O litoral norte de São Paulo é o foco da análise de Otávio Novo em seu artigo sobre gestão de riscos. Segundo ele, a gestão de riscos serve para isso: entender o cenário onde estamos atuando, conhecer nossas vulnerabilidades e realizar ações compensatórias para evitar e/ou minimizar impactos. Confira o artigo do especialista:
Mais um caso de perdas irreparáveis, em um importante destino turístico do Brasil. Carnaval, alta ocupação e muita destruição. Assim, infelizmente, novamente nos deparamos com a dura constatação, dessa vez exposta pelos trágicos impactos das chuvas no litoral norte de São Paulo: a gestão de riscos no Turismo é urgente.
Como em outros casos registrados no país, inclusive na mesma época do ano, as chuvas fortes no litoral paulista causaram inundações e deslizamentos de terra que trouxeram muitos danos materiais e especialmente humanos na região da cidade de São Sebastião. Até o momento, segundo informações do governo do Estado de SP, 54 mortes foram confirmadas com cerca de 4.000 desabrigados/desalojados.
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Além das numerosas, e muitas vezes precárias, residências de trabalhadores, as pousadas, hotéis e casas de aluguel por temporada estavam ocupados por visitantes que buscavam descanso e/ou diversão num dos períodos mais valorizados do ano para turistas e moradores locais que vivem, basicamente, da prestação de serviços para essa população flutuante.
Os riscos previstos e informados para o período, principalmente para as moradias em áreas com maior probabilidade de deslizamentos, não foram tratados, por não serem parte de uma política ampla de proteção das pessoas e das atividades econômicas da localidade. E, o que é mais grave, isso é recorrente em muitos locais do país. Minas Gerais , Rio de Janeiro, Santa Catarina, Bahia, são apenas alguns exemplos dos estados brasileiros onde foram contabilizadas perdas recentes equivalentes as de São Sebastião, e as providências preventivas continuam sendo deixadas de lado.
No caso do litoral norte paulista as chuvas atingiram toda a estrutura turística, ou seja, o transporte pela destruição e obstrução das estradas de acesso, o abastecimento de alimentos, a comunicação devido à queda da conectividade, o saneamento básico com a sujeira e contaminação da água, e o mais importante, o recurso humano, ou seja, a força de trabalho que faz o turismo acontecer em todas as suas atividades.
Sendo assim, fica evidente que o turismo, como uma atividade econômica e social, requer o olhar especialmente atento para as condições gerais de trabalho e de vida daqueles que atuam, diretamente ou não, nesse setor. E as entidades e atores que exploram o turismo nas suas diferentes frentes devem, caso queiram garantir a perenidade e humanidade das suas atividades, buscar ferramentas para conhecer os cenários, as ameaças, fraquezas e identificar caminhos para o próprio fortalecimento.
E a gestão de riscos serve para isso: entender o cenário onde estamos atuando, conhecer nossas vulnerabilidades e realizar ações compensatórias para evitar e/ou minimizar impactos. Entretanto, podemos dizer que a grande vulnerabilidade do setor de turismo é a sua própria incapacidade de entender que a gestão de riscos é parte fundamental de si próprio e que a responsabilidade sobre a segurança das suas atividades e de todos e tudo que delas fazem parte, não é algo para se transferir, mas sim para se assumir.
Garantir a implantação de sistemas de prevenção efetivos, como definição e solução de riscos geográficos/ sociais/climáticos entre outros, monitoramento, alarmes e sirenes para ações emergenciais, treinamentos básicos para profissionais, turistas e moradores para planos de contingência como evacuação/proteção, comunicação e suprimento básico em caso de necessidade, além de contingenciamento de recursos para interrupções prolongadas , são algumas das medidas que apesar de terem outros responsáveis operacionais, devem estar no rol de obrigações do setor do turismo e da cada um dos seus entes.
As autoridades públicas ligadas ao Turismo pelo seu enfoque que vai além dos resultados e lucros imediatos, tem o papel fundamental de mostrar o caminho da evolução sustentável do setor, o que, obrigatoriamente inclui o amadurecimento de todos envolvidos na gestão de riscos nas diversas atividades turísticas. O momento de renovação política do pais é propício para essa visão até então , inédita.
Assim, esperamos que mais esse triste evento e suas perdas não sejam em vão, e que o Turismo possa assumir seu verdadeiro papel de atuar pela hospitalidade com segurança. Afinal se o objetivo é fazer o turismo cumprir seu papel econômico, social, cultural e humano cabe a cada profissional, gestor e entidade pública do setor, assumir a responsabilidade de agir e proteger as pessoas e os negócios.