por Eduardo Mielke*
Esta história que vou contar agora reflete muito mais do que o panorama do turismo nos municípios, mas algo mais preocupante: O nível da percepção sobre a atividade e sua política. E esta, é a pauta de hoje.
Sempre que faço um trabalho para verificar as chances que o turismo tem de se desenvolver em uma cidade, é sempre a mesma trilogia. Mesmo que seja recorrente, me chamou a atenção de como a atividade é entendida. Sua dinâmica, necessidades, condições e função dentro da economia municipal. Prefeitos e Secretários e Empresários de cidades pequenas ou grandes são muito parecidos neste aspecto. E esta preocupação se justifica pois impacta em cheio, das ações mais simples às mais complexas ao desenvolvimento do turismo com o mínimo de base.
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Ao conversar com as pessoas sobre possibilidades, vem logo a primeira da sequência. A clássica: “A minha cidade tem grande potencial para o turismo”. Elas a partir daí, sustentam isso com muito fervor e propriedade (no sentido restrito). Discorrem longamente sobre os atrativos naturais e culturais. Dão detalhes sugerindo até obras e intervenções que beiram o faraônico. Não as culpo, muito pelo contrário. Na realidade só expressam o quanto querem ter o melhor para sua cidade. Muitos deles acabaram de chegar da Disney ou Barcelona e tem a plena certeza que podem fazer o mesmo onde vivem. E por que não?
Em seguida vem o tradicional: “Mas, este potencial não é explorado”. Também ultra clássica, ela é dita acompanhada de uma certa melancolia temperada com um ar de indignação do tipo “se eu fosse prefeito faria tal coisa”. Normalmente, esta vem junto com a também corriqueira “o povo daqui não dá valor”, que por sinal traz à luz de como o patrimônio material e principalmente imaterial são percebidos como instrumento de experiência turística.
Quando mesmo que iremos começar falar seriamente sobre turismo como instrumento de desenvolvimento econômico no seu município?
Por fim, e para fechar a trilogia, vem o mais do mais do mesmo de sempre: “Falta divulgação”. Em outras palavras, faz-se uma ligação direta do próspero potencial à falta de propaganda. Como se esta última ponta fosse a solução para todos os problemas do turismo municipal. Por esta lógica, com o “marketing” (onde aliás, há um péssimo entendimento do que isto quer dizer) o potencial turístico seria explorado com a vinda de turistas que visitariam a minha cidade, trazendo “dinheiro novo”. Simples assim. Até romântico, não é mesmo?
Um horror. E tem ainda, em pleno 2016 instituições que ainda vivem de projetos de sensibilização da importância do turismo. Um penta horror. Passo mau. De novo, seguimos o mais do mesmo. Meio enjoado, me pergunto: Quando mesmo que iremos começar falar seriamente sobre turismo como instrumento de desenvolvimento econômico no seu município?
Este cenário muito me preocupa na medida que é uma realidade anterior do mínimo que se espera de um dirigente de turismo. Os argumentos característicos do senso comum sobre turismo já deveria ter ficado em 2006. Mesmo porque são contraditórios ao fato de que há hoje exemplos e técnicas disponíveis de cidades brasileiras (e sul-americanas) que prosperaram com o turismo como pilar da economia do município. Eu as estudei todas. E todas sem saber umas das outras seguiram os mesmos passos, que aqueles que escrevo nos posts desta Coluna do DIÁRIO DO TURISMO. Pense nisso.
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