Heloísa Mendonça (El Pais)
Um dos maiores temores da equipe econômica se tornou realidade nesta semana. A agência de classificação de risco Fitch retirou o selo de bom pagador do Brasil, uma chancela de credibilidade para investidores interessados no país. A nota foi reduzida de BBB- para BB+, o primeiro degrau do que é considerado o grau especulativo. Além disso, a agência de risco alterou a perspectiva de estável para negativa, sinalizando que pode voltar a rebaixar a nota do país.
A Fitch é a segunda das três grandes agências de risco a tirar o grau de investimento do Brasil. No mês de setembro, a Standard & Poor’s uma das mais prestigiadas do mercado, já havia tirado a “nota de bom pagador” do país, cortando a nota do país de “BBB-” para “BB+”, com perspectiva negativa. O rebaixamento por duas agências significa uma provável retirada de recursos investidos no Brasil, já que alguns fundos de investimento exige o selo de pelo menos duas agências para manter suas aplicações.
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Segundo a agência Fitch, o rebaixamento do Brasil reflete uma recessão da economia mais profunda do que a esperada anteriormente. Além disso, os desdobramentos adversos do cenário fiscal e o aumento das incertezas políticas dificultam a capacidade do governo de implementar medidas fiscais que estabilizem a crescente dívida.
“O cenário de deterioração doméstica está aumentando os desafios para as autoridades tomarem medidas corretivas para aumentar a confiança e melhorar as expectativas para crescimento, consolidação fiscal e estabilização da dívida”, afirma o documento da agência.
O mercado reagiu à perda de grau de investimento do país pela Fitch. O anúncio fez a moeda norte-americana ampliar a sua valorização em relação ao real nesta quarta-feira. Às 14h, o dólar comercial avançava 1,87% e era cotado a 3,948. O Ibovespa também acelerou as perdas após o rebaixamento da nota. Às 14h, o índice caía 0,67%, a 44.572 pontos.
A decisão chega um dia após o Planalto ter enviado ao Congresso uma proposta de uma nova redução da meta de superávit primário do próximo ano de 0,5% do PIB. No entanto, na prática, o aval também seria para permitir zerar a meta caso haja frustração de receita. A medida foi realizada a contragosto do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Logo após o anúncio do rebaixamento, Levy afirmou que é preciso “partir em defesa do Brasil e votar o que precisa ser votado e termos as receitas que precisamos”. O ministro classificou como séria a decisão da Fitch e afirmou que, no momento, o mais importante é focar na votação das MPs que darão suporte ao Orçamento.
O ministério da Fazenda divulgou uma nota dizendo que a pasta “reitera a confiança na capacidade da economia brasileira de retomar um ciclo de crescimento”. Apesar dos indicadores de curto prazo e da incerteza atual, o ministério reiterou que “a economia brasileira tem fundamentos positivos e sólidos”.
O Banco Central também se pronunciou e afirmou, em comunicado, que o rebaixamento “não altera o sentido ou a intensidade do ajuste macroeconômico em curso, que já demonstra resultados concretos”. Segundo o BC, o país “possui robustos colchões de liquidez para atenuar ajustes nos preços de ativos e para mitigar excessiva volatilidade no mercado. Esses colchões garantem uma sólida posição de liquidez internacional, visto que as reservas internacionais do país são cerca de dez vezes maiores que o estoque da divida soberana externa”.