O Vaticano mostrou na última sexta-feira (22) os apartamentos da suntuosa residência de verão dos papas nas Vilas Pontifícias de Castelgandolfo, perto de Roma, abertos ao público a pedido expresso do papa Francisco, que nunca os utilizou e quer transformá-los em um museu.
Desde sábado, os aposentos usados pelos pontífices para passar as férias de verão podem ser visitados pelo público em geral, oferecendo um olhar mais íntimo sobre a vida dos papas.
Graças a um itinerário organizado pelos Museus Vaticanos, o espaço, localizado 25 km ao sul de Roma, com vista para o lago Albano, vai passar de residência de verão a atração turística.
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Esta mudança se deve a uma decisão de Francisco, que desde o início do seu papado, em 2013, renunciou a se trasladar a este recanto aprazível nos arredores de Roma para passar os meses mais quentes do ano, como era a tradição.
Cumprindo o desejo do papa, o espaço foi aos poucos sendo aberto ao público, começando pelos famosos jardins ornamentais italianos, depois a Galeria dos Retratos dos Pontífices, e agora os quartos usados pelos papas como retiro de verão.
Construída sobre ruínas imperiais, entre elas um teatro romano, Castelgandolfo é a maior residência do Vaticano.
No segundo andar, ainda se pode perceber a presença do papa Bento XVI, que deixou no escritório 12 volumes de léxico teológico em alemão.
O pontífice alemão gostava de descansar e tocar piano em Castelgandolfo. Após anunciar que deixava o cargo, tornando-se o primeiro papa a renunciar em sete séculos, fez sua última saudação como papa da varanda deste edifício.
Mesmo depois de deixar o Vaticano, foi ao palácio para fugir do calor em julho de 2015, convidado por Francisco.
Antes dele, o papa polonês João Paulo II (1978-2005) passou longas temporadas na residência e inclusive mandou construir uma piscina no local.
A principal atração da visita será o quarto decorado em tons de verde claro onde dormiram 15 papas. Lá, os visitantes poderão ver a cama de solteiro, com uma cabeceira de madeira e mármore, e uma capela adjacente onde várias gerações de papas se ajoelharam para rezar.
Este cômodo de tamanho médio é o lugar mais acolhedor para o visitante, que antes tem de passar por uma série de salas protocolares, quase desprovidas de móveis. Naquele quarto morreram dois papas: Pio XII em 1958 e Paulo VI em 1978.
“Aqui a História se mistura com as pequenas histórias”, disse Osvaldo Gianoli, diretor das Vilas Pontifícias.
Refugiados de guerra
O lugar já esteve aberto ao público durante o final da Segunda Guerra Mundial, quando cerca de 12 mil habitantes dos arredores encontraram refúgio na propriedade de 55 hectares.
O quarto do papa se transformou em uma creche onde dormiram cerca de 40 bebês, alguns dos quais inclusive tiveram que ser colocados na cama do pontífice. Daí surgiu o apelido “as crianças do papa” e os nomes de batismo que foram outorgados aos bebês, Eugenio para alguns e Pio para outros.
“A abertura dos apartamentos privados tem um valor simbólico e é uma representação da política pastoral do papa Francisco”, disse Gianoli na sexta-feira, durante a cerimônia inaugural.
Francisco, que após ser eleito denunciou as práticas mundanas da Igreja, sempre considerou inaceitável a existência da pobreza no mundo.
Em 2014, o papa argentino decidiu abrir os jardins de estilo italiano da “Villa Barberini” de Castelgandolfo, permitindo visitas guiadas em grupos.
Há um ano, os turistas também podem viajar em um trem histórico na ferrovia antiga que liga a cidade vaticana até a residência papal de verão, assim como visitar uma galeria com retratos de 51 pontífices.
Francisco, conhecido por ser “antiférias”, se mostrou muito caseiro e feliz por morar em um modesto apartamento de 50 m² dentro do Vaticano.
Desde o início do seu pontificado, ele anunciou que renunciava definitivamente a pernoitar em Castelgandolfo, onde só esteve em duas ocasiões.
Sua ausência, porém, não é excepcional, de acordo com Antonio Paolucci, diretor dos Museus do Vaticano, que disse que mais da metade dos 33 papas que poderiam ter desfrutado as instalações deixaram passar este privilégio.
Assim, nada impedirá que seus sucessores voltem a ocupar o lugar. (AFP)