O vice-presidente da TAP, Luiz da Gama Mór, recebeu o jornalista Paulo Atzingen em seu gabinete, em Lisboa, e concedeu a entrevista abaixo. Na TAP desde outubro de 2000, Mór é gaúcho da cidade Cachoeira do Sul e atua há mais de 30 anos nas áreas operacionais, de vendas, marketing e administração superior de empresas de médio e grande porte de aviação. Nesta entrevista exclusiva, ele fala dos investimentos em novas aeronaves, da importância do agente de viagem como parceiro da empresa aérea, do recente compartilhamento de voo com a GOL, do pouco impacto que os atrasos das obras de infraestrutura tiveram em sua companhia e do processo de diminuição da dívida líquida da aérea. Confira:
DIÁRIO – A TAP divulgou um lucro de 34 milhões de Euros em 2013 (42% acima do lucro de 2012). Qual a perspectiva para este ano. O crescimento tende a continuar?
LUIZ DA GAMA MÓR – Sim. Este 2013 a que você se refere é o quinto ano consecutivo de lucro da TAP. Em 2014 teremos um crescimento, um salto, a partir de julho com nosso crescimento de oferta desencadeado porque teremos mais receita. Por um efeito de escala, teremos menos custo proporcional o que vai gerar um resultado melhor.
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DIÁRIO – A dívida líquida da TAP, em 2013, foi reduzida de 791 milhões de euros para 585 milhões. Essa redução tende a continuar em 2014?
LUIZ DA GAMA MÓR – Sim, o processo da dívida ao longo do tempo tem reduzido cerca de 100 milhões de euros por ano. Mas ela também tem momento de aumento, no processo de redução; mas tem alguns dentes de aumento que é quando recebemos aviões novos. Estamos agora em processo de redução e começaremos a receber os A-350 em 2017, vai aumentar um pouco (a dívida líquida) e depois vai continuar descendo. Temos uma empresa onde 70% da frota é própria, o que indica que preservamos o valor da empresa. Isso indica um esforço no financiamento.
Novos A-350: chegada em 2017 |
DIÁRIO – Ainda no âmbito desses aspectos numéricos, a TAP transportou no primeiro quadrimestre deste ano 3.248 milhões de passageiros, cerca de 8% a mais do que no mesmo período de 2013. Ao que se deve este crescimento?
LUIZ DA GAMA MÓR – Historicamente nós temos bons load factor, e especialmente abaixo da média na indústria do intraeuropeu. 60% dos nossos passageiros são do intraeuropeu entre Portugal e Europa. Eventualmente temos os passageiros do Brasil e da África, mas o que acontece com o intraeuropeu é que aqui se dá nosso maior tráfego. O que acontece com o intraeuropeu tem uma repercussão nos números gerais da empresa. Como tínhamos um load factor razoavelmente baixo com relação à média européia, foi este o nosso esforço. Nos últimos três anos não aumentamos a oferta, mantivemos o mesmo número de aviões, no entanto temos crescido todos esse anos. Fechamos o primeiro semestre, para ter uma informação ainda mais atualizada, fechamos com 7% a mais do load factor geral, isso se deve ao aumento do load factor no intraeuropeu.
DIÁRIO – O compartilhamento de voos com a GOL foi aprovado sem restrições pelo CADE (Conselho Adminsitrativo de Defesa Econômica). O 'Code-share' é lucrativo ou apenas estratégico?
LUIZ DA GAMA MÓR – Sempre é lucrativo. Nenhuma companhia aérea faria o compartilhamento de voo se não tivesse resultado positivo ao final disso. Ele aumenta as possibilidades de conexão e aumenta as possibilidades de venda. A força da GOL no Brasil é evidentemente maior que a força de venda da TAP lá. A GOL ajuda a vender os aviões da TAP e a TAP melhora a oferta da GOL, inclusive no programa de milhagem da aérea brasileira. sempre é bom para as boas empresas. Com a saída da TAM da Star Allince estávamos procurando ampliar a nossas parcerias no Brasil e a GOL foi uma boa oportunidade.
DIÁRIO – Qual a perspectiva de crescimento no Brasil em 2014?
LUIZ DA GAMA MÓR – A partir de 1º de julho aumentamos o número de frequência para diversas cidades do Brasil, passamos a voar para 12 cidades (Belém e Manaus foram as mais recentes), com aproximadamente 86 frequências semanais, o que dá mais de 10 frequências diárias.
DIÁRIO – Qual foi o balanço da Campanha "Para o país do futebol, a TAP é que tem mais partidas", em termos numéricos? Vocês têm uma análise do movimento gerado pela Copa do Mundo?
LUIZ DA GAMA MÓR – Não, ainda é muito cedo para isso. Na realidade estávamos buscando mais um processo de marca, de fazer lembrar da marca TAP em um momento que o europeu estava prestando atenção no Brasil, com a Copa do Mundo. Foi uma campanha de construção de marca de médio e longo prazo, não tinha que ver diretamente com o evento em si.
Mór: "negociações avançadas com a Embraer para aquisições de aeronaves menores para o mercado europeu |
DIÁRIO – A TAP apoia projetos culturais audaciosos e até arriscados – um exemplo foi o do navegador Ricardo Diniz que atrvessou o Atlântico sozinho em um veleiro, refazendo a rota de Cabral. O senhor pode comentar…
LUIZ DA GAMA MÓR – Isso é bem dentro e se relaciona à campanha que fizemos como um todo. Nossa preocupação era, estava acontecendo o maior espetáculo da terra que era a Copa do Mundo. Não podíamos competir competir com as grandes marcas mundiais. Buscamos uma campanha original, que pudesse despertar atenção e fizesse sentido com a nossa proposta e a nossa cultura. Nenhum outro país poderia fazer a comemoração da Copa do Mundo, refazendo, reproduzindo uma viagem de barco até Salvador, que foi o descobrimento do Brasil. Saímos daqui, do mesmo lugar que saiam as caravelas, do Tejo, fazendo escalas na ilha da Madeira e depois em Cabo Verde e de lá direto para Salvador.
DIÁRIO – Como está a relação, hoje, da TAP com os agentes de viagem e quanto ele responde nos percentuais de venda?
LUIZ DA GAMA MÓR – É muito elevado, mais de 70% da nossa venda é via agente de viagem. transitamos aqui há mais de 10 anos com o modelo de comissão para taxa e foi muito vantajoso de ambos os lados. Não tivemos em Portugal esse processo longo que houve no Brasil da dificuldade de mudar o modelo de remuneração e dar segurança de rentabilidade para todos. Aqui não houve aquele impasse que ocorreu no Brasil, houve uma disposição dos agentes de viagem, e construímos um projeto. Hoje, a comissão aqui é de 1%.
Novos A-330: aquisição este ano |
DIÁRIO – Havia a preocupação que a infraestrutura para a Copa não atenderia as expectativas, no entanto nos saímos até bem. Porém, Viracopos ainda não foi entregue totalmente. Isso afeta as operações da TAP?
LUIZ DA GAMA MÓR – Nem tudo o que estava programado para a Copa do Mundo aconteceu. Para nós, no entanto, que temos uma perspectiva de mais longo prazo, o fato do atraso na Copa não foi importante. O que vale para nós é que os investimentos estão sendo feitos e os aeroportos estão melhorando a olhos vistos. Guarulhos, Galeão, Viracopos, Manaus, Brasília. Tem muita coisa para acontecer mas os processos de decisão que deveriam ser tomados, já foram tomados. Nós operamos com algum grau de dificuldade em alguns aeroportos, mas isso faz parte do jogo, pois somos a primeira empresa a fazer voos para a Europa do Brasil. Somos a primeira de Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Viracopos. Para se ter uma ideia, operamos em Viracopos, mas o catering (abastecimento das aeronaves) fica em Guarulhos.
DIÁRIO – Quais são as novas aquisições de aeronaves para 2014?
LUIZ DA GAMA MÓR – Estávamos há tres anos sem trazer novos aviões, e tínhamos feito uma encomenda grande de A-350, quando compramos sete A-330 novos e outros A-320. No entanto, esse projeto A-350 atrasou e só vão entrar no início de 2017. A TAP não pode esperar. Está entrando este ano em operação, em agosto, quatro da família A320 e dois da família A330; este é o crescimento nosso para este ano. E estamos com negociações avançadas com a Embraer para a renovação de frota dos aviões da Portugália, que é a empresa que nos apoia, mas ainda não está nada decidido. São aviões que serão usados para atender nosso segundo hub, que é a cidade do Porto e cidades de menor porte, dentro de Portugal.
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