por Mário Beni*
Mesmo a genialidade de um talentoso escritor pode usar da própria riqueza intelectual à semelhança de certos abastados que, com os mais raros tecidos, anéis, relógios raros e toda a sorte de grifes famosas, vestem-se e ostentam apenas a falta de gosto e elegância de estilo. O cérebro recebe seguidamente os estímulos mundanos e os reflexos do ideal, e é a perfeição desses últimos que constitui o gênio; a função é inteiramente passiva, qual a de um receptor e de um espelho. O artista, o escritor, compositor é aquele que quer transmitir a outros as ideias que recolhe; ora esta função é diferente, é função ativa, constitui uma inspiração pessoal que forma o espelho, juiz do objeto refletido. Há quem possua um grande gênio passivo, mas um pequeno talento crítico, e assim reflita melhor que os outros o infinito, sem saber apresentar nenhuma das imagens recebidas.
Há também, quem tenha, ao contrario, um grande talento de fotógrafo intelectual e não encontre em si para serem reproduzidas, senão imagens de segunda ordem.
*Mário Beni é professor Titular (aposentado) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.