Renê Hermann, da Costa Cruzeiros: “cruzeiros geram 1.1 bi de receita. É preciso mais atenção do governo”

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“O porto de Barcelona cobra em média R$ 4 mil dólares para atracar um navio, enquanto o de Salvador (BA) cobra pelo mesmo serviço um valor abusivo de R$ 100 mil, o que faz com que os navios escolham destinos com atracagem e taxas menores para realização de cruzeiros”, essa comparação foi feita por Renê Hermann diretor da Costa Cruzeiros no Brasil.

De acordo com Renê Hermann, uma pesquisa realizada pela Clia Abremar – Brasil (Cruise Lines International Association) por meio da Fundação Getúlio Vargas, revelou que o país arrecadou R$ 1,1 bilhão com os cruzeiros marítimos na temporada 2013/2014. Este valor corresponde a transporte, hospedagens, passeios, alimentação, atracagem e taxas portuárias. Em entrevista ao DT, Hermann faz um detalhamento da pesquisa e revela que as taxas abusivas cobradas por práticos para ancorar os navios acabam encarecendo o preço das cabines e diminuído o números de navios que realizam cruzeiros pelo país, acompanhe abaixo entrevista exclusiva concedida ao editor do DIÁRIO, jornalista Paulo Atzingen e ao repórter freelancer do DT, Guilherme Brito.

DIÁRIO – O custo de um prático incide no custo de uma passagem?

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Renê Hermann – Sim, especialmente porque o custo de um prático aqui no Brasil é bastante abusivo. Um exemplo é Salvador, onde o prático cobra R$ 100 mil para simplesmente atracar e depois tirar o navio dessa atracação, enquanto em outros lugares os valores cobrados variam de US$ 5 mil a US$ 10 mil dólares. Este valor que é cobrado aqui faz com que as empresas tenham que cobrar mais caro, ou faz com que as empresas tenham um retorno menor de navios quando eles vêm para América do Sul, levando seus navios para destinos com prático e outras despesas portuárias mais baratas, tanto que a indústria do turismo tinha 20 navios na costa brasileira, nesta temporada o número reduziu para 10 e a previsão para 2016 é que o número continue o mesmo.

DÍARIO – O Senhor pode fazer um comparativo do custo de um porto na Europa e o custo de um porto no Brasil?

Renê Hermann – O porto de Barcelona, que é um destino onde você tem muitos navios, que podemos comparar a Salvador, cobra perto de 4 mil dólares para atracar um navio, enquanto na capital baiana cobra-se R$ 100 mil reais a atracação. Nós temos que valorizar este trabalho, mas os preços são bastante abusivos. A própria presidente Dilma Rousseff criou a Comissão Nacional de Assuntos de Praticagem (CNAP) e vamos ver se com isso iremos conseguir regular essas tarifas a um preço justo.

Navios ancorados no porto de Salvador (BA)
Navios ancorados no porto de Salvador (BA)

DIÁRIO – Nesses último anos ocorreu algum avanço na estrutura dos portos brasileiros?

Renê Hermann – Muito pouco, quase nada. Nós temos hoje o terminal Concais  (Santos) que é um terminal excelente. Já o Rio de janeiro está passando por uma modernização que deve ficar pronta para a próxima temporada. Mas na verdade o que nós precisamos são de novos destinos; hoje quando você vai para o Nordeste você sai de Santos, passa pelo Rio de Janeiro, depois Ilhéus. Nesta cidade temos sempre problemas.  Ali você faz uma solicitação de atracação um ano antes e se tiver um cargueiro no dia da atracação nós somos obrigados a retirar o cargueiro e pagar as custas deste cargueiro para podermos atracar, e isso gira em torno de R$S 25 mil dólares , que acaba entrando no nosso cálculo de custos incidindo no preço da cabine. E isso não é só em Ilhéus, isso acontece em Maceió e em outros lugares. Isto é um absurdo, porque nós já solicitamos esta atracação um ano antes, o pedido é aprovado por eles, mas quando você chega no berço você não tem a atracação, então o que nós precisamos é mais destinos e modernização nos portos e controle de atracagem.

Imagem aérea do porto do Rio de Janeiro que está passando por reestruturação para próxima temporada
Imagem aérea do porto do Rio de Janeiro que está passando por reestruturação para próxima temporada

DIÁRIO – O que o Brasil ganha com os cruzeiros marítimos?

Renê Hermann – Um pesquisa feita pela [Fundação] Getúlio Vargas na temporada 2013/2014 revelou o impacto econômico dos navios quando eles aportam e seus destinos. Só cruzeiristas e tripulantes deixaram em toda a temporada R$ 455 milhões no País, os armadores gastaram R$ 693 milhões, em Santos, no Rio de Janeiro, Salvador, Ilhéus e em todos os destino que nós atracamos os nossos navios, e tudo isso foi gasto em que? Foi gasto em combustível, água, mantimentos e também as despesas portuárias. O impacto econômico nos destinos na temporada 2013/2014 foi de R$ 147 milhões. Transporte antes e após a viagem: R$ 74 milhões. Transporte durante a viagem, ou seja passageiro que desceu, pegou um ônibus, um táxi ou outro meio de transporte: R$ 26 milhões. Alimentos e bebidas: R$ 133 milhões. Passeios turísticos: R$ 61 milhões. E hospedagem antes e após a viagem: R$ 14 milhões. Então nós temos ai um total de R$ 1,1 bilhão, um valor que o governo tem que ver que é muito importante. O imposto que é gerado sobre este R$ 1,1 bilhão eles sabem muito bem o que representa. É isso que os destinos internacionais vêem, mas que infelizmente os nossos governantes não vêem. E se o brasileiro, que anteriormente eram 850 mil fazendo cruzeiros, e hoje são 600 mil, podemos afirmar que se ele não faz o cruzeiro aqui ele faz lá fora, e o dinheiro que ele deixa de gastar aqui ele gasta lá fora, então o governo tem que se atentar para este montante que os cruzeiros marítimos no Brasil deixa em cada destino.

Passageiros desembarcam de cruzeiros e deixam milhões de reais em todos os destinos que fazem parte dos roteiros dos cruzeiros marítimos brasileiros
Passageiros desembarcam de cruzeiros e deixam milhões de reais em todos os destinos que fazem parte dos roteiros dos cruzeiros marítimos brasileiros

DIÁRIO – Qual o balanço da temporada 2014/2015 até agora?

Renê Hermann – Nesta temporada nós tivemos menos navios, com uma capacidade de aproximadamente 600 mil leitos, a Costa Cruzeiros por exemplo manteve os preços em reais, o dólar subiu agora no final da temporada, portanto não tivemos muito prejuízo, nós tivemos uma ocupação de 108%. Você pode me perguntar, por que 108%? A ocupação nós medimos com total de passageiros do primeiro, segundo, terceiro e quarto leito, dividido pelo total de cabine duplas que temos a bordo, que totalizou 108% percentual que consideramos bom; já a ocupação de cabines duplas ficou em torno de 98%. Esta foi uma temporada que vendemos destino Bahia e Argentina, fizemos poucos mini-cruzeiros. No ano que vem estamos vindo com dois navios, Costa Pacífica e voltando com o Costa Mediterrâneo e agora estamos trabalhando para 2017 com o objetivo em aumentar este número para quatro navios, mas tudo isso vai depender do desempenho e do emprenho dos nossos governantes.

Entrevista publicada originalmente dia 31 de março de 2015

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