Um dos mais representativos espaços turísticos e, ao mesmo tempo, literários de Salvador é a Casa do Rio Vermelho, antiga morada de Jorge Amado e de Zélia Gattai, hoje vinculada à Secretaria de Cultura e Turismo do Município de Salvador e localizada na rua Alagoinhas, nº 33, no Rio Vermelho.
A visita à casa onde os escritores viveram a partir de 1960, e que conserva parte do acervo de ambos, corresponde a uma das tendências contemporâneas de passeios turísticos, aquela que busca atrativos literários, como os museus-casas de escritores, os hotéis e os restaurantes frequentados por eles, os monumentos e os eventos realizados em sua homenagem e as localidades pelas quais seus personagens transitam.
Na entrada da Casa, os turistas e leitores são recebidos no jardim, onde encontram dois espaços: “Jorge e o Candomblé”, que indica a religiosidade do escritor, e “Roda de conversa sobre Jorge Amado”, que oferece ideias sobre o seu processo de criação do dono da casa, por meio de depoimentos em vídeo de diversos visitantes ilustres.

Ambientes integrados
Em seguida, turistas e leitores chegam à sala de estar, ao escritório e à sala de jantar, ambientes integrados e envolvidos por xilogravuras, pinturas, esculturas e peças de cerâmica de diversos artistas. No cômodo seguinte, o quarto de hóspedes, notam-se as trocas intelectuais com os diversos amigos que frequentavam a casa. Na cozinha, estão à disposição as receitas da moqueca, da cocada, do quindim, das delícias descritas nos romances.
Nesse diálogo entre o turismo e a literatura, o que chama a atenção ainda na casa é a sala de leitura. Trata-se de um espaço de projeção de uma sequência de vídeos, exibindo variados excertos das obras de Jorge Amado interpretados por diferentes atores e cantores.
Na biblioteca, livros para crianças, autobiografias de Zélia Gattai e a história do internato de Sergipe, de onde Jorge Amado fugiu, mas onde teve o contato com a literatura de cordel, que o influenciou em obras como Tereza Batista Cansada de Guerra, em cuja edição encontram-se xilogravuras de Calazans Neto.
No “Ateliê de Zélia”, revelam-se seus cadernos de viagens, de receitas e de costuras, demonstrando outras de suas atividades, além da escrita, e sua fluência em diferentes idiomas.
Nesse ponto, não há como não se levar em conta que A Casa do Rio Vermelho é também o título, de um dos livros de memórias de Zélia e que, portanto, incita correlações entre os dados que os turistas e leitores encontraram na obra e a visita à própria casa, quando se pensa em termos de experiência cultural na destinação de uma viagem.
“Em outubro de 1961, assinamos, finalmente, a escritura de nossa casa na Bahia, localizada à rua Alagoinhas, bem no alto de uma ladeira, no Rio Vermelho. Ela pertencia a um pianista suíço, Jean-Sebastian Brenda, contratado pela Universidade da Bahia para ensinar no Seminário de Música. […] Descobrimos também uma coisa bonita – coisa que nos agradou –, a casa tinha nome, um nome poético: Sonata.”
Um passeio turístico e literário permite que os visitantes entrem em contato com o universo dos autores, quando conhecem as localidades onde suas obras foram desenvolvidas e, ao mesmo tempo, ampliem a sua visão sobre o patrimônio material e imaterial da cidade.

Projeto Rotas Literárias
Tratando-se de uma inovação turística em cidades como o Rio de Janeiro, por exemplo, com a implantação do projeto Rotas Literárias, da EmbraturLab, por meio do qual aplicativos podem ser baixados pelos visitantes em seus próprios aparelhos celulares, acessados por QR codes, para descobrirem os caminhos de Machado de Assis, a Biblioteca Nacional, o Real Gabinete Português de Leitura e a Confeitaria Colombo, dentre outros espaços, é possível que em um futuro próximo os passeios literários também se estendam em Salvador e em outras capitais.
Nessa perspectiva, o turismo literário poderá abrir caminhos para a conservação de espaços urbanos, cenários de obras de obras de ontem e de hoje, para a geração de empregos, formando guias de turismo especializados em temas voltados para a literatura, e, consequentemente, para a implementação de políticas públicas para o desenvolvimento do turismo local.
*Alberto Roiphe é professor de literatura da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e autor de Turismo Literário: sobre cidades e escritores, Folhas de Relva editora.