Na tarde desta segunda-feira (30), o Encontro Fluminense da Federação Brasileira de Hotelaria e Alimentação (FBHA), realizado em Paraty, foi palco de uma reflexão profunda sobre o papel do turismo na regeneração dos territórios. A palestra “Autenticidade no turismo como diferencial estratégico: como valorizar o patrimônio cultural aplicando o design regenerativo”, conduzida por Luciana De Lamare, provocou um mergulho nas possibilidades de um novo futuro para a indústria da hospitalidade.
por Paulo Atzingen, de Paraty – Eric Afonso (fotos)*
“Design regenerativo não é apenas um conceito ou uma metodologia. É uma prática de reconexão — com a natureza e com nós mesmos”, afirmou Luciana logo no início da apresentação. Cofundadora e presidente do Instituto Aupaba e representante do hub Regenerative Tourism RJ no Inner Development Goals (IDG), a especialista trouxe à tona uma abordagem que une sensibilidade, ciência e estratégia.
Da Sustentabilidade ao Regenerativo
A palestrante relembrou o caminho trilhado pela sustentabilidade e os desafios enfrentados quando se tenta inseri-la em contextos puramente comerciais. “Lembram quando tudo virou ‘sustentável’ e os preços subiram 30%, 40%? Achávamos que isso bastava para transformar o mundo”, provocou. Luciana destacou que, apesar das boas intenções, a lógica comercial desassociada do território e de suas realidades acaba (muitas vezes) por esvaziar o potencial transformador da sustentabilidade.
Pensamento Sistêmico e Transição Justa
Ela explicou que o design regenerativo parte do indivíduo para o coletivo, propondo uma jornada que envolve três tipos de pensamento: o futuro, o sistêmico e o exponencial. “Não podemos planejar territórios e vidas sem considerar tudo o que os compõe — inclusive os problemas. O regenerativo nos convida a enxergar com neutralidade e responsabilidade”, pontuou.
Luciana ressaltou que a intervenção territorial por meio do turismo deve ir além da instalação de serviços. “Não estamos apenas gerando empregos. Estamos estruturando vidas. E o turismo é uma das poucas ferramentas que pode viabilizar uma transição energética e econômica justa”, explicou, mencionando também os impactos da aviação e a necessidade de repensar o setor como vetor de soluções.
Escuta, Prototipagem e Participação
Durante a palestra, a especialista compartilhou um caso vivido no evento Climate Reality, em que um ambientalista finalmente reconheceu o turismo como parte da solução para a crise climática. “Fiquei especialmente satisfeita. Ver um ambientalista dizer isso nos dá esperança de superarmos a lógica exploratória e fomentarmos uma economia de preservação”, celebrou.
A palestrante também comentou sobre a importância de olhar para os dados com criticidade: “Dados podem ser manipulados. Precisamos ir além das estatísticas e ouvir o que as comunidades realmente precisam”. Nesse ponto, ela apresentou a Teoria da Mudança como uma ferramenta prática de transformação, explicando como a escuta ativa e a adaptação constante moldam soluções reais e duradouras.
“Projetos que escutam, que prototipam, que se adaptam — esses sim geram impacto. Não entregamos pacotes prontos. Entregamos processos vivos, moldados por quem vive o território”, analisou Luciana.


Não só interesses comerciais
Segundo ela, a solução para um problema reside intrinsecamente na análise de suas causas. “Uma decisão não deve ser motivada unicamente por interesses comerciais, como a busca por resultados quantitativos ou a geração de impactos não avaliados de forma precisa. Estamos vivenciando um momento em que a análise de dados é crucial, mas é importante reconhecer que esses dados podem ser sujeitos a alterações e manipulações, dependendo da fonte”, pontuou.
*O jornalista Paulo Atzingen e o fotógrafo Eric Afonso viajaram a convite da FBHA
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