Por Paulo Atzingen (texto e fotos)*
I
Esta ave tomando luz na pedra
e o réptil que corre para trás da sombra
movimentam o dia na Ilha dos Martírios.
Tudo é sol e feixes de claridade
lavam o traço, o risco, o rasgo
sobre a laje da imprecisa idade.
II
Sei que piso sobre distantes eras
o rio abraça a rocha aqui e agora
esculpe-a e segue sua trajetória
criando formas e uma nova atmosfera
o que vejo hoje, não vi outrora.
III
Na placa entalhada vejo o Santo Graal
uma coroa de espinhos em forma solar
O manifesto esculpido com pedra mais dura
seria a fé dos tempos passados?
Ou uma declaração de amor a uma civilização futura?
IV
Estes símbolos riscados pelo antepassado
compõem o conjunto de um tempo inacabado
são marcas, são traços sobre o quartzito
silenciosos ecoam uma mensagem como um grito.
V
O que quer dizer este risco rupestre
É a pergunta da alma de todos no mundo
Viemos do pó de estrelas cadentes?
Somos um sopro do Espírito Santo?
Ou rude resposta de um erro celeste?
* São Geraldo do Araguaia, setembro 2025