O Vietnã é um país cheio de contrastes. Tem um povo trabalhador e de sorriso fácil, belas paisagens, história singular, eminente culinária e cidades intensas com trânsito caótico. Muito negócio informal, muita sujeira, muita agitação e muito barulho: de gente, de música e sobretudo das buzinas. Ai as buzinas na Ásia; são um capítulo à parte.
Nas cidades as calçadas são reservadas ao estacionamento de motos e aos banquinhos dos inúmeros restaurante e cafés improvisados; nos running restaurants, quando a polícia vem todos correm. Passada a fiscalização todos voltam e seguem com a refeição. Pedestres na rua disputam espaço com carros, 60 milhões de motos e as bicicletas.
O sistema comunista, do tipo chinês, contrasta com a economia de mercado, do tipo na veia; o empreendedorismo está no sangue dessa gente. A relação deles com o dinheiro é de causar admiração ao capitalista mais selvagem.
Sim, há concentração de renda. Há Ferrari e Mercedes nas ruas. Centros comerciais com as marcas mais caras como Chanel, Louis Vuitton ou Hermes; basicamente para consumo local. Nessas lojas os funcionários falam menos ou pior inglês que aqueles que trabalham nas lojinhas de rua e nos mercados centrais cheios de turistas.
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As áreas nobres estão bem destacadas. Difícil é dizer quais são as áreas pobres. Parece, pelo menos onde circulamos, que classe média e pobres vivem lado a lado. Não vi propriamente favelas ou coisa assim, vi muita construção improvisada ao lado de prédios, casas e hotéis que pareciam mais caros. Também quase não vi mendigos nas cidades por onde passamos.
A dependência da China é evidente. O país vizinho é modelo político e econômico e colaborou com o Vietnã nas guerras contra a França e os Estados Unidos. Os chineses estão fortemente presentes com investimentos diretos e turismo. Porém, os vietnamitas estudam inglês, e, parece, admiram os ocidentais e têm preconceito, quase aversão, aos chineses.
Nas ruas de Hanói fomos abordados por crianças que precisam praticar o inglês que aprendem nas escolas; privadas, algumas bilíngue. Pragmáticas trazem questionários prontos. Perguntam, respondem, quando a conversa torna-se enfadonha despendem, agradecem e vão buscar outros turistas. Serão outras conversas?
Em Hoi An, o Senhor Mat, um solteirão de 42 anos, zelador do hotel em que nos hospedamos, me abordou, puxou conversa. Tinha o mesmo objetivo: praticar inglês. Depois, em conversa com a Iêda, contou que deixou a cidadezinha em que vivia e onde tinha seu próprio negócio para trabalhar e receber menos no hotel – pouco mais de 200 dólares por mês –, queria aprender inglês com os turistas. Entende que terá mais oportunidades quando dominar o idioma. Já contei a história da Hoa. Ela também aprendeu inglês com os seus clientes ocidentais. Mas é chinesa a maioria dos turistas que lotam as cidades vietnamitas.
Sei que opino levianamente sobre o que não conheço, mas são apenas as impressões que ficaram depois de passar umas semanas por aqui. Deixo o país com a melhor das impressões. A paisagem exuberante e a gastronomia, considerada por muitos como a melhor do sudeste asiático (discordo), são motes para atrair os turistas, mas o que surpreende mesmo no Vietnã é o povo.
OSVALDO ALVARENGA – CRÔNICAS DE VIAGEM
*Osvaldo reside em Lisboa e escreve para os blogs: Flerte, sobre lugares e pessoas e Se conselho fosse bom…, sobre vida corporativa e carreira. Atuou por 25 anos no mercado de informações para marketing e risco de crédito, tendo sido presidente, diretor comercial e diretor de operações da Equifax do Brasil. Foi empresário, sócio das empresas mapaBRASIL, Braspop Corretora e Motirô e co-realizador do DMC Latam – Data Management Conference. Foi diretor da DAMA do Brasil e do Instituto Brasileiro de Database Marketing – IDBM e conselheiro da Associação Brasileira de Marketing Direto – ABEMD, dos Doutores da Alegria e, na Fecomercio SP, membro do Conselho de Criatividade e Inovação.