serão as soluções definitivas. Se a GOL não emitir mais no futuro (ainda distante) por usar 100% de tecnologias limpas, não necessitará mais de créditos de carbono.

DIÁRIO: Pode dar mais detalhes sobre o projeto de biomassa de macaúba?

O projeto fica em Juiz de Fora (MG). Esta Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata (MG) tem o objetivo de recuperar áreas de proteção permanentes (APP) e reservas legais (RL), além de pastagens degradadas com o plantio da macaúba, uma palmácea nativa do Brasil, grande produtora de óleo. Será plantado ainda um mix de outras espécies vegetais nativas nas áreas a recuperar, gerando fixação de carbono. Os frutos da macaúba, além de conter óleo, possuem proteína, fibra e lignina (um polímero orgânico capaz de aumentar a rigidez da parede celular vegetal, constituindo, com a celulose, a maior parte da madeira das árvores e arbustos).

Estes insumos têm mercados específicos e podem aumentar a renda familiar dos envolvidos, incrementando a economia local sustentável. Hoje, o projeto se encontra em estágio inicial, com as primeiras coletas de óleo em andamento para produção de biocombustíveis, testando manejo e logística, voltada à expansão do mesmo. Um centro tecnológico está desenhado para implantação de processos industriais necessários ao projeto, sediado na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. O potencial na região é de 130 mil hectares de vegetação a recuperar.

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