Por José Roberto de Oliveira –
Quando se fala do início do Rio Grande do Sul que conhecemos hoje vem uma série de ideias, umas de vertente luza e outras espanhola, mas e as pessoas que viviam no território há 12.000 anos?
Gente da Nação Guarani, Caingangue, Charrua, Guenoa, Minuano, Caagua e tantas outras, quando da chegada dos primeiros padres jesuítas, habitavam cada rincão da terra gaúcha. Em 3 de maio de 1626 Roque Gonzales fundava a ‘Primeira Querência do Rio Grande’, a redução Jesuítico-Guarani de São Nicolau. Uns dias depois chegaram para novas fundações Afonso Rodrigues e João de Castilhos, os três hoje Santos da igreja católica, mortos em nosso chão. Naquela primeira fase foram 18 reduções no território nas bacias do rio Uruguai, Ibicuí e Jacuí.
Neste período se introduziu o primeiro gado, cavalos e ovelhas no estado através do Padre Cristóvão Orelhano de Mendonza, fundador da Redução de São Miguel Arcanjo (1632), e que vem a ser o gado sem marca e sem sinal o “orelhano” que tanto cantamos em nossos dias. A este Padre, o Rio Grande do Sul e o Brasil devem muito agradecer. É importante lembrar que foi a pecuária que se multiplicou imensamente nos campos sulinos e permitiu a partir de 1634, data da introdução, o crescimento das reduções e depois todo o modo de ser do povo gaúcho.
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Esta mesma genética, depois, multiplicou-se em milhões de cabeças e foi um dos motivos de os jesuítas retornarem em 1682, passados 45 anos dos ataques dos bandeirantes paulistas que os tinha expulsado em 1638. Esse mesmo gado fez o Tropeirismo – levando o gado e especialmente as mulas para a partir da comercialização em São Paulo, irem às Minas Gerais e lá criarem a riqueza conhecida. O mesmo gado fez a economia das charqueadas e a alimentação dos milhões de escravos, mão de obra que tocou o país por tantos séculos.
Finalmente o mesmo gado fez as estâncias, períodos muito importantes da economia e cultura rio-grandense.
A morte de Cristovão de Mendonza se deu cristianizando perto de onde hoje é o município de Caxias do Sul, distrito de Piaí, no dia 26 de abril de 1635, na Região da Serra do Rio Grande do Sul. Montoya (p.232) escreveu sobre o ataque: “À vista disso, saltou o Padre num cavalo, metendo-se a animar com estranho valor a seus amigos… Teria ele estado em condições de salvar a sua vida, mas, para dar a vida eterna a um catecúmeno, que atravessado de uma seta agonizava, aproximou-se dos inimigos para batizá-lo, momento em que foi martirizado”. Os mártires jesuítas mortos durante os anos 1609 e 1768 somam-se cerca de 30: quatro deles mortos pelos bandeirantes paulistas e o restante pelos nativos.
Hoje as Missões compõem uma grande região turística que recebe visitantes do mundo inteiro, porém o maior número é de gaúchos que querem conhecer as raízes onde tudo começou: o churrasco, o chimarrão e o primeiro gaúcho – peão das estâncias jesuíticas. São Miguel é o único Patrimônio Cultural da Humanidade do Sul do Brasil, onde diariamente é apresentado o Espetáculo de Som e Luz que conta a saga missioneira. Também se pode andar a pé ou de bicicleta no Caminho das Missões com roteiros de 18, 14, 8 ou 3 dias, além de visitar o conjunto dos Sete Povos e se tiver um pouco mais de tempo, passar ao lado da Argentina e Paraguai completando os 30 Povos das Missões. Conhecer as Missões é dar um mergulho nas raízes do Mundo Gaúcho e da América Latina.