São casas, ferramentas, tratores, comidas, vestimentas, modo de se vestir e falar e uma infinidade de detalhes que nos faz pensar: a Holanda é aqui!
por Paulo Atzingen (textos e fotos)*
Vivemos a era do self e da valorização do tempo imediato. Criamos nosso acervo pessoal de historinhas atuais para enfiá-las em alguma mídia social. Quando nos deparamos, no entanto, com os séculos de história que nos antecederam e as pessoas que construíram essa história parece (para alguns, não todos), que chegamos depois, quando tudo já estava pronto, e tirar fotos – principalmente de nós mesmos – passa a ser uma ação tola, comparada a arar a terra, construir poços, levantar casas, plantar sementes, cuidar de animais, se proteger dos rigores do clima…e todas essas atividades maiores ligadas ao campo.
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E é essa a análise que fazemos ao visitar a região dos Campos Gerais, no Paraná, e conhecer um fragmento de sua história representada pelos primeiros imigrantes holandeses que aqui chegaram, a partir do início do século XX.
São casas, ferramentas, tratores, comidas, vestimentas, modo de se vestir e falar e uma infinidade de detalhes que nos faz pensar: a Holanda é aqui! Sim, a Holanda, ou um fragmento dela é aqui, em Carambeí, a 140 quilômetros de Curitiba.
Memorizando a essência
Para preservar a memória do seus ancestrais e manter as tradições vivas para as gerações mais jovens, em 2001 foi inaugurada a Casa da Memória e em 2011 – ano de comemoração do centenário da imigração dos holandeses nos Campos Gerais – foi inaugurado o complexo Parque Histórico de Carambei.
Um museu que se identifica
O presidente da Associação do Parque Histórico de Carambeí, Dick Carlos de Geus, falou ao DIÁRIO:
“Esse parque só existe porque fomos resistentes. A primeira leva de holandeses chegou por aqui em 1908, 1909. No início haviam acreditado na promessa de terras boas e fartas na região de Irati, mas foi uma imigração frustrada. Muita gente morreu, algumas voltaram para a Holanda e muitas vieram para cá, já que aqui eram campos abertos. Na época, por aqui se construía uma ferrovia ( Brazil Railway Company) e muita gente precisava de trabalho”, explica Dick de Geus ao DT. O processo de colonização de Carambeí se concretizou, o mundo e a cidade se industrializaram, várias gerações passaram por aqui, mas não é que essa gente não perdeu sua identidade?
Vila histórica
O Parque Histórico de Carambeí é uma joia e as imagens falam por si. A vila transfere uma nostalgia por apresentar de forma intacta, irretocável, as casas de táboas como eram a 100 anos e, dentro delas, conter os utensílios de cozinha, os tapetes sobre a mesa, os tamancos de madeira, os livros de receita, os potes de mantimentos . “A nossa perseverança e fé foram muito fortes. Em Carambeí deu certo, pois acreditávamos em um mundo melhor. E mantivemos isso aqui vivo para as próximas gerações”, afirma Dick com emoção. “Nosso parque tem um pouco de nossa forma de vida, nossa culinária, nossa história”, complementa.
Segundo Geus, no município de Carambei, nesses 100 anos, ocorreram muitos casamentos entre as diferentes etnias e, evidentemente, resultaram em grandes misturas raciais. “Cerca de 2500 a 3000 pessoas que vivem aqui são descendentes diretos, da primeira, segunda e terceira geração dos primeiros holandeses que vieram para cá”, afirma saudosista.
Receita de um Brasil Melhor?
Conhecer Carambeí e a forma como os holandeses construíram sua história pautados no trabalho, na fé e no valor de sua cultura e tradições nos faz levantar mais uma vez a questão: se esse povo europeu tivesse vencido os portugueses na Batalha dos Guararapes, em 1649, em Recife, seríamos uma outra Nação?
Serviço:
Parque Histórico de Carambeí
Avenida dos Pioneiros, 4050 – Carambeí – PR
(42) 3231-5063 – www.aphc.com.br
**Matéria originalmente publicada em 10 de setembro de 2017
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* O jornalista Paulo Atzingen viajou ao Paraná convidado pelo município de Ponta Grossa com seguro GTA