Turismo profissional, a melhor arma contra picaretagem

Continua depois da publicidade

Nenhuma atividade econômica funciona à base de amadorismo. No entanto, algumas delas, devido às suas características e reduzidas barreiras de acesso, prestam-se à mistificação, e até à ilegalidade. São imensos os estragos provocados no Brasil nas áreas política e esportes, só para citar duas de maior visibilidade.

Fábio Steinberg*

O Turismo também virou terreno fértil para aventureiros. O glamour do setor somado à aparente facilidade de lidar com o assunto atrai um exército de “aprendizes de feiticeiros”. Eles parecem se multiplicar na medida em a crise econômica do país recrudesce, ceifando empregos e ocupações profissionais.

Veja também as mais lidas do DT

Como antídoto, não basta regulações de governos e iniciativas de autoridades do turismo, que quase sempre não possuem qualificação técnica mínima para entender as reais necessidades do setor.    

A exemplo de países mais bem-sucedidos, cabe ao setor privado, principal interessado, a iniciativa de não só atrair e incentivar a vinda de turistas, como zelar pela qualidade e profissionalismo dos serviços oferecidos em toda a cadeia de valor.

Na prática, este papel é desempenhado pelos Convention & Visitors Bureaux (CVBx). Nem sempre aparecem com este nome, como é o caso do New York & Co, Bologna Welcome, Cartagena Turismo, Choose Chicago, City of Geneva, Destination DC, Inspiring Denmark, Visit Orlando, London & Partners, Meet Puerto Rico, Tourism Rome, Go Israel, entre outros. Mas o objetivo é sempre o mesmo: aumentar o fluxo de visitantes, captar eventos nacionais e internacionais, e alavancar a economia do destino.  

O Brasil tem exemplos bem-sucedidos de CVBx, com destaque para a cidade de São Paulo. Com vocação para negócios, o foco principal é captar eventos que gerem não só hospedagem, mas consumo de serviços e comércio. No momento, o Visite São Paulo atua em mais 400 prospecções para eventos que deverão ser realizados até 2027. 

Estes resultados não são fruto do acaso. Sob a presidência vigorosa de Toni Sando, há uma equipe de 30 profissionais especializados e motivados. O trabalho é supervisionado por três Conselhos formados por executivos e associados: Curador, Administrativo e Consultivo.

Na mesma direção, a UNEDESTINOS, entidade que congrega os 38 CVBx mais importantes do Brasil, atua para cada vez mais representar o setor e qualificar seus profissionais.

Mas, como tudo na vida, alguém precisa pagar esta conta.

Ao contrário de destinos internacionais proeminentes, o Visite São Paulo não conta com financiamentos públicos. Depende de duas receitas. A primeira provém de 800 mantenedores de 60 segmentos, como bares, restaurantes, organizadores de eventos, transportadoras, aviação, agências de viagens, shopping centers, parques temáticos, teatros etc. Eles contribuem com valores entre R$300 e R$1.500 mensais. 

Mas a segunda e principal fonte é a taxa de hospedagem (room tax), algo que existe de forma obrigatória em todo o mundo. No Brasil o pagamento é facultativo, e há uma boa razão para isto. É que para se tornar mandatório seria necessária uma lei. A consequência pode ser uma arriscada intermediação do governo, e a experiência demonstra que o risco de ninguém mais ver a cor do dinheiro é grande.

A taxa não é nenhuma fortuna. Ao contrário. São valores ínfimos perto dos benefícios – entre R$ 3,90 a R$ 9,00 extraídos da diária, em função da categoria.   

Mesmo assim, dos 410 hotéis da cidade, pouco menos da metade está associada ao CVB. E o pior: com a crise econômica, há casos de hotéis que fazem economia burra ao não aceitar o repasse da room tax.

Afinal, é graças a este tipo de contribuição que o Visite São Paulo já capacitou 10 mil profissionais associados à recepção ao turista, como taxistas, manobristas, garçons, recepcionistas, concierges, entre outros.

Por isto, quando um agente comercial de um hotel aceita a exclusão desta contribuição em negociação de grupo ou evento – algo que chega a alarmantes 20% dos casos – deixa de colaborar com uma entidade que trabalha para ele mesmo. Ou seja, um tremendo tiro no pé!

O que cada um pode fazer para corrigir a situação? A indústria de turismo cumprir com sua responsabilidade financeira, e não se beneficiar às custas da contribuição de demais concorrentes. Dos viajantes e turistas, privilegiar hotéis que optam pela room tax.

Se todos cumprirem com a sua parte, ganha no final o turismo brasileiro.

* Fábio Steinberg é jornalista –
https://blog.steinberg.com.br

Publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Recentes

Publicidade

Mais do DT

Publicidade