Na diplomacia, há gestos simbólicos. Na economia, há fatos que arrastam nações. A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, anunciada por Donald Trump, não é apenas um embate político passageiro — é uma bomba-relógio prestes a comprometer cadeias produtivas inteiras, abalar o consumo interno, afetar o turismo e as relações bilaterais com o maior parceiro comercial do hemisfério.
CONSELHO EDITORIAL DO DIÁRIO*
Estamos diante de um choque que exige ação imediata e estratégica por parte do governo brasileiro — e vigilância constante de empresários e consumidores.
Uma tarifa que penaliza o futuro
Não se trata apenas de soja, suco de laranja ou aviões da Embraer. O impacto dessa medida reverbera em setores invisíveis à primeira vista:
, aumento do dólar, encarecimento de viagens, desemprego indireto e perda de competitividade internacional.
O Brasil já é um país sobrecarregado por impostos, gargalos logísticos e instabilidades políticas. Adicionar uma tarifa de 50% sobre produtos que representam bilhões em exportação é como cortar a principal veia de oxigênio de uma economia em recuperação.
Turismo em risco silencioso
Poucos falam, mas o turismo nacional — já fragilizado pela oscilação cambial — será diretamente afetado. Companhias aéreas brasileiras poderão reduzir investimentos e voos por causa da queda nas vendas de aeronaves da Embraer. Menos conectividade significa menos turistas, menos negócios, menos empregos em hotéis, restaurantes, agências e destinos que dependem da circulação nacional e internacional.
Empresários: não é só o agronegócio
Empresários brasileiros, de todos os setores, devem enxergar essa medida como um sinal de alerta. Hoje é o suco de laranja. Amanhã, pode ser o aço, o têxtil, os cosméticos, a moda praia, a tecnologia. A lógica protecionista é contagiosa — e a negligência em combatê-la agora pode ser interpretada como fraqueza. O Brasil precisa agir nos fóruns internacionais, nos bastidores diplomáticos e com firmeza institucional.
Consumidores: preparem-se para sentir no bolso
O público brasileiro também será afetado. A alta do dólar e a restrição nas exportações significam encarecimento de produtos básicos e importados, viagens mais caras e instabilidade de preços. A inflação silenciosa já começou a mostrar sinais nos combustíveis, no café, nas passagens aéreas. Se o governo não conseguir renegociar com urgência, o consumidor pagará a conta — sem sequer perceber de onde veio o rombo.
É hora de união estratégica
O empresariado brasileiro precisa pressionar o governo por diálogo técnico com os EUA, com o apoio da OMC e das coalizões comerciais. Mais que notas de repúdio, o momento exige mobilização, protagonismo e defesa do mercado brasileiro. É preciso transformar essa crise em oportunidade de revisão dos acordos, de diversificação de mercados e de fortalecimento da indústria nacional.
*O Conselho Editorial do DIÁRIO é formado por jornalistas colaboradores