por Andrea Nakane*
A XXXI edição dos Jogos Olímpicos de Verão foi finalizada no último domingo, com uma cerimônia que ressaltou toda a brasilidade da nação, misturando ritmos, cores e raças, demonstrando toda a pluralidade de riquezas patrimoniais, muito além de atrativos naturais do Brasil, já tão externados mundo afora.
O megaevento reuniu em seus dezesseis dias de competições 205 países, em 42 modalidades esportivas diferentes, muitas histórias de superação, determinação e resiliência.
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Foram distribuídas cerca de 983 medalhas e os próprios atletas brasileiros conseguiram pontuar uma média histórica de colocações no pódio, extravasando, ainda mais, o orgulho da torcida brasileira.
Medalha da Cidade
Porém há uma medalha que ainda precisa ser entregue e talvez seja a mais importante de todas, pois irá referenciar o resultado da união de mais de 200 milhões de brasileiros, com ênfase aos mais de seis milhões de cariocas, que de alguma forma contribuíram para a realização dos jogos icônicos, conforme pensamento de Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional.
A medalha que falta ser entregue tem como destino o peito da cidade que acolheu a primeira Olimpíada da América do Sul e entrou para a história dos jogos modernos: o Rio de Janeiro.
Cidade de contrastes mil, de uma beleza incomparável, que foi abençoada – de forma divina- com paisagens naturais de tirar o fôlego e com diversos atrativos culturais representativos de sua importância, desde a época em que abrigou a família real, no início do século XIX e vivenciou uma metamorfose urbana sem precedentes, alinhando-se com as cidades-divas do mundo e projetando-se como uma metrópole cosmopolita, que mesmo após o deslocamento de sua configuração como capital do Brasil não caiu no ostracismo e continuou ocupando seu lugar, já cravado no coração de todos.
Mal tratada por uma corja de políticos, sem eira e nem beira, a cidade manteve-se altiva e exuberante, mesmo com gestões fraudulentas e irresponsáveis.
Envolta em cenas de barbárie promovida pela violência incontrolável, a cidade manteve-se serena e seu povo, com um espírito leve e batalhador, continuava trilhando sua história, tendo a certeza de que não estavam sós…afinal não é qualquer espaço geográfico, que tem a imagem do Cristo Redentor de braços abertos, e independente da crença, abraça a todos, sendo até mesmo reconhecido como uma das novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno.
Quando recebeu a honraria de sediar os jogos olímpicos, em 2009 -o RJ, já tinha investido em quatro tentativas anteriores e sem sucesso -, demonstrava sua gana de chegar lá. E chegou, mesmo sendo considerada como uma espécie de azarão entre as demais candidaturas, representadas por Chicago (EUA), Madri (Espanha) e Tóquio (Japão).
Equipamentos novos
A cidade do RJ então transformou-se em um canteiro de obras para concretizar o audacioso projeto urbanístico e de mobilidade. Alguns equipamentos foram aproveitados do Pan 2007 e até mesmo da Copa do Mundo de 2014, porém muitas obras tiveram que sair do zero e em diversas ocasiões o carioca teve seu humor alterado… já que os engarrafamentos monstruosos tornaram-se companhia constante, sem direito a recusa.
Foram muitos os temores, desde a crise econômica, oriunda do estado e que poderia chegar ao município, até a epidemia de dengue e zika, que ganharam manchetes internacionais.
A insegurança mantinha-se na crista da onda e com as ameaças terroristas- cada vez mais eloquentes – o esquema de conclamar as forças armadas, prática comum desde 1992, somado a cooperação internacional, resultou no maior plano de segurança esquematizado para um evento no país.
Um tempo de paz reinou, se não de forma absoluta, foi muito próxima ao que almejamos, deixando um clima menos assustador e mais tranquilo.
“Carioca way of life”
O povo nativo da cidade com sua energia hospitaleira entrou no clima de festa e como excelente anfitrião que é, soube conviver com todos, dividindo seus espaços, suas alegrias e contagiando quem chegasse com seu “carioca way of life.”
Fez festa bonita na abertura, participou ativamente dos jogos, não só no parque olímpico, mas nos demais espaços montados, de forma democrática, para todos receber, sem preconceito, com total acessibilidade. Torceu de forma passional, ficou emocionado com as imagens de sua casa sendo apresentadas diariamente em todos os continentes.
Não se fez de rogado quando sua beleza foi compartilhada por todos e inchou o peito para dizer que mora na cidade maravilhosa, e que mesmo com tantas mazelas, que ainda precisa solucionar, fez questão de demonstrar que acredita no poder de sua transformação e que o seu futuro é agora.
Apesar dos pesares, viu sua imagem ser achincalhada por um jornalista deselegante que criticou uma das suas maiores lovemarks, o biscoito Globo e logo depois deu a volta por cima, pois a mesma reportagem incitou um número maior de visitantes a degustarem tal simplória iguaria carioca e até mesmo se apaixonarem por ela!
Autoestima
Um sentimento de vergonha, inicialmente, atingiu a cidade, quando o episódio de quatro nadadores norte-americanos espalharam uma história vitimada de violência que teriam sido alvos… porém, logo depois, desmascarados por órgãos públicos, também citados pelos atletas-pinóquios, como vilões dessa desonesta atitude, o alívio foi geral e rapidamente o humor novamente imperou, resgatando o clima festivo.
Muito se fala em legados da RIO 2016, mas o principal deles está relacionado a autoestima de seu povo, do orgulho que estamos sentindo de ter superado todas as adversidades e obstáculos para entregar ao mundo um evento de qualidade.
Lógico que falhas existiram, erros graxos foram cometidos, no que diz respeito a organização e planejamento, mas nada que pudesse comprometer drasticamente o saldo final.
Os esforços foram percebidos por todos, até mesmo pelos incrédulos e possibilitaram que o país atingisse um patamar de credibilidade e admiração mundial.
E o espetáculo não pode parar… logo, logo temos os jogos paraolímpicos e vamos novamente oferecer nosso melhor, afinal, o Rio de Janeiro continua sendo o que sempre foi: uma cidade maravilhosa, que supera todas as adversidades e hoje, mais que nunca, tem seus encantos reconhecidos por todo o mundo, fato que nos ajudará a promover o fomento de novos investimentos e na ampliação do fluxo de turistas, afinal não se encontra uma cidade medalhista de ouro facilmente no mapa mundi e nós temos o privilégio de tê-la aqui, em nossa morada.
*Andrea Nakane é educadora e diretora do Instituto Mestres da Hospitalidade