Assistir ao espetáculo ‘Sampa – o Musical’ apresentado todas as sextas e sábados na casa de espetáculos "Terra da Garoa", em São Paulo, é ter a certeza que a alma e o coração da maior metrópole da América Latina ainda pulsam, gravitam pelo ar, e sua identidade sobrevive em meio ao rodamoinho de tendências e modismos e toda essa parafernália tecnológica que vem substituindo o talento e a criatividade.
Na segunda vez que fui à casa, localizada na Avenida São João, no epicentro de São Paulo, pude me deter com mais tempo ao capricho e aos detalhes do show. Assistir ao 'Sampa – o Musical' é dar um mergulho para dentro da história paulistana e entender flashes de sua economia cafeeira, 'da deselegância discreta de suas meninas', de sua poesia forjada no trabalho, na pressa e nos automóveis.
"E se eu, antropofágico, comesse essa mocinha?"
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Mas longe das aulas de história, 'o Sampa' remete o paulista e o paulistano a uma época dos lampiões à gás, ao tempo dos bondes e da garoa e o show mais emociona do que ensina, afinal é este o seu objetivo. O ator José Rubens Chachá interpreta poemas de Oswaldo de Andrade, – um dos líderes da semana de Arte Moderna de 1922 – e esse personagem serve para amarrar o espetáculo em uma linha por ora inteligente, por ora hilária, quando interage com o público rememorando o movimento antropofágico, de Oswald: “E se eu, antropófagico, comesse essa mocinha, ou este senhor sentados na ponta desta mesa?”, pergunta o personagem ao público, que se estoura em risos.
O espetáculo Sampa traduz ao visitante e ao turista a natureza complexa do paulistano, resultado de um mix de raças e credos; sangue caboclo, mameluco, ibérico e guarani que corre nas veias das gentes daqui. O grupo de turistas japoneses (ou paulistas?) na mesa ao lado, aplaudiu de pé.
“A proposta da casa é resgatar o que é mais representativo da cidade de São Paulo e trazer de volta o conceito de casas de show de luxo da cidade", afirma Maurício Costa, relações públicas do empreendimento e articulador dos contatos corporativos.
Homenagens
O espetáculo é recheado de quadros bem concatenados e representativos de períodos ‘dourados’ da cidade. Os nomes Paulo Vanzolini, Ataulfo Alves e Adoniran Barbosa surgem sobrepostos ao palco em um jogo coreográfico assinado por Ulysses Cruz. “Grandes nomes da MPB, que ficaram esquecidos pela grande mídia ou pelo mercado business são lembrados no Sampa, ao mesmo tempo que temos uma programação fixa de shows de nível internacional”, completa Maurício.
Parceiros
Costa adianta que em seis meses a casa vem trabalhando importantes parceiros no mercado. “Temos nos aproximado muito das agentes de receptivo, agentes de viagens, guias de turismo, concierges e recepcionistas de hotéis. Estes profissionais e suas respectivas empresas têm nos proporcionado muito retorno, indicando o Terra da Garoa para os turistas e visitantes”, lembra o executivo. A Casa pode receber até 320 pessoas em dias de shows e até 700 pessoas para outros tipos de eventos.
A Casa pode receber até 320 pessoas em dias de shows e até 700 pessoas para outros tipos de eventos |
Comida com arte
O Terra da Garoa oferece também um mergulho na gastronomia paulistana. Desde pasteizinhos de feira, a quibes, ou casquinha de siri como entrada, aos pratos principais como o Pernil a Inglesa (Filé de Pernil Assado ao forno, Farófa de Banana da Terra com Brócolis ao Molho Roti), ou o Filet de Poisson Parmetier Paulista (Filé de Abadejo, Bata Parmetier, Salada de Cuscuz Paulista ao Molho Cítrico Siciliano). Estes, e outros pratos, assinados pelo chef André Boccato, são alusivos ao jantar oferecido pela tradicional família paulistana Almeida Prado, aos modernistas na Semana de Arte de 1922.
O show, de quase duas horas, termina por volta da 1 hora da madrugada. Muitos, como eu, retornam à avenida São João e olham para cima. Quem sabe caia uma garoa para homenagear os donos desta ideia e todos esses artistas?
Veja a progamação da casa em: www.terradagaroa.com.br
* Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO