O turismo e a democracia – por Otávio Novo*

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A experiência da Democracia e a prática de atividades ligadas às viagens e ao Turismo são temas abordados de forma equilibrada e harmoniosa neste artigo Turismo e a Democracia de Otávio Novo, confira:

Escrevo esse artigo num quarto de hotel durante uma viagem de três semanas longe de casa, entre trabalho e lazer e, diante de tantas outras coisas para pensar, surgem reflexões sobre a relação entre o turismo e a democracia.

Isso mesmo, afinal, como sempre, viajar é a oportunidade de observar e viver fora da normalidade, de ir além das nossas rotinas limitadoras e nesse exercício podemos mudar ou reforçar nossos conceitos.

E certamente, um desses conceitos, especialmente nesse momento nacional importante, é o da relação e entre as atividades turísticas e as práticas democráticas de uma sociedade como a nossa.

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Mas será que o turismo tem mesmo a ver com a democracia? Em que sentido?

Quando viajamos nos expomos ao diferente. Somos, na maioria das vezes, forasteiros, estranhos contando com a consciência coletiva local de permitir nossa presença .

Viajar é usufruir da aceitação das pessoas que residem e vivem nos locais por onde passamos e exploramos, no bom e, por vezes, também no mau sentido.

E mesmo que não pareça, mas nas duas frases anteriores passamos por características do turismo que se confundem com as bases da democracia, e a principal delas é a garantia do respeito ao que não seja comum, conhecido e igual.

Na democracia,  a individualidade é protegida pelo coletivo, que define os limites e proteções para que todos possam usufruir da liberdade sem comprometer as condições mínimas para que essa possibilidade se mantenha.

No Turismo e na hospitalidade, o mesmo acontece, e os visitantes irão contar com a permissão dos anfitriões para viverem grandes experiências até o limite do que se considera saudável, respeitoso e condizente com as regras e costumes locais.

Em ambientes democráticos, todos nós somos a maioria e a minoria ao mesmo tempo, queremos nossa liberdade e prezamos pelo bem comum. Somos os anfitriões e visitantes dos “destinos” das nossas vidas.

Por isso, fica impossível dissociar a ideia de viajar e receber pessoas dos conceitos que baseiam a democracia. Independentemente das nossas impressões e frustrações pessoais prevalece o respeito a nossa essência comum. Afinal não é porque nos frustramos com o local das nossas férias que deixaremos de agir de forma civilizada e respeitosa, não é?

Portanto, diante dos acontecimentos estarrecedores de destruição e desrespeito ao coletivo ocorridos  em Brasília no último dia 08/01, fica aqui uma forte recomendação àqueles que ali atuaram, e também aos que veem alguma razão/explicação/justificativa para as violências praticadas: Viajem e recebam viajantes!

Façam turismo no sentido amplo da palavra, abram o coração e a mente para o diferente, relembrem a importância da hospitalidade ao ser recebido num lugar distinto, recriem laços com aqueles que não são iguais.

O turismo traz ensinamentos que deveriam estar nos programas educacionais de todos porque assim, certamente, teríamos uma sociedade realmente educada para entender, aceitar e aproveitar as diferenças e não se revoltar e atacá-las agressivamente.

Infelizmente, a grande diferença entre turismo e democracia é que o primeiro não é inclusivo como a segunda, já que a democracia é base das sociedades (maduras) em que todos fazem parte.

Assim, cabe ao setor do turismo, e todos que nele atuam e dele usufruem,  usar seu DNA acolhedor para rechaçar a ignorância que além de causar prejuízos humanos, econômicos e históricos, nos transforma cada vez mais num povo  e num destino mais distantes dos sonhos e roteiros de viagem dos turistas do Brasil e do Mundo.

Enfim, o turismo e a democracia são similares porque surgem da mesma fonte , ou seja, o ser humano e suas ricas diferenças.

Depende de cada um de nós defendermos e fortalecermos ambos.


Otávio Novo é advogado, profissional de Gestão de Riscos e Crises, atuando, desde o ano 2000, em empresas líderes nos setores de serviços, educação e hospitalidade. Durante 6 anos foi responsável pelo Departamento de Segurança e Riscos da Accor Hotels na América Latina. Atualmente é consultor, membro da comissão de Direito do Turismo e Hospitalidade da OAB/SP 17/18, professor e desenvolvedor de materiais acadêmicos e facilitador na formação de profissionais e na organização de empresas do setor do turismo e hospitalidade.  Coautor do livro “Gestão de Qualidade e de crises em negócios do turismo” – Ed. Senac.  É criador e responsável pelo projeto Novo8 – www.novo8.com.br 

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