No segundo dia de experiências neste paraíso conhecido como Arquipélago Fernando de Noronha, fizemos o passeio de escuna pelo Mar de Dentro e passamos por várias ilhas desgarradas da parte maior de terra, o que prova que aqui é mesmo um arquipélago. Paramos por 40 minutos ao largo da Praia do Sancho — considerada em pesquisas de opinião pública como a mais bonita do Brasil – e ouvimos o rugir do Leão, curioso fenômeno do mar que entra em uma fenda nas rochas marítimas e cria um eco que lembra o rugir do rei das selvas.

por Paulo Atzingen, de Fernando de Noronha*
O passeio é perfeito para quem ainda não conhece a ilha em sua totalidade e oferece avistamento de golfinhos, tartarugas marinhas e a bela dança de aves aquáticas rodeados por um mar ora cor turquesa, ora da cor esmeralda, exuberantes. Embarcados na escuna Só Deus VII, conversamos com o guia de turismo Salomão Azevedo, da Luna Tour, e com o concierge da Noronha Tour, Nicholas Seraphim, que compartilharam suas visões e experiências na ilha.
Guia credenciado e concierge turístico
Salomão Azevedo é guia credenciado da Luna Empreendimentos, uma das empresas mais tradicionais da ilha, com cerca de 30 anos de atuação. “A Luna é da família de Milton Luna. Ele era comandante quando era menino novo e hoje é integrante do Conselho da Ilha”, conta Salomão, mostrando a profundidade da relação da empresa com a história local. Quem opera o passeio é a Escuna Noronha.
Por sua vez, Jefferson Nicholas ressalta a longevidade e importância da Noronha Tour: “Trabalhamos com turismo aqui há mais de 30 anos. Desde o início da atividade turística na década de 1980, oferecemos experiências como essa, que fazem uma verdadeira extensão do arquipélago pelo mar.”

O Roteiro: Do Porto de Santo Antonio à Ponta da Sapata
A escuna parte do porto de Santo Antônio e segue por um roteiro passando por várias praias do Mar de Dentro, em outros termos, a costa voltada para o continente. Nesse percurso, os turistas se maravilham com a paisagem. Foi um dia de poucas nuvens e sol pleno e as praias vinham em sequência: Praia do Cachorro, do Meio, da Conceição, do Boldró, do Americano, do Bode, até alcançarmos o principal cartão postal da Ilha, o Morro Dois Irmãos. Depois paramos cerca de 40 minutos em frente à Praia do Sancho para um mergulho. Seguimos viagem para a Baia dos Golfinhos e lá avistamos dois ou três da espécie rotadores – aqueles que rodopiam no ar e fazem a alegria de quem consegue vê-los, mas eles foram muito rápidos em sua aparição, impossível fotografá-los. “Hoje, mesmo com o mar um pouco mexido, conseguimos avistá-los, o que torna o passeio ainda mais especial,” diz Salomão.



Rugido do Leão
O passeio segue até a Ponta da Sapata, marco geológico da ilha. Antes passamos pelo Rugido do Leão, um fenômeno inacreditável criado pelo fluxo das mares no estômago de um penhasco (confira o vídeo acima).
Durante o trajeto, Salomão narra os dados geográficos e políticos de Fernando de Noronha, abordando desde a formação geológica da ilha até os períodos de ocupação por militares, época que aqui teve um presídio e foi usado para tirar de circulação adversários políticos. “Muita gente chega com a dúvida: por que a ilha pertence a Pernambuco e não ao Rio Grande do Norte?”, ele conta a história:
Um presente da Coroa
Segundo Salomão, a resposta está na história colonial: “A ilha foi presenteada pela Coroa Portuguesa a Pernambuco, porque Fernão de Noronha, que financiava expedições ao Brasil, recebeu o território mas nunca o ocupou. Mais tarde, o governo português transferiu formalmente a posse a Pernambuco.” Ele lembra que, na década de 1970, o então governador Miguel Arraes reabriu essa discussão ao afirmar que “presente não se tira”, consolidando a soberania pernambucana sobre Noronha.
Conforto e Segurança
A bordo do Só Deus VII, conforto e segurança são regras. Com 36 metros de comprimento e 29 metros de convés, o saveiro possui capacidade para até 177 passageiros, mas, conforme Salomão explica, “por navegar em uma área do Parque Nacional Marinho, operamos com duas autorizações e podemos embarcar no máximo 100 pessoas — geralmente até menos, para garantir conforto e exclusividade”, quantifica.

Noção geográfica e histórica
Nicholas acrescenta que os grupos são planejados com cuidado: “A Noronha Tour trabalha com uma média de 25 a 30 passageiros por saída, mantendo um padrão de atendimento personalizado e primando pela informação correta.”
Ainda, segundo Nicholas, esse passeio é ideal para quem chega à ilha: “Recomendamos que seja feito logo nos primeiros dias. Ele dá uma noção geográfica e histórica completa de Noronha, facilitando a escolha de outros roteiros e proporcionando ao visitante uma sensação de familiaridade com o território.”
Além da escuna, o concierge da Noronha Tour recomenda o passeio terrestre conhecido como Ilhatour: “Com esses dois, o turista já se sente mais seguro, mais autônomo, e pode explorar a ilha com consciência e responsabilidade.”

SERVIÇO:
NORONHA TOUR
ESCUNA NORONHA
*O jornalista viajou convidado pela Associação de Pousadas de Fernando de Noronha (APFN)
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