segunda-feira, setembro 22, 2025
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Turismo de compras nos EUA desacelera em 2025 com alta do dólar e restrições

O turismo de compras nos EUA vive um momento de incertezas em 2025. Tradicionalmente impulsionado por consumidores estrangeiros — especialmente brasileiros —, o setor sente os efeitos de um cenário econômico desfavorável, agravado por políticas mais rígidas de imigração, novos custos burocráticos e a valorização do dólar.

POR LUCIANA ROSA, de Nova York
Edição do DIÁRIO DO TURISMO

A experiência de viajar para consumir produtos americanos, antes vista como sinônimo de vantagem e acesso a itens exclusivos, agora exige planejamento, escolhas mais racionais e, sobretudo, disposição para lidar com uma realidade mais cara e restritiva.

O turismo internacional sempre foi um motor econômico fundamental para o varejo americano. Em 2024, os visitantes estrangeiros deixaram US$ 181 bilhões em solo norte-americano, segundo o World Travel & Tourism Council (WTTC). Mas, em 2025, esse número deve cair para menos de US$ 169 bilhões — uma retração de US$ 12,5 bilhões. A tendência de queda é confirmada pelo Congressional Research Service, órgão ligado ao legislativo dos EUA, que projeta uma diminuição de 5% tanto no número de turistas quanto nos gastos em viagens internacionais.

Esse recuo é atribuído a uma combinação de fatores. As políticas de fronteira mais rigorosas, a crescente percepção negativa do país no exterior, o câmbio desfavorável e o aumento dos custos com hospedagem têm afastado turistas em geral — e impactado diretamente o turismo de compras nos EUA. Para agravar ainda mais o cenário, está prevista para outubro a implantação de uma nova taxa de visto, o visa integrity fee, no valor de US$ 250, que afeta países fora do programa de isenção — como o Brasil.

Brasileiros continuam viajando, mas comprando menos

Apesar do cenário, o Brasil continua entre os principais emissores de turistas aos Estados Unidos. Dados da agência Viva América revelam que, no primeiro trimestre de 2025, o Brasil foi o 4º país que mais enviou visitantes aos EUA, com quase meio milhão de brasileiros desembarcando por lá — um crescimento de 5% em relação ao mesmo período de 2024. Ainda assim, a palavra de ordem é moderação.

Em destinos populares como Orlando e Miami, as compras seguem no roteiro, mas o volume diminuiu. A alta do dólar, que chegou a se aproximar de R$ 6, somada ao aumento do IOF sobre transações internacionais, reduziu o poder de compra dos brasileiros. Antes focados em eletrônicos, roupas de grife e enxovais completos, os turistas agora priorizam promoções, itens essenciais e experiências mais econômicas.

Outlets ainda atraem, mas exigem planejamento

Centros de compras como o Jersey Gardens, em Nova Jersey, e o Woodbury Common, ao norte de Nova York, continuam a atrair brasileiros. Mas até mesmo os viajantes mais acostumados com o circuito de compras têm repensado suas estratégias. Katlyn Bomfim, de Franco da Rocha (SP), que revende produtos no Brasil, afirma estar em dúvida sobre manter a frequência das viagens. “Com o dólar alto e o aumento do custo das passagens, tudo precisa ser mais bem calculado”, conta.

Em Orlando, a queda no fluxo de turistas brasileiros também é sentida. Henrique Alves, proprietário da USA Turismo, empresa especializada em transporte para outlets, relata uma diminuição de 15% na demanda nos últimos meses. “Os brasileiros ainda são nosso principal público, mas estão mais cautelosos.”

Compras à distância crescem como alternativa

Diante dos desafios do turismo de compras nos EUA, muitos brasileiros têm optado por alternativas digitais. A personal shopper Verônica Tasar, que atua em Orlando, percebe uma mudança no perfil de seus clientes. “Tenho cada vez mais brasileiros que nunca pisaram nos EUA, mas compram comigo via Instagram e recebem os produtos no Brasil”, diz. Entre os itens mais requisitados estão eletrônicos, cosméticos, suplementos e brinquedos importados — produtos difíceis de encontrar no Brasil ou com preços muito elevados.

A consultora Vanessa Klein, especializada em enxovais de bebê, também observa uma mudança: “As famílias estão investindo menos, focando em kits menores e mais funcionais. Ainda há procura, mas a temporada presencial encolheu.” Ela organiza desde visitas personalizadas às lojas até o envio de produtos diretamente para o Brasil, com gastos que variam de US$ 3 mil a US$ 10 mil por enxoval completo.

Um cenário de adaptação e expectativa

O futuro do turismo de compras dependerá da evolução do câmbio, da política de imigração americana e da confiança do consumidor estrangeiro. Para os brasileiros, o sonho de comprar nos EUA continua vivo, mas cada vez mais adaptado às novas realidades. O que antes era impulso, agora é estratégia. E, mais do que nunca, o desejo de consumir está mediado pelo desafio de viajar.

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