A Accor Américas declarou publicamente sua intenção de acabar com a prática de descartar pintinhos machos em sua rede de fornecimento assim que houver uma tecnologia que seja viável do ponto de vista comercial e econômico. Esse avanço contou com o apoio da Animal Equality Brasil, uma organização global focada na proteção de animais utilizados para consumo humano.
Segundo nota enviada ao DIÁRIO DO TURISMO, com essa medida, a Accor impactará diretamente cerca de 1.548.000 pintinhos machos apenas no Brasil e 3.053.379 em toda a América, tornando-se a primeira empresa do setor hoteleiro a adotar uma política deste tipo no mundo. A rede também se comprometeu a apoiar iniciativas governamentais que promovem o fim dessa prática cruel e a engajar stakeholders para facilitar o desenvolvimento e a viabilização de tecnologias alternativas, como a sexagem in-ovo.
“Na Accor, temos o compromisso de impulsionar práticas mais éticas em toda a nossa cadeia de fornecimento. Ao nos tornarmos a primeira rede hoteleira do mundo a estabelecer uma política para eliminar o descarte de pintinhos machos, não apenas reforçamos esse compromisso , como também buscamos estimular o progresso em todo o setor hoteleiro”, afirma Antonietta Varlese, Senior Vice Presidente de Comunicação e Sustentabilidade Accor Américas.
84 milhões de pintinhos descartados por ano no Brasil
Estima-se que 84 milhões de pintinhos machos sejam descartados vivos anualmente no Brasil. Isso ocorre porque os machos não produzem ovos e também não são considerados economicamente viáveis para a indústria de frangos, já que não possuem o desempenho e as características desejadas para a produção de carne. Dessa forma, os incubatórios vendem apenas as fêmeas para as granjas, descartando os machos, que no Brasil são triturados vivos e conscientes. No Brasil, o descarte desses animais pode gerar impactos ambientais graves, como contaminação do solo, da água e do ar, além de aumentar o risco de proliferação de microrganismos nocivos, que podem afetar tanto animais quanto humanos.
A tecnologia de sexagem in-ovo identifica o sexo do embrião ainda dentro do ovo, permitindo que ovos de embriões machos sejam retirados do processo de incubação. Países como França, Alemanha e Itália já implementaram leis para proibir o descarte de pintinhos machos. Na França, a prática foi banida em 2023, com investimentos governamentais de 10 milhões de euros para a implementação da tecnologia de sexagem in-ovo.
No Brasil, a Accor se junta a outras empresas, que já assumiram compromissos semelhantes, como Mantiqueira, Raiar, Korin, Planalto Ovos e AB Mauri. No entanto, o destaque da Accor está em sua atuação pioneira no setor hoteleiro, estabelecendo um novo padrão de responsabilidade corporativa.
“O compromisso da Accor é um marco histórico para a proteção dos animais explorados pela indústria de ovos. O descarte de pintinhos machos é uma prática cruel, e a decisão da Accor demonstra que as empresas têm o poder de liderar mudanças em direção a um futuro mais ético”, afirmou Julia Almeida, gerente de relações corporativas da Animal Equality Brasil.
Além de negociar compromissos com empresas, a Animal Equality também atua no campo legislativo. Com dois projetos de lei em tramitação (PL 783/24 e PL 410/2023), a Animal Equality visa garantir que a prática do descarte de pintinhos machos seja proibida em todo o Brasil. Em 2024, o PL 783/24 foi aprovado na Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade e agora aguarda aprovação em outras comissões.
A Animal Equality também lançou um relatório detalhado sobre o descarte dos pintinhos machos, expondo os impactos éticos e ambientais dessa prática. O relatório aborda a necessidade de se investir em tecnologias alternativas, como a sexagem in-ovo, e destaca os benefícios de sua implementação para o bem-estar animal. O relatório pode ser acessado no site da petição que a organização lançou para pedir ao Ministério da Agricultura que implemente um plano para incorporar a tecnologia da sexagem in-ovo e por fim à trituração no Brasil. Até o momento a petição já alcançou mais de 190.000 assinaturas.