Gigante da aviação fechada pela ditadura militar também planeja selar parcerias envolvendo o licenciamento do nome, com o objetivo de transmitir o legado de sua história às novas gerações
EDIÇÃO DO DIÁRIO com agências
Rio de Janeiro, setembro de 2020 – Uma das marcas mais míticas da história empresarial do país, a pioneira da aviação Panair do Brasil, está prestes a voltar ao ar. Mas não mais no setor aéreo, no qual chegou a operar a maior malha de rotas domésticas do mundo e uma rede internacional que alcançava quatro continentes. A companhia, fechada arbitrariamente pela ditadura militar em 1965, conseguiu reabilitar-se como pessoa jurídica trinta anos mais tarde, após longa batalha nos tribunais. Desde então, vem administrando suas propriedades remanescentes e acompanhando os processos propostos contra a União pela violação de direitos que sofreu. Agora, planeja associar seu nome a entidades e parceiros que atuem na defesa de direitos civis e humanos.
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“Vivemos um período crucial da história da nossa jovem democracia. Queremos contribuir com os debates, seja no âmbito acadêmico, como já temos feito, por meio da participação em congressos e outros eventos, ou de mão dadas com a sociedade civil e organizações nacionais e internacionais que atuem nesses campos”, diz Rodolfo da Rocha Miranda, presidente da Panair e filho de Celso da Rocha Miranda, então dono da Ajax, maior corretora de seguros da América do Sul, e da Companhia Internacional de Seguros, o qual, nos anos 1960, dividia o controle acionário da aérea com Mario Wallace Simonsen, exportador de café e proprietário da TV Excelsior, entre outras empresas. No ano passado, a Panair patrocinou uma exposição no Museu Histórico Nacional.
O movimento é aderente à história da própria companhia. Relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregue à Presidência da República em 2014 confirmou que o estrangulamento econômico sofrido pelos sócios na época da ditadura, “mediante bem-urdidos Atos de Estado, é comprovado”. De fato, a empresa atestou no Judiciário que dispunha de todas as condições técnicas, jurídicas e financeiras para operar, quando teve suas concessões de voo suspensas, sem aviso prévio ou oportunidade de defesa. A falência, decretada em tempo recorde e sem que houvesse qualquer título em protesto, causou o desemprego de cinco mil pessoas. Na época, a Panair era a maior aérea em todo o Hemisfério Sul, dona de boa parte da infraestrutura de telecomunicações aeronáuticas do continente sul-americano, de terrenos de aeroportos brasileiros e também da Celma, a mais importante oficina de revisão de motores de avião fora dos Estados Unidos e da Europa (desapropriada e estatizada por decreto em 1966, foi reprivatizada em 1991 e hoje pertence a um grupo estrangeiro). Para impedir o retorno às operações mesmo após o pagamento de todos os compromissos, a União ainda baixou três decretos-leis especiais contra a companhia, mantendo-a no chão para sempre.
“Foram atos de perseguição continuados, com o objetivo de destruir o poder econômico daqueles empresários, que não estavam alinhados aos valores da ordem política que se instalou. Mantemos nossa causa até hoje, pois ainda não recebemos uma reparação moral, mesmo tendo os crimes perpetrados pelo Estado sido reconhecidos em documentos, por representantes da União, antes e depois da redemocratização. Também contamos e recontamos a história porque não queremos que algo como aquilo aconteça novamente, com ninguém. A insegurança jurídica que caracteriza governos que flertam com o autoritarismo pode atingir a todos, provocando danos humanos e materiais incalculáveis”, destaca Rocha Miranda.
Para fincar a bandeira nesta nova fase, a companhia lançou seu primeiro site oficial em www.panair.com.br. Feito pela RobotStudios, é integrado a perfis em redes sociais – Instagram, LinkedIn, Facebook, Twitter e YouTube). Os canais serão alimentados com conteúdos ligados não apenas à trajetória na aviação e no Judiciário, mas também às novas parcerias, como a que selou recentemente com a Organização das Nações Unidas – este ano, a Panair do Brasil tornou-se membro do Pacto Global da ONU, a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, formada por empresas e organizações sem fins lucrativos que discutem boas práticas e desenvolvem projetos alinhados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Outra frente de atuação será o relançamento da marca em produtos licenciados, com o objetivo de ampliar o conhecimento da história, especialmente junto às gerações mais jovens. “Estamos conversando com parceiros potenciais, dentro de critérios bem definidos. Queremos trabalhá-la em projetos alinhados às causas que abraçamos, ligadas a valores éticos universais”, explica o empresário. Um deles já ganhou sinal verde: o livro “Pouso forçado”, do jornalista Daniel Leb Sasaki, editado pelo Grupo Editorial Record e que conta os bastidores da destruição da empresa pela ditadura, está em fase de pré-projeto para tornar-se uma série de TV. O logotipo, uniformes e, possivelmente, até aviões da Panair recriados em computador estamparão cenas. Produtos que reforcem o reconhecimento da marca e de seu legado de pioneirismo, modernidade e luta por justiça também estão no radar, como maquetes de aeronaves, pôsteres e bolsas de viagem.
Para acompanhar a plataforma digital da Panair do Brasil, basta acessar:
Site: panair.com.br