O Frederich Nietzche disse uma vez que “a certeza é maior inimiga da verdade do que a mentira.”. Bastante oportuno quando discutimos negócios internacionais, especialmente aqueles que envolvem posturas tão distintas.
Empresas de porte internacional quando chegam nas terras de Capitu (aquela, dos olhos negros como a graúna) tem dois caminhos a seguir: ou “abrasileiram-se” ou tentam impor seu modus operandi a nós. No segmento de hotéis e resorts não é diferente. Por certo que meus argumentos podem ser escrutinados em seu fundamento com uma simples olhada matemática no mercado, mas como eu tenho que encher uns toques vou dialogar com você.
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Não existem marcas hoteleiras desenvolvidas pelos players internacionais para o mercado brasileiro, olhando para o hóspede brasileiro e suas necessidades. A marca melhor identificada conosco, é uma marca francesa que colou no gosto brazuca a ponto de se transformar em uma metonímia hoteleira: “veja se nesta cidade tem um hotel assim, tipo Ibis!”. Entendeu?
Fora nossos amigos, herdeiros bem sucedidos de Villegagnon, ninguém conseguiu esta façanha. Por que? Porque a certeza ofende a realidade, substituindo a verdade do início. Marcas bem sucedidas na Croácia, podem não ser tão bem sucedidas no Brasil, assim como no Peru ou México.
O negócio da consistência, da certeza per se, só se aplica a novos mercados depois de muita, mas muita pesquisa. Converse com a Carolina Narloch da empresa Mapie Especialistas Estratégicos e ela te explica.
Outro olhar sobre estrangeiros operando seus produtos por aqui com boas margens de lucro, seria sobre as montadoras de automóveis que, inteligentemente, desenvolveram carros no Brasil para os brasileiros. Das auto!
O desconhecimento e o desdém pelas regras do “Dr. Mercado” brasileiro funcionam como uma âncora no crescimento de empresas hoteleiras americanas, pesando tanto que apenas permitem a sobrevivência em duas capitais e, mesmo assim, com seus próprios investimentos.
Outra marca americana, entretanto, já conta seus hotéis do Oiapoque ao Chuí as dezenas, pois entendeu o querem os investidores e clientes brasileiros. Aprendeu rápido as tais “rules of the engagement” e está indo bem, considerando nosso cenário nos atuais dias de Temer.
Operar em um país com as dimensões e características culturais do Brasil exige profundo estudo e presença local intensiva, principalmente com poder de decisão, e adaptação aos diferentes modelos de negócio praticados por aqui.
Não agir assim, certamente levará estas marcas a transformar seu desejo de implantar hotéis no modelo “plug and play” (ligue e opere) para a realidade de desenvolvimento “plug and pray” (ligue e reze).
Enquanto isso, o Patrick Mendes e sua trupe furiosa continua a cozinhar um hotel por dia, conquistando o Brasil tal e qual queria seu compatriota, o tal Nicolas de Villegagnon.
“Well done”, devem estar dizendo os inimigos.
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis e criador da marca ZiiHotel.