A companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas iniciou um processo de redução de operações e de pessoal, preparando-se para uma possível privatização.
Entre as medidas, está a demissão de 13% da força de trabalho, o corte de rotas domésticas deficitárias e a remoção de lanches durante os voos, conforme informações obtidas pela Reuters, relatadas pela jornalista Kylie Madry.
A iniciativa faz parte de um plano do presidente Javier Milei para reduzir o peso da companhia aérea sobre os cofres públicos e atrair investidores privados, embora os esforços estejam sendo recebidos com forte resistência política e sindical. A empresa, um ícone com as cores azul e branca da bandeira argentina, se tornou um símbolo do desafio das reformas pró-mercado de Milei em um país acostumado à forte presença estatal na economia.
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Aerolíneas Argentinas: mudanças e controvérsias
O memorando interno obtido pela Reuters detalha os planos de simplificação da Aerolíneas para viabilizar sua venda. Uma fonte sênior da empresa confirmou que, em 2024, as medidas resultaram em resultados operacionais positivos. “Nosso trabalho é colocar a Aerolíneas em ordem”, destacou, acrescentando que a companhia precisa operar como suas concorrentes privadas para se tornar atrativa a futuros compradores.
Entre os ajustes, a companhia reduziu sua oferta de alimentos a bordo, o que gerou uma economia superior a 500 mil dólares anuais. Na classe executiva, agora é servida apenas uma sobremesa, enquanto na econômica, os passageiros deixaram de receber a tradicional barra de cereais.
Por outro lado, o cenário gerou forte mobilização sindical. Protestos em aeroportos resultaram em atrasos e cancelamentos de voos. “Nosso trabalho é a única arma que temos”, afirmou o piloto veterano Juan Pablo Mazzieri, que expressa seu amor pela empresa com uma tatuagem do condor andino, símbolo da Aerolíneas.
Planos de Privatização e Obstáculos
O presidente Milei reforçou que a Aerolíneas Argentinas não continuará sob controle estatal, afirmando que, caso a privatização não ocorra, a alternativa será seu fechamento. “Ou ela é privatizada ou será fechada. Não será mantida pelo governo”, declarou em entrevista a uma rádio local. Desde 2008, quando foi reestatizada, a empresa teria acumulado prejuízos de 8 bilhões de dólares.
O governo, entretanto, enfrenta dificuldades para aprovar a privatização completa devido à resistência no Congresso e à oposição de governadores, como o da província de Buenos Aires.
Possíveis compradores e cenário de venda da Aerolíneas Argentinas
De acordo com fontes, algumas companhias internacionais manifestaram interesse informal, sendo a holding Abra Group – responsável pela Avianca e Gol – a única a fazer declarações públicas sobre o assunto. No entanto, a empresa ainda conduz análises detalhadas antes de considerar uma proposta formal.
Analistas alertam que uma venda completa pode ser complicada e sugerem que um modelo de aquisição parcial, semelhante ao plano da Lufthansa com a italiana ITA, poderia ser mais viável. Outro possível cenário seria a venda da empresa aos funcionários, eliminando tanto o déficit quanto os embates sindicais, embora líderes de sindicatos rejeitem essa ideia.
Para muitos defensores, a Aerolíneas desempenha um papel social crucial em um país de vastas dimensões, onde rotas terrestres são limitadas e o transporte aéreo é essencial para a conexão entre regiões distantes. Porém, dados recentes indicam que a redução das operações levou a uma queda de 9% no volume de viagens domésticas.