Rivalidade entre empresas de turismo e indústria da soja pega fogo no Pará

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Palco da polêmica em torno da prisão de quatro ambientalistas acusados de incendiar uma área protegida na Amazônia, o povoado de Alter do Chão, em Santarém (PA), vive nos últimos anos uma forte disputa em torno do modelo de turismo na região.

G1 (com ediçao do DT)

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Na tarde da última quinta-feira (28), a Justiça determinou a soltura dos quatro ativistas, integrantes da Brigada de Alter do Chão, grupo que ajuda a combater incêndios florestais na região.

De um lado, famílias poderosas e empresários locais defendem a construção de grandes hotéis e resorts à beira do rio Tapajós, conhecido pelas águas cristalinas e pelas praias de areia branca.

De outro, movimentos sociais e ONGs ambientalistas — como as vinculadas ao grupo que foi preso — advogam um turismo de menor impacto, que preserve as características da região e impeça a expulsão de comunidades tradicionais.

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Esse embate é o pano de fundo da prisão dos integrantes da Brigada, diz à BBC News Brasil o cientista social Maurício Torres, ex-morador de Alter do Chão e professor da Universidade Federal do Pará (Ufpa), em Belém.

Especialista em conflitos territoriais no Pará, Torres diz que a lógica das disputas em Alter do Chão é distinta da que se observa em muitas outras partes da Amazônia.

“São os conflitos de uma cidade que vem se expandindo. Há nessa área comunidades que sofrem pressão para sair, mas quem está avançando não são madeireiras nem fazendas, é a especulação imobiliária, muito focada no turismo”, afirma.

Em 2017, os dois grupos entraram em choque quando a Prefeitura de Santarém discutiu alterações no Plano Diretor do município. Entre as mudanças aventadas estava possibilitar a construção de prédios de até seis andares em Alter do Chão e de um porto no lago do Maicá.

Houve uma forte reação contrária capitaneada por movimentos sociais, universitários e indígenas, e as propostas não avançaram.

Segundo a Secretaria do Turismo de Santarém, cerca de 190 mil turistas visitaram Alter do Chão em 2018.

O boom do turismo na região fez com que áreas ao redor do povoado se tornassem alvo de forte interesse imobiliário. É o caso das terras na Área de Proteção Ambiental Alter do Chão, onde houve o incêndio em setembro.

Segundo a Polícia Civil do Pará, que prendeu os brigadistas, o grupo é suspeito de provocar o incêndio para justificar a transferência de recursos à unidade.

Nesta quinta-feira, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), anunciou a troca do delegado responsável pelo caso em meio aos questionamentos sobre a legitimidade da operação. Barbalho disse que o delegado Waldir Freire, diretor da unidade policial encarregada de crimes ambientais, assumirá a chefia do inquérito.

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