CONSELHO EDITORIAL DO DIÁRIO
Nem o mais exacerbado dos otimistas faria vista grossa para os efeitos da crise econômica e das feridas ainda frescas dos desacertos políticos. Pode-se dizer que os ventos deixaram de soprar contra com a intensidade de meses atrás, mas ainda não sopram, propriamente, a favor. As coisas pararam de piorar – o que não deixa de ser um bom sinal. E o turismo – por que ficaria fora da crise, se a atividade depende do humor e das condições reais dos outros setores da economia, tanto para programações a lazer como a negócios?
As primeiras impressões e percepções, ao cabo do primeiro dia da 44ª Abav Expo Internacional de Turismo e 46º Encontro Comercial Braztoa, mostrou algumas ambiguidades e paradoxos interessantes. Por um lado, a despeito do encolhimento físico do evento, em comparação com edições passadas, os números preliminares são muito positivos. O número de inscrições ao evento passou de 24 mil participantes. A Vila do Saber, remodelada, teve mais de seis mil inscritos – as palestras e mesas redondas, no primeiro dia, tiveram lotação completa.
As primeiras impressões e percepções, ao cabo do primeiro dia da 44ª Abav Expo Internacional de Turismo e 46º Encontro Comercial Braztoa, mostrou algumas ambiguidades e paradoxos interessantes.
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Essa busca atípica por informações especializadas e conhecimento parece traduzir uma certa tomada de consciência da indústria turística, especialmente do agenciamento de viagens, de que é preciso mudar. Quem se mantiver no paradigma já superado das operações manualizadas, estará fora. Ademais, são oferecidos mais de 70 temas, abordados por meio de palestras, painéis e mesas redondas, totalmente gratuitos. Os profissionais presentes no primeiro dia do evento revelaram-se atentos ao aproveitamento do tempo e das oportunidades – mais foco, menos oba-oba.
Outro aspecto sintomático foi observado nos discursos das lideranças setoriais e dos órgãos governamentais. Diferentemente de outros tempos, nota-se uma trégua nítida nas críticas ao governo, o que aproxima o setor privado do governamental no que tange ao discurso com cheiro e cor de pacto nacional. Nas discussões sobre o legado dos jogos olímpicos do Rio de Janeiro, por exemplo, as posições da Embratur e Gol se mostraram visivelmente concordantes. Há um discurso de esquecer o retrovisor e olhar para frente. Porém, mais que verba pública, as reivindicações recaem sobre políticas abrangentes, profundas e consequentes para o deslanche do turismo brasileiro.
O encolhimento da feira, considerando-se ausências significativas de grandes players do setor e o layout diferenciado por conta do recinto do Expo Center Norte pode ser um sinal de que o modelo da mostra pode estar mudando: mais foco em difusão de conhecimento e na realização de negócios. Se isso for verdade, a consolidação da tendência será verificada na edição do próximo ano. Quem viver, ou melhor, sobreviver, verá.