A diretora executiva da entidade aponta a nova era para os eventos, defende maior investimento em capacitação no turismo e afirma que a retomada já começou
POR ZAQUEU RODRIGUES
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No dia 27 de maio o turismo do Rio de Janeiro deu um passo importante rumo à retomada. Em um evento híbrido realizado no hotel Hilton Copacabana, o Rio Convention & Visitors Bureau lançou o seu novo material de divulgação da Cidade Maravilhosa. As informações foram desenvolvidas ao longo dos últimos meses sob condução da diretora executiva da Rio Convention, Roberta Werner, que assumiu a função em outubro de 2020.
O novo material inclui um novo mapa guia da cidade, que já começou a ser distribuído, show case com os principais atrativos da cidade, mais de 1,7 mil fotografias e dois vídeos promocionais, um para fomentar o turismo de negócios, outro para o turismo de lazer. Para Roberta Werner, esse conjunto de informações representa um passo fundamental para posicionar o Rio de Janeiro na vitrine mundial durante a retomada do setor de turismo.
“Hoje temos um material riquíssimo que nos permite trabalhar a conversão de eventos nacionais e internacionais e apresentar o Rio de Janeiro de forma completa. Quem não é visto, não é lembrado. Se a gente não mantiver a cidade na cabeça do turista, ele vai ser atingido por outro destino que tenha diferenciais competitivos”, ressalta a executiva, destacando a importância de produzir informações sobre o destino de modo permanente.
Grandes eventos com vacina
Roberta pontua que, segundo a prefeitura do Rio de Janeiro, a população está toda vacinada até outubro deste ano. “Essa é a nossa referência para impulsionar o turismo na cidade. A prioridade é construir um calendário robusto de eventos mês a mês. “Os grandes eventos, como Réveillon e Carnaval, são muitos importantes, mas não sustentam o setor de turismo o ano inteiro”.
Oxigênio
Ela lembra que o Réveillon e o Carnaval de 2020 seguraram o turismo carioca no ano passado. “O ano de 2020 só teve algum oxigênio por conta dos excelentes resultados do Réveillon e Carnaval, que pôde segurar um pouquinho as empresas. Nos outros meses, a maioria precisou fazer empréstimos. Outras não resistiram e fecharam”, lamenta ela.
A Rio Convention & Visitors Bureau projeta uma renovação nos eventos. O calendário da entidade reúne entre 150 e 300 eventos por ano. “Com a pandemia a gente aprendeu a fazer eventos em formatos diferenciados. Os eventos híbridos, por exemplo, são uma realidade. Os eventos do ano passado foram cancelados ou convertidos para o formato online. As empresas que puderam fazer investimentos nesse sentido foram muito assertivas”, avalia Roberta.
A executiva identifica, no entanto, que há um processo de saturação muito grande provocado pelo formato digital. “As pessoas já não aguentam mais estar em casa, não aguentam mais estar online. Para a geração de negócios, o get together, o olho no olho, é muito importante. E, muitas vezes, ele é insubstituível”, sublinha.
Para ela, o ideal é que os eventos online complementem os eventos presenciais. “Alguns vão continuar sendo online, mas eu acredito piamente que os eventos presenciais vão voltar. Eu torço para isso. A gente, como um grande fomentador de demanda para a cidade, precisa estimular a vinda de pessoas para o Rio”.
Nem irresponsável, nem negacionista
A diretora executiva do Rio Convention & Visitors Bureau diz não ser “irresponsável nem negacionista”, e afirma que a retomada já é uma realidade. “Eu acredito que a gente já vive uma retomada de alguma forma. Nos sites de buscas, o Rio de Janeiro é um dos destinos mais desejados”, aponta ela.
Quando o assunto é o turista estrangeiro, o cenário é outro. Nesse aspecto, diz Roberta, a retomada ainda não é uma realidade. “O Rio de Janeiro sempre paga a conta por tudo. A gente tem essa questão. Por ser prateleira, as boas e más notícias acabam caindo em nosso colo. Mas a gente mata no peito e vai embora”.
A realização da Copa América no Brasil, alvo de muitas críticas em função da gravidade da pandemia no país, é uma oportunidade para fazer do limão uma grande limonada, avalia a executiva. “Muita gente não sabe até que ponto realizar uma Copa América é saudável para a imagem do Rio de Janeiro. Mas, se existe vacina, se existe um cenário propício e protocolos de segurança, porque não sediar o evento de forma responsável?”
Roberta considera que o Rio de Janeiro tem todas as condições para receber um evento dessa magnitude de forma responsável e benéfica para o turismo. “Se a gente souber aproveitar essa oportunidade, a gente consegue sair muito bem na fita”, assegura.
Imagem
A conjuntura nacional representa um problema, ela diz. “Além da pandemia devastadora a gente tem uma crise política muito grande, e isso acaba reverberando em nossa imagem internacionalmente. Há uma polarização muito grande. Com as tomadas de decisões e esse desencontro político, a gente sofre as consequências”, alerta a diretora da Rio Convention.
Roberta afirma que o Rio de Janeiro, justamente por ser uma das principais portas de entrada do turista estrangeiro no Brasil, sofre um impacto muito maior em sua imagem devido às decisões tomadas nas esferas governamentais. “O que se vende lá fora, de notícia ruim a nosso respeito, vende-se o quê? O Rio de Janeiro”.
O trabalho realizado pelo Rio Convention nesse momento é para mostrar uma cidade que está de braços abertos para acolher a todos, explica ela. “O Brasil tem uma dificuldade muito grande de entender que é um país plural, com muita diversidade. Por ser uma grande referência, o Rio de Janeiro tem a responsabilidade de mostrar isso”.
Nesse sentido, ela ressalta que o Rio Convention & Visitors Bureau está fomentando o turismo religioso e o turismo LGBTQIA+. “Uma das prioridades em nosso plano de ação é trabalhar esses segmentos e promover a inclusão e a representatividade no turismo. Somos uma cidade que precisa abraçar a todos. A gente quer mostrar que o respeito existe. Essa é a comunicação que queremos fazer”.
Caminho
Em um momento de revisão de padrões, Roberta observa que um dos desafios do turismo é promover a capacitação. “São poucas as empresas que investem em formação profissional. A capacitação é fundamental, pois temos uma desigualdade muito grande em nossa sociedade, e isso atinge diretamente o turismo”.
Para a executiva, a relação entre turismo e educação precisa avançar muito. “Temos uma responsabilidade muito grande de investir na área acadêmica, e o governo de fomentar cada vez mais a formação profissional no setor”, ressalta. Para Roberta, o turismo é um instrumento essencial para combater a desigualdade. E o caminho para isso, aponta ela, é priorizar a educação. “A educação de base é crucial para o sucesso do turismo”.
Pois é Roberta Werner, infelizmente só a academia valoriza quem tem títulos acadêmicos. O mercado não valoriza…
Olá Elzário. boa colocação, no entanto, o que entendi na resposta da Roberta é que ela fala de educação de base, não na formação de doutores e mestres. Ela foi justamente no nó górdio do problema do país, um despreparo total na formação básica de profissionais (alguns inclusive com título de doutor). Se estávamos com deficit educacional, a coisa se agravará agora com grandes perdas qualitativas no ensino com o isolamento, a falta de internet, a dificuldade em estudar remotamente. É um país de iletrados, de operários presidentes a bufões mitológicos.