Trem turístico mira viajantes domésticos para atravessar crise imposta pela pandemia de Covid-19, diz o presidente do atrativo
POR ZAQUEU RODRIGUES
O passeio a bordo do Trem do Corcovado até o Cristo Redentor é parte da memória afetiva de gerações de turistas brasileiros e estrangeiros. Primeiro trem turístico do Brasil, ele atravessa o Parque Nacional da Tijuca e apresenta a cidade maravilhosa das alturas. A ferrovia foi inaugurada em 9 de outubro de 1884 por Dom Pedro II. No início do século 20 ela se tornou a primeira ferrovia elétrica do país. Uma parte dos materiais usados na construção do Cristo Redentor, inclusive, foram transportados por seus trilhos.
“Quando o Trem do Corcovado está bem, é porque toda a cadeia turística do Rio de Janeiro também está. Se ele está com dificuldades, é sinal de que o turismo carioca está debilitado”
“O Trem do Corcovado é um termômetro do turismo do Rio de Janeiro“, diz o presidente do atrativo, Savio Neves, que completa: “Quando o Trem do Corcovado está bem, é porque toda a cadeia turística do Rio de Janeiro também está. Se ele está com dificuldades, é sinal de que o turismo carioca está debilitado”, considera ele, que lamenta as sucessivas crises vividas pelo destino. “Não é só violência, é pedido de recuperação judicial do Rio de Janeiro, é prisão de governador, é funcionalismo sem receber… isso prejudica a economia do Rio”.
Veja também as mais lidas do DT
Savio conta que, antes da pandemia de Covid-19, o Trem do Corcovado trilhava um caminho próspero. O número de passageiros crescia e a expectativa para 2020 era transportar 1 milhão de turistas. “Após dois anos de ressaca pós-Olimpíadas, o turismo do Rio começou a se recuperar em 2018. Em 2019 transportamos quase 800 mil pessoas. Os três primeiros meses de 2020 foram muito bons até que veio a pandemia de coronavírus e nos obrigou a interromper as atividades de março a agosto de 2020”.
O Trem do Corcovado retomou os passeios em setembro de 2020. Desde então até março deste ano, a média de ocupação permaneceu em torno de 20% do período pré-pandemia. Nas palavras do presidente do atrativo, o Trem do Corcovado “ficou praticamente fechado nesse período”. A luz no fim do túnel, prossegue Savio, brilhou em julho passado. “Em julho alcançamos 70% do movimento normal”. Esse índice recuou para 50% em agosto, uma queda que ele toma como normal nesse período entre agosto e setembro.
Imponderável
Savio Neves ressalta que é engenheiro, cartesiano e que tem uma formação fundamentada pelos números. Sendo assim, e diante de um cenário de incertezas, ele não se arrisca a fazer projeções sobre a retomada do turismo carioca. “É muito difícil ter uma previsão e apontar números num cenário imponderável”, argumenta Savio, que se mostra temoroso com a expansão da variante Delta no estado: “Ela entupiu novamente os hospitais, as emergências, e o número de mortes cresceu até para as pessoas vacinadas”.
Uma coisa está bem clara, observa Savio. Com a ausência de turistas estrangeiros, que representavam entre 30% e 45% da ocupação do Trem do Corcovado antes da pandemia de Covid-19, a atenção agora está direcionada aos turistas domésticos. “Estamos tendo que compensar o turista estrangeiro, que foi praticamente aniquilado, com os turistas do Rio de Janeiro e de estados próximos por meio de promoções e preços especiais. Essa é a estratégia para a gente ter uma retomada”, sublinha ele.
Uma coisa está bem clara, observa Savio. Com a ausência de turistas estrangeiros, que representavam entre 30% e 45% da ocupação do Trem do Corcovado antes da pandemia de Covid-19, a atenção agora está direcionada aos turistas domésticos.
Resistentes
Savio diz que o Trem do Corcovado é um dos 32 trens turísticos que resistem bravamente no Brasil. “São 32 heróis, entre eles os trens de Minas Gerais, Campos do Jordão, Serra Gaúcha. São operações de pequenos trechos que são mantidas com muitas dificuldades”, pontua.
Ele ressalta que o Brasil já teve 45 mil km de trilhos até metade do século passado. “Hoje são cerca de 27 mil km de trilhos apenas, e quase que 100% para transporte de cargas. Isso é um erro histórico que começou com Juscelino Kubitschek na década de 1950 com o desmonte da malha ferroviária para a expansão rodoviária”.
De lá para cá, o sucateamento das ferrovias foi contínuo, lamenta Savio. “Todos os presidentes mantiveram essa linha de desmonte, prevalecendo o modal rodoviário. É um crime, pois o Brasil tem dimensões continentais. Em outros destinos encontramos os dois modais, um complementando o outro. Os Estados Unidos e a Europa, por exemplo, são cortados por ferrovias, e sem deixar de lado a rodovia e o transporte aéreo”.
Apesar das dificuldades e da ausência de políticas que fomentem o transporte ferroviário, Savio mantém a esperança em dias melhores e não deixa de celebrar os 137 anos do Trem do Corcovado. “A sua história se mistura com a história do Rio de Janeiro. O Trem do Corcovado tem uma história linda e repleta de glórias”.