Guia de Turismo é o profissional que o turista espera encontrar em sua viagem de férias, principalmente em países de línguas diferentes. Pode ser em excursões coletivas, mas muitos viajantes preferem serviço personalizado, sem compromisso com horário ou limitações de roteiros, com guias de turismo credenciados e conhecedores do lugar, da história local, das pessoas, e da cultura regional, principalmente em grandes centros culturais como Salvador, infelizmente desconhecido de boa parte dos próprios envolvidos com a indústria turística.
Além disso, hoteleiros e outros empreendedores dependem do bom trabalho dos guias de turismo para satisfazer o visitante, manter o fluxo e a sustentabilidade da cadeia produtiva do setor, mas, contraditoriamente, as instâncias do turismo de Salvador e Praia do Forte isolaram o turista dos guias de turismo profissionais e autônomos, colocando-se como intermediário entre eles. Se o turista não aceitar as caríssimas condições desta intermediação, resta-lhes o serviço informal de motoristas, parentes e amigos de agentes de viagem, recepcionistas que são obrigados a vender cooperativas de taxis, ou recepcionistas que vendem qualquer coisa pela comissão, sem a menor responsabilidade com a atividade, com as instituições culturais, religiosas e artísticas, ou com a sociedade.
A própria Secretaria de Turismo do estado autorizou uma empresa a explorar os guias de turismo em grandes eventos, a Check List Soluções, que também criou o ‘Monitor de Turismo’, filhos e protegidos de membros das instâncias do turismo que tomam o lugar dos profissionais da cidade. E isto com o aval e parceria do Singtur Ba, Sindicato de Guias de Turismo da Bahia, que determina quem trabalha e quem não trabalha, deixando de cumprir com suas obrigações de fiscalizar e proteger o trabalho de todos os profissionais que pagam impostos, ajudam a manter o Estado, e são responsáveis por receber, conduzir, informar, despertar o interesse pelos demais atrativos da região, e fomentar o turismo.
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As agências que dominam as recepções de hotéis de grandes redes hoteleiras, como Pestana, Othon, Sheraton, Deville, Vila Galé, Costa de Sauípe, Paladium, Iberostar, Tivoli, e outros pequenos e locais, como Monte Pascoal e Porto Belo, vendem serviços coletivos e limitados, como o Tour Panorâmico que mostra Salvador de 50 anos atrás. Agências de Salvador não levam o turista para passar um dia em Praia do Forte, em lugar nenhum se vende Recôncavo Baiano regularmente, e muito menos as instituições culturais da região, todas elas reclamando da falta de turistas, de incentivo, de ações das instâncias do turismo. Todos estes hotéis e o aeroporto da cidade proíbem a permanência e a oferta de serviços dos guias de turismo da região, mas autorizam cooperativas de taxis que passaram a considerarem-se os únicos autorizados e a hostilizar os guias profissionais e autônomos. Agências e taxis pagam comissões a gerentes que proíbem vender os guias de turismo!
O perfil da atividade mudou consideravelmente com o advento da internet e dos vôos econômicos, e muitas pessoas viajam por conta própria, mas, no aeroporto de Salvador, elas são obrigadas a andar de taxis! O posto de informação da Bahiatursa informa que é proibido indicar guias de turismo, conseqüência das altas taxas que as cooperativas de taxis pagam a Infraero, e que lhes dá o direito de monitorar o saguão do aeroporto e monopolizar a principal pista de embarque. Se uma pessoa faz uma escala em Salvador e quer um guia de turismo para passear, não tem, não pode! É muito amadorismo! Tem que haver espaço para taxis, sim, mas para guias de turismo com seus carros, e vans para famílias grandes e pequenos grupos, tanto no aeroporto como nos hotéis.
Nesse sentido, a maravilhosa recuperação da casa de Jorge Amado, transformada em museu e aberta ao público, já começa comprometida pelas limitadas excursões coletivas e pela limitação cultural de taxistas. No momento, é inimaginável as agências que dominam os resorts de Praia do Forte venderem esta possibilidade, assim como não vendem Cachoeira, Candomblé – que lhes empresta seus símbolos, mas é vítima do preconceito de evangélicos que trabalham no turismo! – a Mansão do Caminho, a Irmã Dulce, os maravilhosos museus, galerias de arte e antiquários da cidade, o Instituto Mauá, etc. Por causa dessa situação, Salvador tem perdido excelentes iniciativas culturais, como o Cinema 180’, e o espetáculo Som e Luz que era realizado na igreja de São Francisco.
Gestores públicos e privados prometem paraísos profissionais em Salvador e Praia do Forte, mas tratam turistas brasileiros e sul americanos como inferior, ignorando, principalmente, a língua espanhola, e a necessidade de atendimento profissional. Para esta gente, turista é quem fala inglês, francês, etc. Há oito anos o turismo de férias e o cultural, principais vocações de Salvador, cai no ranking nacional, o que afeta Praia do Forte, Morro de São Paulo e outros destinos, e há sérios problemas que levam a isto, mas as instâncias do turismo levam o governo, a mídia e a sociedade a acreditar que está tudo bem. Mas não está! A Bahia precisa voltar a explorar sua vocação turística.
*José Queiroz é guia de turismo especializado em Turismo Receptivo
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