Leia o artigo sobre a Copa do Mundo do Qatar, escrito por Bayard Do Coutto Boiteux
A Copa do Mundo do Qatar
O maior evento de futebol e que reúne seleções nacionais dos quatro cantos do planeta termina no próximo domingo. A ideia de sediar o torneio no distante Qatar trouxe vários questionamentos. Embora o país tenha uma população de expatriados importante, o que contribui para um dimensionamento mais plural do dia a dia, esta nação vive uma série de problemas sociais e de respeito à diversidade.
A começar pelo pagamento dos salários que é feito bem abaixo do esperado, inclusive nos termos locais para trabalhadores da construção civil, oriundos de países como a Índia, Bangladesh e o Paquistão, que aceitam condições de trabalho e moradia e que são denunciados frequentemente por entidades de Direitos Humanos. Tal fato aconteceu durante a construção dos estádios que sediaram os jogos e devem perder sua serventia nos próximos meses, se transformando em elefantes brancos, como aconteceu por aqui.
O governo, por outro lado, não permite contestação e nem oposição. São famílias que governam o país, renegando a existência da pluralidade, como grupos que tenham opções diferentes, como o segmento lgbtqi. As mulheres vivem um domínio patriarcal e o Islamismo, mais ortodoxo, domina a sobrevivência harmônica do país.
A Copa permitiu que várias denúncias viessem à tona e que as seleções pudessem se manifestar, como foi o caso dos jogadores da Alemanha, que cobriram a boca como forma de protesto. Os jornais locais se limitam a noticiar feitos positivos e os correspondentes estrangeiros tem muita dificuldade em seu trabalho. Vimos também na torcida, mulheres do Irã protestando e mesmo da Arábia Saudita. Foi uma oportunidade para dar visibilidade a políticas equivocadas.
Tenho a convicção e certeza de que devemos respeitar aspectos culturais e religiosos, quando visitamos outros países. Nas três vezes que estive em Doha, nunca tive nenhum problema e vivi experiências muito ricas, com uma boa prestação de serviço, uma companhia aérea de bandeira exemplar e um respeito por minhas palestras. No entanto, vimos alguns excessos com turistas estrangeiros no decorrer do evento da Fifa, além de jornalistas. Temos noticia de várias situações inusitadas por causa de consumo de bebida alcoólica, que deveria ter sido mais flexibilizado, em se tratando de um momento distinto para o país.
Embora o meu Brasil e a minha Suíça tenham voltado para casa, junto com meu Portugal, tive surpresas, que mostram as novas feições de um futebol globalizado. A ida de Marrocos para a semi-final é um exemplo de garra e novas tendências nos times presentes. O Japão mostrou garra e um respeito grande pelo público, ao sair vitorioso em jogos difíceis, limpar os estádios no final dos jogos e o técnico se curvar perante a torcida. São características culturais que poderiam fazer benchmarketing mundo a fora.
O saldo do evento, em termos de denúncias e luta pela Democracia de forma global é positivo, a organização funcionou assim como o transporte. Ninguém vai esquecer a dança dos quenianos que indicavam o transporte na saída dos jogos. A alegria dos anfitriões do Qatar e seu amor pelo Brasil não vai ser esquecido. Conhecer melhor jogadores nacionais e internacionais por seu trabalho social, como nosso Richarlison foi vital. Uma Copa que é mais um estudo de caso…
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Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário, escritor e pesquisador. Para saber mais sobre o autor, acesse o site oficial.