Viracopos: o futuro que não chega

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Construído para movimentar 25 milhões de passageiros por ano, Viracopos recebe pouco mais de 9 milhões.

Fabio Steinberg*

 O que aconteceu com o novo terminal de passageiros do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas? Foi pego no contrapé pela queda da atividade econômica, está superdimensionado para a demanda, ou é vítima da ausência de infraestrutura capaz atrair maior volume de passageiros do entorno – em especial da cidade de São Paulo? Com localização privilegiada, acesso fácil às melhores rodovias do país, condições de voo excepcionais – a pista só fecha 6 horas por ano – e instalações equivalentes às melhores do mundo, tinha tudo para levantar voo e se tornar referência no país. Na prática, não é o que se vê.

Construído para movimentar 25 milhões de passageiros por ano, Viracopos recebe pouco mais de 9 milhões. Das companhias aéreas nacionais presentes, a Azul domina o pedaço, que fez dali o seu principal hub. Somando-se as tímidas presenças da GOL e LATAM, juntas não perfazem mais que 65 rotas, com 2.138 frequências semanais. No lado internacional a situação é raquítica. Há só quatro rotas com uma frequência semanal de 21 voos, quase todas concentradas na TAP e própria AZUL que como todos sabem, mantém fortes laços familiares com a portuguesa.

A conversa muda quando se fala em cargas. Tradicional vocação do aeroporto, é operada por 23 companhias regulares que em janeiro de 2017 responderam pelo crescimento das exportações de 2.829 para 4.412 toneladas (55,93%) em relação ao período anterior, e importações que aumentaram de 7.011 para 9.358 (33,47%). A administração credita os bons resultados aos investimentos em estrutura, tecnologia, segurança e relacionamento. “O aeroporto se consolida como o melhor terminal de cargas da América Latina”, diz Gustavo Müssnich, diretor-presidente de Viracopos.

O xis da questão é a área de passageiros. Até a inauguração do Aeroporto de Guarulhos em 1985, Viracopos viveu a bonança de concentrar os voos internacionais do Estado de São Paulo. Com a mudança, o terminal de Campinas ganhou tamanho ostracismo que nos seus vazios corredores seria possível criar galinhas.

As palavras AZUL, Viracopos e agora TAP estão de tal forma integradas que parecem sinônimos. Se isto é bom para o Aeroporto ao garantir um mínimo de operação, por outro cria perigosa dependência

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Até que no final de 2008 surgiu a AZUL. A nova empresa enfrentou um inferno astral para se estabelecer nos dois principais aeroportos domésticos do país, Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio. Os concorrentes fizeram de tudo para o novo garoto incômodo na vizinhança cair fora. Depois de muita luta, a companhia abriu espaço no Santos Dumont, mas perdeu em Congonhas. Só que ao mirar no que viu, acertou no que não viu. Apostou na opção Viracopos, onde estabeleceu sua base. Debaixo do aparente marasmo do local, escondia-se um vulcão de demanda. Hoje a empresa responde por 156 decolagens diárias para 58 destinos – três deles internacionais.  

Não se trata de menosprezar o formidável trabalho realizado desde 2012, quando ocorreu a concessão do governo à iniciativa privada. Além do terminal de passageiros, vultosos investimentos serviram para adequar a pista, construir um pátio para aeronaves e um edifício-garagem para 7 mil vagas. Mas a dura realidade é que hoje os menos de 10 milhões de viajantes que transitam pelo local, servidos por 10 mil profissionais, estacionaram nos mesmos números do antigo prédio, já no limite operacional.

Ninguém duvida do potencial de Viracopos para crescer, nem do seu papel de integração nacional – 55% dos passageiros são de conexão. Com uma área de 25,9 milhões de metros quadrados, seu grande diferencial é poder se expandir e futuramente se tornar o maior aeroporto do país. Só que no momento o aeroporto busca atingir ao menos a capacidade projetada de 14 milhões de passageiros. E quem sabe, com a ajuda de bons ventos, chegar um dia aos sonhados 25 milhões.

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