Todo o país não desconhece, que estamos carentes de bons serviços públicos de infra estrutura e saneamento básico
por Mário Beni*
Insondáveis escolhas, íntimas, conscientes e inconscientes, camadas, camadas mentais poderíamos dizer simbólicas, linguagens da intimidade que o cérebro registra o tempo todo, consolidando hábitos, cristalizando recorrências foram sufragadas nas urnas do voto popular.
A maioria despreza a corrupção. Mas muitos que pensam que ela é endógena e sistêmica, portanto, intrínseco ao sistema e atingem invariavelmente todos os poderes constituídos.
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De uma certa forma parece ser este o cenário que nos últimos anos se apresenta ao nosso discernimento e às nossas conclusões.
Os brasileiros aprenderam desde sempre a ver o contraventor, o corrupto como símbolo de um país que não consegue sair do lugar, onde a lei não se aplica à todos e o “malfeito” nasce como erva daninha adubada pela arrogância e pela certeza de impunidade dos que detém o poder. A relação dos brasileiros com a subornação e envilecimento é confusa e difusa, em alguns casos até permissiva e atenuada, dependendo da gradação do ilícito.Temos uma espécie de moral coletiva distendida…. Porém mais recentemente, sobretudo após a Operação Lava Jato, a intolerância aproxima-se a zero e o número de pessoas que deploram a inocência fingida dos acusados cresceu exponencialmente. Aplaudem por isso, intervenções como essa, que pela primeira vez está pondo na cadeia o corrupto e o corruptor, este último sempre poupado no passado, portanto surpreendentemente, encarcerando gente que se achava inatingível, acima do bem e do mal.
Todo o país não desconhece, que estamos carentes de bons serviços públicos de infra estrutura e saneamento básico.
O brasileiro médio tem fé e esperança. Vê o Estado como provedor geral e protetor.
Os destacados equívocos e desfalecimento da educação, da saúde e sobretudo da segurança deixam a desejar; direitos são desrespeitados a céu aberto. O Estado não cumpre corretamente as suas obrigações, as reformas vitais como a da Previdência e a Tributária patinam no Congresso a espera de trocas e compensações no jogo político do poder. Milhões sentem na pele o efeito dos preconceitos, da humilhação, da insegurança, da violência policial.
Atribuem tais desgraças tanto a incompetência dos governos quanto a ” certeza de que o Estado é conduzido com os olhos nos mais ricos e privilegiados. O brasileiro médio tem fé e esperança. Vê o Estado como provedor geral e protetor.
Por essa via, transfere sua expectativa para políticos habilitados a continuar explorar a ingenuidade popular numa prática clientelista de 60 anos atrás. Não entende porque a elite nacional se mostra cega e indiferente à miséria e à pobreza endêmica do País.
A população brasileira não está em guerra consigo mesmo, porém assiste cada vez mais entediada e descrente, às
disputas despudoradas no Congresso Nacional, entre a justiça a política, entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, como se fossem capítulos de uma novela sem data para acabar.
Nunca se viu em tempo algum os três poderes fazendo política, aberta, descarada e competido entre si.
Passam-se os dias, os personagens dessa ópera bufa que continuam sempre os mesmos, como se não envelhecessem, recusando-se com peremptoriedade a sair de cena.
*Mário Beni é Professor Titular (aposentado) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.