Um novo capítulo nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos começou a ser escrito em Brasília. Nesta terça-feira, o recém-criado Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais reuniu 18 representantes dos principais setores da indústria nacional para discutir os impactos e estratégias frente ao anúncio de tarifas de 50% impostas pelos EUA sobre todos os produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto.
REDAÇÃO DO DIÁRIO com agências
Entre os nomes presentes à reunião, destacam-se Josué Gomes da Silva (Fiesp), Francisco Gomes Neto (Embraer), Ricardo Alban (CNI) e executivos de segmentos como máquinas, calçados, têxtil, siderurgia e energia. O encontro marcou o início das ações previstas pelo decreto que regulamenta a recém-sancionada Lei de Reciprocidade Econômica (Lei 15.122/25), considerada estratégica pelo governo brasileiro para reequilibrar relações comerciais e garantir proteção ao setor produtivo nacional.
Alta tecnologia e manufatura no centro das preocupações
A primeira missão do comitê é ouvir o setor empresarial para mapear os impactos diretos das novas tarifas. De acordo com a Secretaria de Política Econômica, setores que exportam bens de alta complexidade tecnológica — como aeronaves e máquinas voltadas ao setor de energia — são os mais vulneráveis, devido à dificuldade de reposicionar seus produtos em mercados alternativos. Em contraste, commodities e produtos básicos, com maior flexibilidade de comercialização global, devem sofrer menor impacto imediato.
A análise da SPE, publicada no Boletim Macrofiscal da última semana, aponta que o efeito no crescimento do PIB em 2025 tende a ser limitado, estimando um recuo de 0,4 ponto percentual no curto prazo. Ainda assim, setores específicos da indústria de transformação podem sentir perdas significativas caso não haja revisão ou postergação das tarifas impostas por Washington.
A atuação do comitê envolve também interlocução diplomática, com embaixadores participando ativamente das negociações, além da articulação com o setor privado para desenvolver contramedidas que possam minimizar prejuízos e preservar a competitividade da indústria brasileira.
Unidade e estratégia frente ao desafio internacional
O encontro de Brasília representa um movimento de unidade estratégica entre governo e setor produtivo diante de um cenário global desafiador. As próximas semanas serão decisivas para definir o tom da resposta brasileira à medida norte-americana, com possibilidades de retaliação comercial e intensificação de acordos bilaterais com outros mercados.
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