(Valor Econômico) Os desdobramentos da Operação Lava-Jato complicam a formação de consórcios para a disputa dos próximos leilões de aeroportos. Pelo menos duas grandes operadoras europeias afirmam reservadamente que, embora estejam interessadas em participar, têm encontrado dificuldades para fechar parcerias com construtoras brasileiras.
Nos bastidores, as operadoras estrangeiras alegam que há “risco reputacional” em fazer uma sociedade com empreiteiras investigadas na Lava-Jato. Uma delas teme a necessidade de dar explicações a acionistas minoritários e impacto negativo em suas emissões de títulos no mercado financeiro. Outra cita o temor de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), uma das principais fontes de financiamento das concessões, venha a travar desembolsos para consórcios com envolvidos na operação policial.
A área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) já fez sua análise e recomendou a aprovação, com ressalvas, dos estudos de viabilidade técnica e econômica de quatro aeroportos que serão oferecidos à iniciativa privada: Fortaleza, Salvador, Porto Alegre e Florianópolis. O parecer foi encaminhado ao gabinete do relator, ministro Walton Alencar, que precisa colocar a matéria no plenário do órgão de controle.
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Os técnicos fizeram sugestões de ajustes que podem ter alguma influência nas taxas de retorno dos projetos e querem mudanças nos critérios de participação das operadoras. A Secretaria de Aviação Civil (SAC) propôs que todos os consórcios tenham uma operadora estrangeira com experiência na administração de aeroportos com movimento anual acima de 10 milhões de passageiros. Para o TCU, essa barreira de entrada é muito elevada em casos como o terminal de Florianópolis, menor entre os quatro a serem leiloados.
Na última rodada de concessões de aeroportos, que transferiu ao setor privado o Galeão (RJ) e Confins (MG), houve várias “dobradinhas” de operadoras europeias com empreiteiras nacionais. A espanhola Ferrovial, dona do aeroporto de Heathrow (Londres), se aliou à Queiroz Galvão.
O grupo francês Aéroports de Paris (ADP) entrou na disputa com a Carioca Engenharia. A também espanhola Aena, maior operadora do mundo em número de terminais, desistiu na última hora, mas tinha uma parceria celebrada com a Engevix. O Flughafen Zurich participa como minoritário no consórcio, encabeçado pela brasileira CCR (que tem Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa no bloco de controle), que arrematou o aeroporto de Confins.
O governo tem incentivado as operadoras estrangeiras que relatam esses problemas a participar sozinhas dos leilões, sem unir-se às construtoras brasileiras, mas a possibilidade é remota. O excesso de burocracia e a falta de conhecimento do mercado são mencionados nas conversas como entraves. (VALOR ECONÔMICO)