O Pelourinho, de Salvador, é a inspiração do escritor e jornalista Thomas Bruno na crônica da Série “Mundo Sertão”. Com uma visão aguçada e nostálgica, Thomas Bruno percebe tons e ângulos nem sempre perceptíveis ao turista apressado, ou que se preocupa em fotografar o agora para deixar para o futuro seu viver no presente. “O caminhar por aquele secular calçamento, a brisa que nos tomava nos becos assobradados e livres do sol, a visão das construções coloniais e coloridas e torres de diversas igrejas ao longe, permitidas pelas íngremes ladeiras, compunha um cenário sensorial incrível.” Isto é Thomas Bruno. Aproveitem:
NOS ÚLTIMOS ANOS estive algumas vezes em Salvador, a boa terra, São Salvador da Bahia, “terra da felicidade” como bem cantou Ary Barroso. Fui cheio de curiosidade para conhecer os seus meandros, seus recantos, os mistérios e os porquês dela ser a primeira capital do Brasil.
Meu olhar estava mais contemplativo e deixei cada ocasião me levar. Do sorvete na Ribeira ao acarajé da Dinha, dos mercados aos shoppings, praias, igrejas, terreiros, mirantes, fortes, a periferia pulsante. Conversei com o povo, busquei os espaços além dos holofotes. Conheci os Caretas do Acupe (de Santo Amaro da Purificação e ali na Ribeira nos recebia em evento de turismo), o grupo ‘Paroâno sai milhó’, o Olodum, músicos dos bares noturnos…
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Muitas foram as visitas, mas um lugar em especial me tomou e não importa quantas vezes eu esteja na cidade tenho que ir lá, entendendo o ensinamento de Heráclito de Éfeso em que nenhum homem pode banhar-se no mesmo rio por duas vezes, da segunda vez o rio não é o mesmo, nem tão pouco o homem. Esse lugar é o Largo do Pelourinho e o contíguo Terreiro de Jesus.
Discretamente olhei para o sinuoso calçamento, ao mesmo tempo que dava giros, observando todos aqueles contornos, sobrados coloridos, a foto de Michael Jackson no sobrado que ele subiu em clipe gravado no Brasil, lá no Pelourinho, com a banda Olodum, lembrei com tristeza que uma criança diz no início da música a seguinte frase: “Michael, eles não ligam pra gente”, e realmente não ligam! Tudo isso pelo legado da escravidão que perdurou por mais de 300 anos em nossas terras. O estudioso Laurentino Gomes aponta que é necessária uma segunda abolição.
Da escolha de Tomé de Sousa a se tornar a maior atração turística de Salvador. Esse é o Pelourinho, hoje coberto de alegria suplantando épocas de tristeza e dor.
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Publicado originalmente na coluna ‘Crônica em destaque’ do Jornal A UNIÃO em 13 de abril de 2024. -Publicação autorizada pelo autor.
*Thomas Bruno Oliveira é Historiador, Jornalista e Escritor. Mestre em História, Cronista do Jornal A União, Colunista da Revista de Turismo; integra vários Institutos Históricos, a Academia de Letras de Campina Grande.
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