*Fabio Steinberg
Ao contrário dos humanos, maltratados em aeroportos lotados e impessoais, cães, gatos, pássaros, coelhos, espécies exóticas, e até cavalos comemoram a inauguração de terminal para nenhum bicho botar defeito.
Coube ao nova-iorquino Aeroporto JFK a iniciativa do Ark Pet Oasis, um lugar especializado em apoio ao transporte aéreo de animais de estimação. O nome, simpática referência à Arca de Noé, promete descomplicar um processo hoje traumático da viagem aérea de pets, e assim oferecer a eles um tratamento mais humano, ironicamente mercadoria ausente nos aeroportos de passageiros.
A operação chegou em grande estilo. Construído por arquitetos e engenheiros especializados, sob a supervisão do Departamento de Agricultura norte-americano e Colégio de Medicina Veterinária da Universidade de Cornell, o Ark inclui o embarque e desembarque entre aviões e terminais de carga, além da hospedagem de animais. Nada menos que 65 milhões de dólares foram investidos em uma área de 16.500 metros quadrados. Funciona 24 horas por dia, e deve receber até 70 mil animais por ano.
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Atendido por 150 funcionários, o Ark se divide em cinco seções. Na primeira há um lobby com check-in dos pet-viajantes. Na segunda parte, os “hóspedes” de curta estada horas recebem atenção e cuidados especiais. Ali, seja durante escalas de voo ou enquanto aguarda a chegada do dono, o bichinho ganha banho, guloseimas, pode descansar, ou até brincar com companheiros de jornada. Já na terceira seção existe um espaço para quarentena equina e aviária, enquanto que na quarta funciona um hospital para animais domésticos.
A cereja do bolo é a quinta área, que ganhou o nome de Paraíso 4 Patas. Nela funciona um misto de resort com spa voltado a cães que pretendem se instalar por longo período. Uma piscina com formato de osso distrai lulus estressados pela mudança de ambiente. Há ainda suítes com camas do tamanho de gente, e telas de plasma para os mais saudosos se comunicarem por câmeras com os seus donos.
Um serviço de alimentação customizado dispõe de cardápios que vão da ração predileta a filés a la carte. Um salão de beleza conta desde massagens diárias, esteiras de corrida, e caminhadas dentro e fora das instalações, até manicure (ou seria “patacure?”), com ampla variedade de esmaltes. A mordomia não sai barato: a tabela de preços começa em 100 dólares.
Tanto esforço para agradar os bichinhos se justifica. Só nos Estados Unidos, 68% das casas têm um animal doméstico. Ou seja, nada menos que 85 milhões de famílias mantêm 89.7 milhões de cachorros, 94.2 milhões de gatos, 139.3 milhões de peixes de água doce e 18.8 de água do mar, 20.3 milhões de pássaros, 14 milhões de pequenos animais, além de 9.4 milhões de répteis e 7.6 milhões de cavalos. Este exército animal sustenta uma indústria que em 2016 chegou a 67 bilhões de dólares, entre comida, suprimentos, remédios e veterinários, pet shops e brinquedos, segundo a American Pets Product Association.
Outro dado impressionante: só em fantasias, no último Halloween foram gastos 400 milhões de dólares, de acordo com a Federal Retail Association. Embora sem o mesmo nível de sofisticação de serviços, o Brasil não fica muito atrás. Possui a segunda maior população de animais de estimação do mundo com 132 milhões, conforme dados da Abinpet.
Cada vez mais os pets deixam de ser considerados por seus donos como propriedade, e sim como parentes. Viraram membros da família, e atendem por nomes de gente. Nos Estados Unidos, há uma fornada inusitada de alimentos humanizados, como biscoitos em formato de donut e sorvetes. Existem vinhos amigáveis para as necessidades animais com títulos patetas como Pinot Miau ou Dog Perignon ou CharDognay. Surgiu até uma empresa chamada Rover.Com, um tipo de Airbnb de pets, e que oferece de hospedagem e passeio de cachorro, até day care.
No final, fica a pergunta para os aeroportos: agora que começam a tratar tão bem os pets em trânsito, não seria o caso de transferir a mesma experiência para os passageiros humanos?