João Dória será o super-herói que São Paulo precisa?

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De bobo ou amador, João Dória não tem nada. Mesmo carecendo de carisma, sabe como poucos administrar sua imagem pessoal. São Paulo espera.

por Fabio Steinberg*

O que é, o que é? Será um gari, jardineiro ou ciclista? Nada disso. É João Doria, o novo prefeito de São Paulo, a maior cidade e principal destino de turismo de negócios do Brasil, criando factoides diários a mil por hora. O objetivo, claro, é ocupar o maior espaço possível na mídia, a tradicional, e principalmente a digital. Ele virou uma espécie de Jânio Quadros 2017, versão online. Mas eis a questão que vale um milhão de pageviews: ele está a serviço do que, e de quem?

De bobo ou amador, Dória não tem nada. Mesmo carecendo de carisma, sabe como poucos administrar sua imagem pessoal. Atrás da máscara que estampa um sorriso hollywoodiano que não tira nem para dormir, mora um estrategista brilhante. Com antecedência, meticulosidade e cautela em doses cavalares ele estabelece cada passo, palavra, ação ou eventual espetáculo que pretende realizar. Sempre alerta, em regime de plantão 24 x7, improviso com certeza não faz parte de seu dicionário.

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Para determinar qual o seu principal diferencial em relação aos demais mortais, um ótimo ponto de partida é afirmar que o novo alcaide é especialista em administrar egos. Tremendo observador, está sempre à espreita para identificar potenciais fraquezas ou incompetências de quem o interessa para as transformar em oportunidades financeiras. Intuitivo, sabe apostar bem em políticos, artistas, ou executivos no auge, em ascensão, decadência ou em desgraça momentânea. Capaz de separar com velocidade impressionante o joio do trigo, seu olhar seletivo o permite ao mesmo tempo concentrar energias em quem vale a pena investir tempo, e quem convém ignorar.

Capaz de separar com velocidade impressionante o joio do trigo, seu olhar seletivo o permite ao mesmo tempo concentrar energias em quem vale a pena investir tempo, e quem convém ignorar

A sua trajetória profissional é coerente com estes princípios. A criação mais visível, o LIDE – Grupo de Líderes Empresariais, é o melhor exemplo. Uma organização com esta denominação já é por si garantia para o sucesso. Qual o empresário ou executivo que não gostaria de fazer parte deste time seleto e ser reconhecido como líder? Trata-se apenas de um jogo de ilusões.

A organização com este nome pomposo lembra um castelo de areia corporativo, onde ninguém sabe com certeza para o que serve, mas que curiosamente todos os envolvidos amam e respeitam. O negócio é movido por dois poderosos combustíveis. O primeiro é um absoluto culto à personalidade de dirigentes e aprendizes de dirigentes empresariais afiliados, que por sinal pagam bem caro pela carteirinha de associado.

O segundo é funcionar como uma verdadeira usina de networks. Aqui mora o maior segredo: ao usar como isca a presença de autoridades, jornalistas e poderosos em encontros que na prática não levam a nada, esta operação altamente vitoriosa serve como pretexto para aproximar interesses mútuos. Na prática, estes encontros ocupam o vácuo do que uma associação de classe empresarial, se fosse mais competente e antenada com os anseios de seus membros, deveria proporcionar.         

Não se trata aqui de questionar a reputação e métodos do Prefeito, a quem desejamos todo o sucesso do mundo. Muito pelo contrário. Como todo bom publicitário, Dória também sabe que o esforço de venda de um produto começa pela sua embalagem. Neste sentido, tem lógica a ocupação de espaço que está fazendo nas redes sociais. O problema deste modelo é quando a embalagem se torna mais importante que o produto. E que muitas vezes, não presta.

Eis aí o maior desafio de João Dória. Se o seu reconhecido talento puder ser canalizado para o benefício da cidade de São Paulo, ficaremos todos maravilhados. Tomara que ele obtenha o mesmo sucesso que seus colegas Rudolph Giuliani e Michael Bloomberg trouxeram para New York, só para citar dois nomes que inspiram qualquer prefeito no mundo inteiro.

Mas será muito frustrante se toda esta energia hoje gasta para gerar visibilidade no Facebook servir apenas para alavancar a imagem pessoal do Prefeito em exercício

Mas será muito frustrante se toda esta energia hoje gasta para gerar visibilidade no Facebook através de posts recheados de ações que soam como demagógicas e frases típicas de autoajuda, servir apenas para alavancar a imagem pessoal do Prefeito em exercício. Se isto for verdade, o dia que ele for embora, vão junto as esperanças por uma cidade melhor gerida. E São Paulo definitivamente não merece isto.

*Fábio Steinberg é jornalista e fundador do blog Viagens e Negócios

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