No coração da Mata Atlântica, a gerente geral Gabriela Cardozo nos recebe no Hotel Fazenda Morros Verdes Ecolodge para contar a história do empreendimento, as iniciativas de sustentabilidade, cultura e projetos futuros. Em uma conversa detalhada, Gabriela revela como o hotel se tornou referência em turismo ecológico e experiências de imersão na natureza.
Entrevista por Denis Rugeri, do DIÁRIO

Como surgiu a ideia do Hotel Fazenda Morros Verdes Ecolodge?
A ideia do Ecolodge nasceu da vontade da família Haberkorn de deixar um legado. O Sr. Ernesto Haberkorn, fundador da TOTVS, vendeu a empresa e buscava um novo projeto.
A Patrícia, filha mais velha, queria criar um espaço de conexão. Ela havia estudado Medicina e feito uma transição de carreira de Recursos Humanos para algo mais voltado ao cuidado com as pessoas.
Os outros filhos também tinham vocações distintas, como o Alexandre, que sempre trabalhou com meio ambiente e sustentabilidade. Os três filhos se juntaram ao pai para encontrar o lugar ideal. Patrícia descobriu uma área degradada — justamente porque queriam recuperar o espaço, não ocupar algo pronto.
Compraram a primeira propriedade e, com o tempo, foram adquirindo outras áreas ao redor, que também tinham manejo de gado. Desde o início, a intenção foi criar um lugar que conectasse pessoas com a natureza, o esporte e alimentação saudável, pilares que continuam sendo prioridade no Ecolodge.

Capacidade do hotel e eventos
Hoje, temos capacidade máxima para 160 hóspedes e oferecemos também a opção de Day use. Como o hotel possui 300 hectares e 43 acomodações, mesmo com lotação máxima, a sensação é de amplitude. Dividimos atividades e horários, oferecendo muitas opções de programação. Assim, conseguimos atender bem todos, garantindo conforto e exclusividade.
Temos duas tirolesas gigantes, com 580 metros de extensão, que podem ser complementadas com trilhas, como a trilha das samambaias, passando por três pontos mágicos: a Cachoeira do Vale, a Cachoeira da Araponga e a Cachoeirinha do Sacia trilha da cachoeira. Além disso, contamos com academia, piscina climatizada, jacuzzi, sauna, arco e flecha, ginásio poliesportivo de padrão internacional e o lago para práticas como stand up paddle e canoagem.
Nos eventos corporativos, nos destacamos como referência em sustentabilidade. Somos uma empresa certificada pelo selo B, então já nascemos com a filosofia ESG. Grandes empresas, como Natura, Heineken, Boticário, Natural One e Shell, já realizaram eventos aqui, incluindo diretores internacionais.
Estar em meio à floresta agrega muito ao encontro, seja ele de vendas, lançamento ou reunião. Também oferecemos experiências diferenciadas, como jantar na Ípica ou festas no polo esportivo com DJ. Dessa forma, conseguimos atender tanto o público corporativo quanto os hóspedes de lazer, sem que uma experiência interfira na outra.
Projetos ambientais e relação com a comunidade
Nosso grande projeto ambiental foi o reflorestamento de 150 hectares de Mata Atlântica que estavam degradados. O Alexandre, filho mais novo do Sr. Ernesto, coordenou o trabalho com agrofloresta.
Primeiro, foi feita a recuperação natural e orgânica do solo, que estava muito degradado após pastagem de 400 cabeças de gado durante anos. Depois, iniciamos o plantio de mudas de Mata Atlântica no sistema de agrofloresta, combinando produção de cítricos, biomassa e árvores nativas.
É um processo mais lento, mas muito mais perene. Por exemplo, em geadas, árvores plantadas em agrofloresta ficam protegidas, enquanto árvores em monocultura sofrem danos.
A região foi escolhida por seu histórico como polo de agricultura orgânica. Hoje, pequenos agricultores enfrentam dificuldades para manter certificação e práticas sustentáveis, mas buscamos apoiar esses produtores, incentivando a continuidade da agricultura orgânica.
Em relação aos funcionários, 95% são do bairro próximo, muitas vezes em famílias inteiras — mãe, pai, filhos, tios, sogros. O bairro fica a 40 km de Ibiúna, e isso nos proporciona contato próximo com a comunidade.
Oferecemos treinamento e capacitação, aproveitando as características naturais dessas pessoas: hospitalidade, alegria e felicidade. Isso permite atender hóspedes acostumados com serviço de alto padrão. É gratificante, pois eles aprendem rapidamente e ajudam a compartilhar a cultura do interior.
Temos também um projeto de visitação que aproxima hóspedes da vida dos colaboradores. Alguns recebem os visitantes em suas casas, oferecendo chá da tarde, por exemplo. Temos vizinhos produtores, como o Tuia, que cria 600 galinhas. Levamos os hóspedes para acompanhar a ‘fuga das galinhas’, quando elas saem para se alimentar. Essas experiências fortalecem a conexão entre hóspedes e comunidade local.”

Iniciativas culturais e educacionais
Temos três projetos que unem cultura e sustentabilidade. Um é o Reveste, que transforma uniformes em roupas de brechó. Outro é o projeto Acorde, com aulas de canto para funcionários, estendido para apresentações em festivais. E temos a Biblioteca Ernesto Haberkorn, com títulos nacionais e internacionais.
A biblioteca começou com a doação de livros do Sr. Ernesto e da família, e hoje conta também com doações de hóspedes e apoiadores. A ideia é ampliar o acervo e reconectar as pessoas à leitura. É muito bonito ver jovens curiosos pegando livros e começando a ler — um convite para desconectar e ficar offline.
O projeto permite que hóspedes levem livros emprestados, com cadastro na recepção, por até 30 dias. Se não devolverem, há a opção de reembolso da taxa correspondente. Assim, o hóspede não se sente impedido de começar a ler.
Além disso, o lançamento do projeto incluirá a presença de uma escritora, entre outubro e novembro, para lançamento de seu livro, oferecendo uma experiência cultural única aos hóspedes presentes.
Sustentabilidade no dia a dia
O hotel precisa manter práticas sustentáveis para conservar a certificação. Nosso buffet, por exemplo, é caprichado, mas não exagerado em opções, evitando desperdício. Sempre temos três proteínas — peixe, frango e carne — em quantidades moderadas. O que sobra vai para a criação de porcos ou para compostagem, retornando como adubo para a horta.
O lixo seco é recolhido pela Cooperativa de Ibiúna. O hotel é zero plástico: garrafas Tetra Pak e sacos de papel. Fornecedores que trabalham com embalagens sustentáveis realizam logística reversa quando necessário. Tudo isso faz parte da filosofia ESG, incorporada desde o início do projeto.”


O futuro do turismo ecológico no Brasil
“Acredito que o turismo de natureza está passando por uma grande transformação. Antes, era ou luxo extremo ou turismo de ‘fazendinha’, com zoológicos. Hoje, os visitantes buscam experiências reais: dormir na natureza, ouvir pássaros, vivenciar fauna e flora de perto.
É um caminho sem volta, também ligado à saúde. Caminhar em trilhas, respirar ar puro e se reconectar à natureza faz parte de um estilo de vida saudável.
O hotel participará do Congresso de Medicina do Estilo de Vida no Espírito Santo, mostrando que estar em contato com a natureza é essencial para qualidade de vida. O futuro do turismo sustentável é a emoção que a pessoa sente ao se aproximar da natureza, sem necessidade de luxo, mas com conforto e conexão.”
Sobre o Sr. Ernesto Haberkorn
Ele é incrível. Fundou a Microsiga em 1964 e trouxe a ideia do computador para o Brasil. Criou o primeiro curso de computação do país, sempre à frente do tempo. Com mais de 80 anos, continua estudando, desenvolvendo e fundando empresas.
Trouxe a primeira usina solar privada do Brasil há 12 anos, construiu chalés sustentáveis sem geração de resíduos, usando biodigestor, fossa séptica, captação de água da chuva e tratamento adequado antes mesmo do conceito ESG existir.
Sempre quis que a fazenda fosse um espaço para esportes, alimentação saudável e conforto. Hoje, mora em São Paulo com a esposa, mas visita a fazenda. Patrícia é CEO, Alexandre cuida da sustentabilidade, Daniela da ambientação, e todos contribuem de forma conjunta.”


Planos futuros
Queremos alcançar excelência em tudo que oferecemos. Algumas trilhas serão adaptadas para acessibilidade, permitindo experiências para hóspedes com dificuldades de locomoção ou sensoriais.
Queremos integrar arte e natureza, com galerias, festivais, música, dança e teatro. Os funcionários já têm aulas de coral, e poderão se apresentar tanto no hotel quanto em escolas da região.
Também desenvolvemos o projeto Reveste, transformando uniformes em roupas de brechó, reduzindo impacto ambiental e permitindo que funcionários mantenham sua individualidade no modo de vestir. O lançamento oficial será em breve, e o projeto já está em execução, com compras de roupas em brechós e produção de material audiovisual.”
Experiência dos hóspedes e plantio de mudas
Quando o hóspede chega, sente como se tivesse viajado horas e se embrenhado na floresta. Andar entre árvores, ver cachoeiras e rios é marcante.
Temos o programa de compensação da hospedagem, em que hóspedes podem plantar mudas de árvores. Elas ficam sob nossa responsabilidade e, conforme o hóspede retorna, pode acompanhar o crescimento da sua muda. É uma forma concreta de criar conexão com o meio ambiente.


Hotel Fazenda Morros Verdes Ecolodge
- Estr. Terra Boa, S/N – Ibiúna, SP, 18150-000
- Telefone: (11) 91557-2696
- https://www.fazendamorrosverdes.com.br/
- https://www.instagram.com/hotelfazendamorrosverdes/
O Diário viajou a convite do Hotel Fazenda Morros Verdes Ecolodge