Carnaval 2023: uma retomada silenciosa dos tamborins

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O carnaval carioca tem um marco: o sambódromo que foi construído no primeiro governo Brizola, por sugestão de Nestor Guimarães Rocha, um jovem vereador que tinha assumido a secretaria municipal de Turismo.

Por Bayard Do Coutto Boiteux*

A Avenida dos Desfiles ou Passarela do Samba acabaria finalmente com a montagem e desmontagem de arquibancadas. Ali, deveria funcionar também um museu do carnaval, que teve uma duração muito curta.

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Lembro-me muito bem do primeiro Carnaval, em 1984, onde passei vergonha na minha primeira atuação, por causa da chefe do cerimonial de Brizola, Elizabeth Vieira de Mello, que me pedia para receber os vips e sendo que muitos, inclusive secretários de Estado, não estavam na lista. Ao informar que deveriam esperar, ela vinha correndo, me desautorizava e dizia que estavam numa lista que só ela tinha acesso. Brincadeira de mal gosto e falta de profissionalismo.

Ao longo dos anos a Riotur foi sendo retirada do protagonismo da realização do evento, sobretudo na Marquês de Sapucai e hoje tem apenas atuação quase que protocolar.

Por força da pandemia,  2023 é o ano de retomada efetiva do evento. Ano passado, aconteceu fora de época e foi um ensaio, que deu certo. O glamour ainda são os camarotes. Não a compra de um ingresso mas constar na lista vip de convidados. Há pessoas que tentam de todas as formas um convite e não desgrudam do telefone. Conseguir uma credencial é participar de uma roleta russa: inúmeros familiares e políticos, artistas, influencers recebem trânsito livre em detrimento de profissionais que querem trabalhar e não pedem nada em troca. A chuva sempre atrapalha e pode ocasionar sérios problemas. O acesso é fácil através do metrô e a segurança no entorno é relativa.

Oriundos, na maior parte, de bairros periféricos, menos afortunados, os componentes das escolas de Samba trazem alegria mas sobretudo denunciam problemas da Democracia e da Diversidade. As fantasias não são baratas e acabam se misturando com aqueles que tem samba no pé, turistas nacionais e estrangeiros que nem cantar sabem. Nunca foram num ensaio e acabam perdidos e até prejudicam a harmonia do conjunto. O desfile obedece a regras rígidas, criadas pela Liesa, que manda no Carnaval. A cada ano que passa morre um pouco a espontaneidade dos foliões. Se outrora, apenas o domingo e a segunda fossem os dias de gória, hoje sexta e sábado, com a possibilidade de acesso trazem espetáculos riquíssimos e com preços mais perto da realidade. Os cafés da manhã em hotéis de luxo, após o desfile perderam também sua notoriedade. Poucos ainda sobrevivem.

Os blocos cariocas cresceram e muito. Hoje somos também a cidade do carnaval de rua. São centenas de blocos, de pequenos a enormes, nos quatro cantos da cidade. A infraestrutura melhorou muito mas ainda falta planejamento. O incômodo para os moradores das áreas é tão grande que são obrigados a ficar trancados em casa. Fora os que urinam em áreas públicas ou destroem a vegetação em logradouros públicos. Agora é uma experiência única ser carregado por samba e marchinhas, embora o funk e a discoteca também aparecem.

Pouca criatividade e preços exorbitantes

O famoso Baile do Copa, hotel que vem perdendo anualmente glamour, cobra preços exorbitantes e ainda fala em black tie com as temperaturas altíssimas. O Fairmont tentou um novo baile, com o nome da engraçada Narcisa Tamborindeguy, que esperamos se mantenha no ano que vem. As feijoadas foram aumentando em demasia e uma das poucas, que se maném é a dos Embaixadores do Rio, num formato pequeno mas muito animada e com uma clientela ávida por novidades.

O número de turistas estrangeiros diminuiu muito. Faltam ações promocionais efetivas. Participar de eventos mundo a fora sem nenhum planejamento e nenhuma avaliação a posteriori leva dirigentes a viajar com diárias pagas pelo contribuinte. A ocupação muito boa dos hotéis deve a um trabalho grande de parte da iniciativa privada e a ocupação será de 75% de brasileiros. Vão enfrentar a falta de postos de informações turisticas, até hoje não resolvido e aeroportos despreparados, inclusive com goteiras, no caso de chuvas.

O Carnaval carioca precisa reviver seus tempos de convidados internacionais, de jornalistas com grande visibilidade, do mundo inteiro, inclusive do Brasil chamados para noticias em tempo real. Falta investimento da LIESA em promoção institucional. Não podemos ficar sentados esperando. Outros grandes carnavais disputam conosco, dentro de outras peculiaridades mas com vertentes criativas, como Nice e Veneza, para citar dois exemplos entre muitos hoje.

Meu grito de alerta é de alguém ,que completa 40 anos de Carnaval e que continua diariamente trabalhando pelo Rio, com a possibilidade de criticar e sem medo de elogiar tantas ações que se mostram positivas. As associações de classe envolvidas direta ou indiretamente com o Turismo precisam mostrar peso e parar de aderir a todos os governos. Falta ao governo mostrar que o Turismo é prioritário e não fazer moeda de troca do mesmo em todas as esferas.

Novos tempos chegaram. E que o Carnaval siga a sua caminhada com olho no futuro e desdobramentos necessários para sua sobrevivência, sem depender de ajuda do governo e sem ameaçar a não realização se as entidades carnavalescas não forem prontamnente atendidas. A decoração das ruas está paupérrima e faltam bailes populares.

Não sou saudosista, não vivo do passado mas tenho em mente sempre que a evolução de um evento passa por uma análise criteriosa dos anteriores. O Rio precisa entender que Carnaval não é sambar apenas mas investir em toda a cidade, mormente nas comunidades,de onde vem tanta alegria e Amor…


*Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário, escritor e pesquisador. Para saber mais sobre o autor, acesse o site do autor

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