Bayard Do Coutto Boiteux*
Com muita tristeza assistimos a confirmação de um evento esportivo de grande porte, quiçá o maior em tempos de pandemia, em nosso país. A retomada do setor de eventos esportivos ou não, não pode acontecer de forma intempestiva e quando nenhum outro país quer sediar a Copa América. Protocolos de segurança são adequados a cada realidade e precisam de planejamento. O que levou o Brasil, especialmente o presidente da República, a aceitar ser sede da competição num momento em que estamos com um número ainda elevado de mortos, vacina buscando se acertar e hospitais abarrotados de gente? É uma pergunta que fica no ar. Busca de popularidade que precisa ser resgatada num país futebolístico? Ou simplesmente visão mais uma vez equivocada de projeção internacional da imagem institucional do Brasil? Vislumbro as duas hipóteses.
Volto a afirmar, mais uma vez que não é uma questão ideológica. Dirigentes de direita no mundo tem ouvido a voz da Ciência, em cada momento e tem como meta salvar vidas e preservar caminhos de retomada. Assim, estamos mais uma vez mostrando nossa falta de respeito por um momento em que a prioridade deveria ser desafios para a economia, com preservação de vidas e norteio de caminhos com atividades que possam ser desenvolvidas, sem suscitar uma onda de pandemia ou mesmo incentivar alguns irresponsáveis a aproveitarem os jogos para retirar suas máscaras e se aglomerar em telões anunciados nos arredores dos estádios.
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Não me venham, por favor, com insinuações de que são “comunistas” que querem derrubar o Executivo Ferderal ou que alguma emissora se sentiu prejudicada. São argumentos dos que não querem parar para pensar, de que quem vai estar em risco, somos nós, brasileiros, sobretudo o setor de Turismo, sem vacina, que vai ter contato com as delegações em hotéis, restaurantes e locais de interesse turístico. Não se viu nenhuma medida restritiva, anunciada pelos órgãos governamentais durante o período de jogos.
Os que deveriam aproveitar o momento para discutir e cobrar, ficam calados pleiteando verbas para salvar o setor e assistindo de arquibancada um circo de horrores.
Recentemente, o Ministro do Turismo, num inglês difícil de se entender teve sua entrevista cortada numa emissora internacional de grande porte por defender algo indefensável.
A Copa da America poderia ter sido adiada. Os jogadores e as comissões técnicas de vários países questionam a competição, mesmo sabendo que farão jus a premiações em dinheiro. Na CBF, um escândalo de assédio sexual afastou o presidente e está em curso uma investigação pela comissão de ética. Fatores externos que contribuem para novas decisões.
A Conmebol prefere ignorar as polêmicas e prossegue com seu único intuito de realizar a competição. Numa democracia, o técnico da seleção brasileira, o querido Tite demonstra sua preocupação, assim como sua equipe, o que mostra que vidas importam.
A falta de gestão de um setor importante de nossa retomada é preocupante e enseja que estudiosos e trade turístico consciente se unam e se posicionem para evitar futuras realizações, em tempos de forte emoção e pouca razão científica.
*Bayard Do Coutto Boiteux é funcionário público, escritor, professor, pesquisador e atualmente colabora de forma voluntária no Instituto Preservale e na Associação de Embaixadores de Turismo do RJ.