Os recentes episódios de deportações de brasileiros dos EUA revelam muito sobre a atual realidade migratória no país sob a gestão do Presidente Donald Trump. Uma dicotomia que empurra um antigo perfil de brasileiros de volta ao país de origem, mas escancara as portas para estrangeiros interessados em trabalhar legalmente na terra do tio Sam.
Há pouco mais de 10 anos, os brasileiros que vinham aos EUA em busca do sonho americano estavam dispostos a tudo para ‘recomeçar’ a vida no país norte americano. Desempenhando funções operacionais e mais braçais, não tão preocupado com o respeito imediato às leis americanas de imigração este perfil de imigrante se popularizou no Brasil durante as décadas de 1990 e 2000 influenciando políticas públicas urgentes no controle imigratório americano ao longo dos anos.
A grande ruptura deste sistema se dá com a descoberta e popularização das possiblidades de visto para moradia, trabalho e empreendedorismo legal nos Estados Unidos. Uma oferta capilarizada de possibilidades migratórias à disposição daqueles brasileiros mais dispostos a planejar a continuidade da vida e carreira nos EUA e menos ávidos por abandonar tudo e recomeçar do zero. Esta nova realidade inflou o número de vistos concedidos a profissionais brasileiros mais escolarizados e profissionalmente preparados.
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Engenheiros, professores, administradores, pesquisadores, profissionais de TI, artistas, atletas, jornalistas, escritores, cabelereiros, dj’s além de uma gama imensa de outras carreiras passaram a ser acolhidas legalmente no território americano sob a proteção dos vistos EB1, EB2 e H1B. Os brasileiros não perderam tempo. Com perfil criativo e com a alta da escolaridade da última década, submeteram seus currículos e carreiras à análise do governo americano que abriu as portas.
De acordo com uma pesquisa do Bureau of Labor Statistics nos EUA, o percentual de estrangeiros que integram o mercado de trabalho americano e que possuem um diploma de bacharel ou formação superior é de 36,9%. Os que detêm diploma de ensino médio são 25,1%, percentual muito próximo ao de americanos nativos com diploma de ensino médio, de 25,6%.
Estes brasileiros, mais empreendedores e que apostam mais no planejamento imigratório estão agora vivenciando um novo cenário promissor para suas vidas e carreiras nos Estados Unidos. Dados do Migration Policy Institute – MPI mostram que de 2010 a 2018 houve aumento considerável na população de imigrantes em estados não tão populares nos EUA como: North Dakota, South Dakota, Minnesota, Delaware e Iowa.
Em meu livro: “Internacionalize-se: Parâmetros para trabalhar legalmente nos EUA”, lançado no ano passado em todas as regiões do Brasil traço um ranking das melhores cidades americanas para se trabalhar e cito algumas que oferecem vantagens como bolsas e terrenos em busca de atrair mão de obra imigrante qualificada e legal. Uma informação relevante já que os brasileiros usualmente imigram para cidades que visitaram como turistas nos EUA.
Mais preparados, este novo perfil de imigrantes está mirando além de Nova Iorque, Nova Jersey, Massachussets e Flórida, para viverem. O crescimento da população imigrante de 2010 a 2018 em North Dakota, por exemplo, foi de 115%, em South Dakota de 58%, em Minnesota 28%, em Delaware 27% e em Iowa o número de imigrantes aumentou em 26% no período, segundo os dados do Instituto americano MPI.
Outro estudo divulgado em 2019 mostrou que os imigrantes desempenham um papel indispensável na economia americana. O Instituto New American Economy apontou que Imigrantes e filhos de imigrantes fundaram 45% das 500 maiores empresas dos EUA. As organizações fundadas por essa parcela da população empregaram 13,5 milhões de pessoas nos Estados Unidos, 11% a mais do que companhias fundadas por norte-americanos.
Dados do Itamaraty mostram que já há quase 10 mil micro e pequenas empresas fundadas por brasileiros nos Estados Unidos. As empresas brasileiras geraram até 2017, mais de 74 mil postos de trabalho nos EUA, colocando o Brasil em segundo lugar no ranking de países estrangeiros que mais geram empregos nos Estados Unidos. O primeiro colocado é o México.
Com o menor desemprego em 50 anos é natural este cenário mais aberto à mão de obra estrangeira qualificada. Os brasileiros interessados em imigrar aos EUA só precisam agora escolher de qual lado da história estarão: se farão parte da promissora classe de imigrantes de sucesso ou se integrarão a vasta lista de aventureiros que julgam não ter nada a perder.
Rodrigo Lins é Mestre em Comunicação, Especialista em linguagem audiovisual, Professor universitário, Pesquisador, jornalista e escritor. Teve a carreira profissional considerada extraordinária pelo Governo Americano e reside legalmente nos Estados Unidos. É autor do livro “Internacionalize-se: Parâmetros para levar a carreira profissional aos EUA legalmente” lançado em 2019. É CEO da agência de Comunicação, Marketing e Imprensa multinacional Onevox Global.