Andrea Nakane*
Sete de setembro, feriado nacional da Independência do Brasil e, em 2016, a data ainda contemplou a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos no Maracanã, Rio de Janeiro.
O espetáculo, mais uma vez, foi uma verdadeira celebração ao estilo carioca de viver, com direito a tradicional roda de samba, a praia em seu território de diversidade, com muito esporte, biscoito Globo e Mate Leão, emolduradas por um balé gingado de pura descontração em sintonia com a projeção mapeada, elemento vital na atualidade na composição cenográfica, sobretudo de megaeventos.
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A emoção- em nuances muito bem equilibradas – teve um dos seus mais eloquentes momentos a execução do Hino Nacional pelo maestro João Carlos Martins, que com sua genialidade musical, nos deu o melhor presente nesse dia tão cívico e simbólico para a nação, já que muitos brasileiros, sequer, lembravam da data, a não ser pela liberalidade de obrigações trabalhistas.
Isso sem falar, na performance surreal de Aaron Wheelz na megarampa que deixou todos sem fôlego, e que logo no início já deu o recado: nada é ou será impossível para quem acredita em sua própria força.
Amy Purdy em um dueto que ressoou a perfeita integração do ser humano com a tecnologia na transformação do cotidiano – para nosso bem viver – foi outro momento de impacto e de reflexão, tendo ao fundo, o som de Edu Lobo e Sérgio Mendes.
Mas é impossível falar da cerimônia sem citar a entrada da bandeira paralímpica, ciceroneada por crianças e familiares do projeto Botas para o Mundo, no qual a superação une os corações do bem, apoiando-se mutuamente e multiplicando sorrisos.
Marcelo Rubens Paiva, Vic Muniz, Flavio Machado estão de parabéns, souberam de forma muito consciente e criativa usufruir de um orçamento limitado, que assim como o espírito paralímpico, ressoou a máxima de que com determinação é sempre possível; e o impossível torna-se vocábulo de dicionário e não deve ser o companheiro do dia-a-dia de cada um de nós.
Tecer um discurso de igualdade em suas matérias e na prática ter uma atitude de desprezo com relação a esse histórico evento é ratificar que o desrespeito é marca singular de um sistema que tem cifras em vez de valores
Porém, a audiência de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo, acompanhando o início da trajetória esportiva de 170 países, aqui em nossa terra, representados por 4.500 atletas em performances disputadas em 23 modalidades, não contou com o apoio e sensibilidade das principais emissoras televisivas de canal aberto, que mantiveram sua ordinária programação em vez de cederem o espaço para a transmissão de um fato único, celebrante da vida, da união e da inclusão social.
Visão turva ganhou o pódium do dia
Tecer um discurso de igualdade em suas matérias e na prática ter uma atitude de desprezo com relação a esse histórico evento é ratificar que o desrespeito é marca singular de um sistema que tem cifras em vez de valores.
É esquecer da premissa que lhes forneceu suas concessões: sua função sócio-educativa, informativa e provedora de entretenimento de qualidade.
Muitos dirão que isso quase sempre é renegado a segundo plano, e realmente, temos que concordar, mas no dia que uma parcela significativa do mundo olhava novamente para nosso quintal, muitos brasileiros, sem acesso a uma comunicação justa e a sistemas comercializados de exibição, foram brutalmente mutilados no seu direito de emocionar-se e de apoiar o esporte paralímpico, que tem resultados muito acima dos números de medalhas, já que integra e gera acessibilidade a uma sociedade que mesmo desigual, torna-se justa ao abrir seus braços sem distinção.
E isso a gente não viu por aqui, por aí nas telinhas das emissoras… o desrespeito e uma visão turva ganharam o pódium do dia… tomara que seja algo efêmero e que respostas sejam dadas de forma a criar uma onda de maior civilidade… começando pelo quarto poder midiático.
É preciso saber viver e respeitar todos, sem exceção!
*Andrea Nakane é professora, palestrante, empreendedora e sócia do Mestres da Hospitalidade