por Andrea Nakane*
“Tudo caminhava, ou melhor, sambava para mais um marcante período, no qual o povo brincou à sua moda e brilhou na apoteose extasiante da felicidade.
Porém quase ao término desses momentos, a harmonia desandou, o samba atravessou e a cuíca, não mais ditou a marcação festiva, dando espaço para o tom da Vergonha Nacional.”
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Esses trechos foram retirados do texto Carnaval 2012: Catarse da Cultura Nacional, Festa da Economia e do Vexatório Vandalismo Isolado, também de minha autoria e publicado no Diário do Turismo daquele ano.
E agora em 2016, com as cenas capturadas em tempo real no momento da apuração do desfile das escolas de samba de São Paulo, do grupo especial, esse mesmo teor poderia ser publicado, sendo uma repetição absurda e vexatória que macula a imagem e reputação do espetáculo que há anos vem sendo construído pela cidade… mais uma vez.
Em 2012, a barbárie foi deflagrada pela a atitude inicial de um jovem vândalo, com pinta de bad boy, vestindo a camiseta de sua escola do coração, que furtivamente invadiu a área reservada e em uma ação agressiva arrancou das mãos da comissão organizadora, as últimas notas dos quesitos faltantes, rasgou e fugiu. Depois dessa cena de selvageria, a liga das escolas tomou atitudes e proibiu a participação das torcidas no momento da apuração, restringindo em no máximo 10 integrantes da mesma.
E em 2016, com essa estratégia, a cena de pancadaria, empurra-empurra ocorreu justamente entre os principais gestores das escolas que ficaram perplexos frente ao amadorismo e irresponsabilidade de dois pseudo-jurados que simplesmente não pontuaram a nota de determinados quesitos em suas avaliações.
As cenas mais uma vez dilaceraram o coração daqueles que de forma altruísta e abnegada dedicam-se a construir uma das mais lindas festividades culturais do mundo.
Descontrole emocional, violência, bate-boca, brigas, falta de diálogo, omissão e amadorismo… essas são as palavras que marcaram esse momento.
Descontrole emocional, violência, bate-boca, brigas, falta de diálogo, omissão e amadorismo… essas são as palavras que marcaram esse momento.
Vocábulos que não possuem nenhuma sincronia com o carnaval e a realeza do samba. É difícil a toda hora ter que levantar do chão, sacudir a poeira e dar volta por cima… a fantasia luxuosa, com brilho e esplendor reluzente vai se rasgando, se puindo, ficando sem luz… Por mais esforços que sejam concentrados, chegará um momento que a falácia impedirá o recomeçar…
Não se pode convidar irresponsáveis que nada sabem ou que de forma pernóstica acreditam que sabem de algo para assumirem papéis de julgadores em um torneio cuja as emoções e a vibra de comunidades passionais por suas agremiações estão envolvidas.
Não é possível partir para truculência, cabeça quente só irá trazer mais dissabores e nada contribui para a resolução de problemas.
E parafraseando outro artigo, também de minha autoria, publicado aqui:
“O Carnaval passa, mas suas atitudes sempre serão lembradas e cobradas. Não seja um destaque sem brilho. Seja um bamba do jubilo e não um transgressor, que será excluído do grupo. “
São Paulo perdeu pontos, o Brasil perdeu pontos… e mais uma vez o povo incrédulo assistiu a uma encenação da vida real que não representa a maioria de bem que vê no Carnaval, mais que uma expressão cultural de amor e alegria, vê muita dignidade e brasilidade na irmandade musical que o samba representa.
Tomara que no ano que vem o teor do artigo seja outro, totalmente diferente e muito mais poético e pacífico.
Gentileza Gera Gentileza. Já a Baderna… sabemos o que gera!
*Andréa Nakane é carioca, professora universitária e diretora da Mestres da Hospitalidade