Não, não é “só” pelos animais domésticos!
Minha oposição aos fogos de artifício vai além do impacto nos animais de estimação. Como uma entusiasta assumida de pets, é natural que eu seja contrária a fogos, mas a minha resistência não se limita a essa razão específica.
Muitos argumentam sobre a tradição e outros clichês, mas é importante lembrar que nem todas as tradições são benéficas. Houve um tempo em que a escravidão e os casamentos infantis eram considerados tradições, mas evoluímos e repensamos essas práticas. É hora de aplicar o mesmo princípio aos fogos de artifício.
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Vamos abordar alguns motivos para abolir os fogos de artifício?
Segurança
No Brasil, apenas nos cinco primeiros meses deste ano, 126 pessoas foram hospitalizadas após acidentes com fogos de artifício, enquanto em 2022 foram registradas 346 internações, de acordo com dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). O Ministério da Saúde destaca que cerca de 7 mil pessoas sofreram lesões decorrentes do uso desses artefatos entre 2007 e 2017, com 96 mortes registradas nesse período. Muitas vezes os acidentes ocorrem com crianças e adolescentes.
Outras Pessoas
O ruído intenso dos fogos é particularmente prejudicial para indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), causando sobrecarga sensorial e crises graves. Pessoas com epilepsia também correm o risco de desencadear crises devido aos barulhos e luzes dos fogos. Além disso, idosos, crianças pequenas e pessoas doentes podem sofrer estresse, ansiedade e desconfortos físicos e emocionais devido aos fogos de artifício.
Meio Ambiente
Além de gerar lixo desnecessário, a queima de fogos contribui para a poluição do ar, liberando substâncias químicas e metais prejudiciais à saúde. Quando queimados sobre o mar, os resíduos afetam também os animais marinhos, além do risco de incêndios e danos à rede elétrica.
Animais Silvestres
O som, luzes e cheiro dos fogos têm efeitos devastadores sobre os animais, causando pânico, acidentes e mortes. Aves e morcegos são particularmente afetados, sofrendo graves consequências na orientação e saúde.
Animais Domésticos
Os animais de estimação, com sua audição extremamente sensível, sofrem consideravelmente com o barulho dos fogos, resultando em casos de pânico, acidentes e problemas comportamentais. Muitos animais chegam a convulsionar até a morte, sofrer paradas cardíacas ou envolver-se em acidentes graves.
Estresse nos Animais de Produção
Além dos animais domésticos, animais de produção, como vacas, cavalos e ovelhas, são suscetíveis ao estresse causado pelos fogos de artifício. O barulho repentino pode resultar em desorientação, diminuição da produção de leite e outros impactos negativos na saúde desses animais.
Desperdício Financeiro e Recursos Naturais
Os fogos de artifício representam um desperdício considerável de recursos financeiros e naturais. Muitas vezes, grandes quantidades de dinheiro são investidas em fogos que proporcionam uma experiência visual efêmera, enquanto esses recursos poderiam ser direcionados para causas mais significativas.
Seguir a Lei
Muitos estados e municípios brasileiros já proíbem fogos de artifício com estampido, embora a legislação nem sempre seja seguida. Um Projeto de Lei que visa a proibição desses fogos em todo o território nacional está em tramitação no Congresso Nacional há quase dois anos, PL n° 5, de 2022, aguardando aprovação.
Falta a implementação de leis mais rigorosas, fiscalização adequada, punições coerentes e, acima de tudo, empatia e respeito ao próximo.
Promover alternativas mais sustentáveis e seguras para celebrações, como shows de luzes sem estampidos, pode contribuir para a preservação do meio ambiente e minimizar os impactos negativos associados aos fogos de artifício tradicionais.
Este posicionamento é importante para empresas e marcas, pois demonstram os valores e princípios das organizações. Se posicionar perante assuntos polêmicos pode ser desconfortável, e certamente vai desagradar alguns, mas cada vez o mercado exige das empresas compromisso e ações que sejam coerentes com sua narrativa.
*por Sharlene Irente, colaboradora do DIÁRIO e sócia do CaoMigo