Fábio Mota, secretário de Turismo de Salvador: “Investir no turismo interno é a prioridade para manter o turismo vivo”

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“O cancelamento do Carnaval em Salvador, maior evento da cidade, foi um baque muito grande”, afirma secretário

POR ZAQUEU RODRIGUES (Colaboração Especial)


Em pouco mais de um ano de pandemia, mais de 430 mil pessoas já morrem no Brasil vítimas da covid-19. Desde março de 2020, mês em que os casos dispararam em território brasileiro, o setor de turismo iniciou uma batalha dramática pela sobrevivência. Em poucas semanas o segmento foi tragado para a maior crise da sua história. A retomada, ensaiada desde agosto de 2020, prospera no embalo da vacinação da população brasileira. A demora na imunização representa hoje o maior obstáculo para a recuperação das viagens.

De acordo com a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o turismo brasileiro perdeu mais de R$ 341,1 bilhões de reais desde março de 2020. Apesar de os horizontes permanecerem borrados, as incertezas, contudo, já começam a revelar alguns contornos. Neste segundo texto de RUMOS DO TURISMO no Brasil – Série iniciada com a secretária de Turismo do Recife, Cacau de Paula –, o jornal Diário do Turismo conversa com o atual secretário de Turismo e Cultura de Salvador (BA), Fábio Mota, que aborda as prioridades da sua gestão e as estratégias para acelerar a retomada do setor.

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Dependente do turismo

Nos últimos sete anos, Mota comandou a pasta de Mobilidade de Salvador (Semob). Em janeiro de 2021 assumiu a secretaria Municipal de Turismo e Cultura. Sua trajetória inclui, de 2011 a 2014, o exercício da função de secretário nacional de turismo do Ministério do Turismo. Agora, na secretaria do setor mais afetado pela pandemia, afirma que vivencia o maior desafio da carreira. E justifica: “Salvador é uma cidade altamente dependente do turismo”. E lembra que o Carnaval, carro-chefe do turismo da cidade, não aconteceu neste ano. A Festa de São João, outro chamariz de turistas, foi igualmente cancelada.

Para o secretário de Turismo e Cultura de Salvador, o turismo atravessa o pior momento dos últimos anos. “A retomada está sempre sendo adiada em função das novas ondas de pandemia. Hoje, o turismo está se resumindo a viagens curtas e internamente”, visualiza Mota. Nesse cenário, a prioridade é falar com os viajantes do próprio estado, especialmente os das grandes cidades.

“Estamos focando as nossas ações para atrair os turistas que costumam viajar ao exterior e hoje não podem devido a pandemia. A Bahia é um estado muito grande e possui grandes cidades. A gente elaborou uma estratégia para atingir primeiro essas cidade; depois as do Nordeste; e, por último, o Brasil todo”, explica.

Demanda reprimida

Para Mota, existe uma demanda reprimida muito grande que irá impulsionar a retomada do turismo. Para atendê-la logo adiante, ele considera fundamental investir na qualificação do destino e na capacitação dos profissionais do setor. “Salvador passou por uma grande transformação nos últimos oito anos. Tivemos uma revigoração de todo o nosso patrimônio cultural e turístico. Isso qualificou bastante o nosso destino”, considera Fábio Mota, que diz que o setor de turismo retomará no segundo semestre de 2021 e início de 2022. “A melhoria está muito vinculada à vacinação. Infelizmente a vacinação está a conta-gotas”.

“Salvador gravita em torno do turismo”, ressalta o secretário de Turismo (Foto: divulgação)

Cidade da Música

A requalificação do destino é uma prioridade neste período. Entre as melhorias, o secretário cita as ações que estão sendo implementadas na Baía de Todos os Santos, apontada como a segunda maior Baía do Mundo. “Ela é belíssima, com ilhas maravilhosas. Criamos um comitê náutico para que a gente possa, na retomada, fazer eventos náuticos e qualificar as embarcações”, afirma Mota, que também destaca a conclusão do mais novo atrativo da cidade: o museu Cidade da Música da Bahia, em frente ao Mercado Modelo. A novidade reforça a vocação de Salvador como cidade da música, como é celebrada pela UNESCO. “A Cidade da Música da Bahia será um sucesso da cidade e será muito visitada”.

O secretário também avisa que a reforma do Mercado Modelo começará ainda neste semestre, e o desenvolvimento do espaço para abrigar o acervo do museu do arquivo público de Salvador. “Por ser a primeira capital do país, Salvador tem os arquivos mais importantes da América do Sul. Temos atas da Câmara de Salvador do tempo em que ela era a única do Brasil. Esses documentos são patrimônios. Estamos trabalhando na recuperação dos arquivos, que ocuparão um novo prédio que está em fase de construção. Nesse período de retração do turismo, estamos tentando melhorar o nosso destino, pois entendemos que teremos uma retomada forte a partir do segundo semestre; e temos que estar preparados tanto no aspecto de protocolos quanto de qualificação do destino”.

“Nesse período de retração do turismo, estamos tentando melhorar o nosso destino, pois entendemos que teremos uma retomada forte a partir do segundo semestre; e temos que estar preparados tanto no aspecto de protocolos quanto de qualificação do destino”.

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Apesar das dificuldades e prejuízos causados pela pandemia, Mota mantém as perspectivas positivas para a recuperação. A hotelaria da cidade, que chegou a ter 20% de ocupação, agora já começa a registrar mais de 50%. “Isso mostra que as nossas ações internas funcionaram”, comemora o secretário. A próxima ação é uma série de Lives para contar a história de Salvador e falar sobre o turismo com entidades e agências de viagens locais. São 24 Lives que acontecerão a partir de junho. “A prefeitura fará publicidade a nível nacional para que todos assistam. As Lives vão retratar a cultura, o turismo e a história de Salvador. Investir no turismo interno é a prioridade para manter o turismo vivo”, avalia ele.

O secretário acredita que Salvador, por ser um destino altamente dependente do turismo, está sentindo os impactos da pandemia mais do que as demais capitais. “Não temos em Salvador grandes indústrias, e também não temos grandes comércios. O nosso negócio aqui é o turismo”, especifica ele. O setor de turismo representa em torno de 30% da economia da cidade. Para ajudar os mais fragilizados dessa cadeia, a prefeitura criou o S.O.S Cultura e Salvador Para Todos, programas de auxílio. “Eles dão suporte aos mais fragilizados e foram criados com recursos da própria prefeitura Municipal de Salvador”, lembra Fábio Mota, que sublinha a importância dessas medidas de amparo.

Requalificação de Baía de Todos os Santos integra planejamento de retomada do turismo de Salvador (Foto: divulgação)

Linhas de Crédito

Para o secretário de Turismo e Cultura de Salvador, a recuperação do setor de turismo também passa pela ampliação de linhas de créditos acessíveis aos pequenos e médios empreendedores. “O setor de turismo passa por uma crise e não vai sair dela sozinho. Ele precisa de crédito, mas o acesso ao crédito ainda é muito limitado. É preciso melhorar e diversificar a questão do crédito ao setor de turismo. Precisamos deixar as linhas de créditos mais palpáveis para a realidade atual. A realidade da pandemia é diferente. Se antes da pandemia já era difícil conseguir linhas de créditos, isso se agravou”.

Fábio Mota afirma que Salvador está pronta para voltar a ocupar posição de destaque no turismo de negócios. “Hoje temos um Centro de Convenções de primeiro mundo. Estamos trabalhando forte nessa área de atrativos, de congressos, de turismo de negócios… O turismo de negócios, que já representou 50% do turismo da cidade em outros momentos, caiu bastante ao longo dos últimos anos. A nossa meta agora é ser o primeiro destino do Nordeste em turismo de negócios. O número de voos está aumentando e a malha aérea está sendo ampliada. Agora teremos voos direto para Porto Alegre e Curitiba. Estamos vivendo um momento único na cidade: temos um aeroporto completamente requalificado, um novo centro de convenções e uma cidade que se transformou nos últimos anos”.

O cancelamento do Carnaval, maior evento da cidade, foi um baque muito grande. Ele representa uma cadeia que vai desde a pessoa que trabalha no bloco segurando a corda até o empresário que é o dono do bloco.

Fábio Mota observa que o turismo vivencia um período de renovação. “Todo mundo está passando por uma fase de reinvenção, de buscar soluções criativas, digitais… Em Salvador, estamos na expectativa do aumento da vacinação para dar início à retomada. Está sendo um período difícil. O cancelamento do Carnaval, maior evento da cidade, foi um baque muito grande. Ele representa uma cadeia que vai desde a pessoa que trabalha no bloco segurando a corda até o empresário que é o dono do bloco. Salvador vive dos ensaios pré-carnaval e dos ensaios pós-carnaval. Para a hotelaria, o Carnaval é  como se fosse o 13º, e, para boa parte da população envolvida, o Carnaval é a única renda. Em Salvador existe uma expectativa muito grande pela retomada. A cidade gravita em torno do turismo”.

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